Capítulo 1

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-Vamos por favor! Eu já comprei as entradas, Lolla. - Judy suplicava com as mãos juntas, enquanto Jake a imitava fazendo o mesmo gesto.

-É, pufavô! - me olhou com cara de cachorro que caiu da mudança. -Vamo com a Dudy.- nós achavamos uma gracinha ele pronunciando o nome dela assim.

-Eu não estou afim de sair hoje, olha o frio que está la fora. E para de influenciar o menino, Judith - disse a ela, observando minha amiga tremer ao ouvir o nome que tanto detestava.

Eles estavam há horas tentando me convencer a ir á um espetáculo de ilusionismo - também conhecido como mágicos idiotas tirando coelhos de cartolas- que teria no teatro da cidade. Mas eu, não estava nem um pouco interessada em sair de casa num frio daquele, pra ir ver essa baboseira.

-Louise- ela começou dando ênfase ao meu nome - Vamos, não seja uma rabugenta, o Jake vai amar, e tenho certeza que você também vai.

-Eu vou amá!- o pingo de gente começou a saltitar pela sala, e eu não pude deixar de me contagiar com sua alegria.

Pensei um pouco.
Ela ja tinha comprado os ingressos, não custava nada eu ir.
E Jake de fato iria amar.
Judith era uma boa amiga, a conheci há dois anos quando nos mudamos pra cá, ela também tinha se mudado há pouco tempo, e então rapidamente nos tornamos amigas. Sempre esteve ali por nós, quando precisávamos de apoio.

-Ta bom, vocês venceram. Vamos nos arrumar então.-disse por fim pegando meu irmão no colo e rodopiando ele pelo ar.

-Eu sabia! Sabia que você não ia resitir.- Judy fez uma dancinha de comemoração ridícula e por fim, foi pro seu apartamento se arrumar.

🌻

Ok, eu tinha que admitir, eu estava me divertindo muito. O show de ilusionismo não era nada do que eu estava esperando.

O teatro estava lotado. Era uma daquelas construções antigas, magnífico por dentro, tinha três andares, mas apenas o primeiro era ocupado pela platéia.

A cada número de mágica, eu nao acreditava no que meus olhos estavam vendo, Judy soltava gritinhos de empolgação, e a cara de surpresa que o Jake fazia era impagável.

E então, quando um homem falava ao microfone que dentro de alguns instantes nós veríamos o grande espetáculo da noite, o mais esperado por todos ali presentes...

- Mamãe, quero fazer xixi. - Jake disse se remexendo no meu colo.

Olhei pra Judy com aquela cara de "logo agora?", mas eu ia fazer o que?

-No segundo andar tem um banheiro enorme. Se quiser eu levo ele. - Minha amiga disse solícita.

- Não, eu levo. Pode deixar. Vou deixar minha bolsa aqui, fica de olho. - me levantei e subi as escadas rumo ao banheiro com Jake no colo.

Coloquei ele em pé no vaso, o segurando para ele pudesse fazer o bendito xixi, depois, arrumei sua calça e ajeitei o resto de sua roupa que havia bagunçado. Aproveitei que ja estava ali mesmo e me aliviei também, logo após, lavei as mãos para que pudéssemos voltar logo para a platéia.

-Vamos- peguei sua mãozinha, mas ele empacou no banheiro. -O que foi Jake?

-Cocô.

Ótimo. Só quem tem uma criança próxima, sabe que isso acontece nas horas mais inoportunas.

-Ai Jake, era só o que faltava. Nós vamos perder o resto do espetáculo, cara!- bufei, colocando as mãos na cintura.

-Anda, mamãe. -disse impaciente, fazendo um bico.

Ouvi gritos abafados vindo la de baixo, provavelmente a parte mais importante do show ja havia começado.

-Acabou, Jake?- perguntei entediada. Eu cobri todo o vaso com papel higiênico para que ele pudesse se sentar, e estava ali, com o nariz ardendo, esperando ele acabar de fazer sua "obra".

-Ainda não. Espera.- disse sem humor na voz, colocando força demais no R da última palavra. Como sempre fazia desde que aprendeu a pronunciar a letra corretamente.

Longe de mim apressar a criança nesse momento sagrado. Mas eu ja estava ali há mais de 5 minutos só esperando aquilo acabar. Já devia ter se passado muitos minutos que tínhamos vindo para o banheiro. Judy deve estar pensando que nos perdemos.

-Esse povo não para de gritar. O mágico ta fazendo o que? Surgir dinheiro nos bolsos da galera?- perguntei e Jake riu.

-Cabei.

-Oh glória. Finalmente né.- nós rimos, o higienizei, vesti novamente sua roupa, e então fomos lavar nossas mãos.

Estava ajeitando meu cabelo na frente do espelho, quando ouvi um barulho enorme. Perto da porta.

-Mamãe olha.- Jake disse assustado aprontando para a porta, e quando eu olhei, meu coração disparou.

Fumaça.
Fumaça entrando por baixo da porta.

-Ai meu Deus.- foi quando tudo pareceu fazer sentido. -Aqueles gritos então eram...- não consegui acabar a frase. Era a droga de um incêndio. Um incêndio. Fogo.

Coloquei minha mão na maçaneta da porta, e logo me queimei, estava muito quente. Tirei meu casaco e usei como proteção, abri um fresta da porta e tudo que vi foram labaredas no meio de uma fumaça densa. Fechei a porta novamente.
Sem chance de sair dali, seria suicídio sair sem nenhuma proteção. Mas o que eu iria fazer?

Olhei pro meu irmão, que estava vermelhos, com a boca tremendo, indicando que estava prestes a abrir um berreiro.

-Calma, meu amor. Tudo ficará bem, ok? Apenas se acalme.- disse a ele, e tentando convencer a mim mesma de tais palavras.

Agora a fumaça ja tinha adentrado um pouco mais no local, e eu precisava pensar rápido no que fazer. Procurei por alguma janela, mas nao tinha nada.
Jake começou a tossir, e eu imediatamente tirei seu pequeno moletom, o molhei na pia do banheiro, o colocando de volta logo após.

Fiz o mesmo com o meu casaco, e envolvi meu irmão no tecido molhado, colocando a manga sobre seu nariz, para que ele pudesse respirar sem inalar tanto aquela fumaça.
O peguei no colo, e fui para a última cabine do banheiro, para ficar o mais longe possível da porta.

-Eu to com medo.- Jake me abraçou forte, chorando.

-Eu sei, meu bem, mas eu não vou deixar nada acontecer com você, tudo bem?- ele fez que sim com a cabeça, e eu me perguntei, se seria capaz de cumprir aquela promessa.

Se eu ao menos tivesse trazido meu celular para pedir socorro. Mas ficou na bolsa. Que droga.
E Judy? Será que aconteceu algo à ela? Como teria acontecido esse incêndio tão rápido?

O calor era intenso. E ali, presa naquela cabine segurando meu irmão nos braços, orando a Deus para que mandasse alguem para nos salvar, me perguntei se aquele seria nosso fim. Depois de tudo que passamos. Jake tem apenas quatro anos. Ele não merece isso. Nós não merecemos.
Ja superamos tantas dificuldades, ultrapassamos tantos obstáculos.

Jake não se mexia mais, porém ainda respirava, e isso me tranquilizava um pouco. Porem, sentia minhas forças se esvaindo do meu corpo. As lágrimas rolavam silenciosas pelo meu rosto, e nos meus braços eu segurava tudo que tinha de mais precioso na minha vida.

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Oieeee!
Por favor gente, comentem e me digam o que estão achando da história.
Se tiver algum erro ortográfico, podem me avisar, tá?

A opinião de quem está lendo é muitíssimo importante pra mim, então comentem muito, e podem me mandar mensagens no privado também.
Beijos, e até o próximo capítulo. 🌻

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