Presságio

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Contando os dias para o desespero, erguemos a falsa verdade diante de um sonho virtuoso. Como um homem em busca de seus ideais, os sons de sua mente o destroem.
Joseph Steinberg, o homem que nunca via seu futuro. É cego, tem cabelos castanhos como avelãs torradas. A pele levemente bronzeada, seu semblante é como uma máscara, esconde várias faces e sentimentos. Nunca vivera da mesma forma. Sua altura é padrão para seus 22 anos. Um metro e setenta e cinco.
Perdeu a visão na infância, quando tinha apenas 6 anos de idade, mas, mesmo nesse dia, ele estava calmo e paciente.

Quinta-feira, 17 de julho de 2019.

Joseph mora sozinho, é acostumado a fazer as coisas em sua casa, deixada pela sua falecida mãe. Sabe onde tudo está e anda com facilidade.
Sua rotina é sempre a mesma, ele é um homem super organizado, precisa ser.
Ele é sustentado pelo dinheiro deixado por Janet, sua mãe. Ela sempre foi um exemplo de mulher, deixando tudo que podia para seu filho, que ela cuidava com tanto carinho. 
E não era muito, mas ele vivia bem, não precisava de muitos gastos. Simplicidade e paz, os paraísos de Joseph.
Ele ouvia sempre o que passava na televisão, mesmo que não enxergasse as coisas que aconteciam, ele gostava muito de ouvir.
Seus amigos o visitavam às vezes, já que Joseph era um bom ouvinte. —Alguém bate na porta, alarmando um barulho forte.
Era sua amiga, Alice.
— Vai me deixar esperando? Grita Alice, batendo na porta três vezes.
— Foi mal, não esperava visitas às dez da noite — responde Joseph abrindo a porta calmamente.
— Nem de uma amiga próxima? — Retruca Alice, adentrando a casa.
— Não espero ninguém a essa hora. Enfim, o que tá pegando?
— Melhor ir sentar logo, tem algo para beber? — Alice segue em direção a geladeira, procurando alguma bebida.
— Tudo bem, então. Tem sim. Um leite e um suco de laranja em caixa.
Enquanto os ruídos da televisão continuavam sendo ofuscados, e os dois sentavam-se para conversar. Alice conta os problemas que tem.
— Então... — Alice suspira fundo antes de continuar. — Lembra da nossa amiga de infância, a Hannah?
— Sim, vagamente mas lembro. O que tem ela? — Joseph indaga um tanto preocupado.
— Ela apareceu do nada quando eu estava no parque lendo algum livro sobre história, nem me lembro mais. Enfim. Ela disse que tinha algo importante pra fazer e precisava da minha ajuda. Em seguida foi perguntando coisas sem sentido, do tipo: você tem carro? Consegue sacar quinhentos dólares até sexta? E em seguida me mandou aparecer no cais ao leste da costa, por volta das oito da noite. — Enquanto Alice continua comentando, para e bebe um gole do suco. Percebendo que Joseph parecia confuso. — Enfim. Eu não sei o que fazer e você é a pessoa que mais confio desde sempre. O que sugere?
— Isso é tudo confuso. Principalmente a forma que ela falou. Ela parece desesperada e ao mesmo tempo calma.
— Como assim?!
— O jeito que ela exigiu. É como se ela tivesse feito isso antes, ela espera que você faça. A menos que...
— O quê?! — Assim que Alice pergunta, a campainha toca. — E ainda diz que não esperava ninguém às dez da noite. — Diz Alice rindo e se levantando para ir atender a porta.
Indo meio conturbada, Alice chega e fica parada em frente a porta. Trêmula. Sem reação, e ela não sabe o que fazer. — A porta se abre, um homem um tanto velho, não muito alto. Tem uma barba cinza e um pouco grande. Abriu a porta. Logo pergunta: Quem é você?
— Te faço a mesma pergunta. — Joseph logo aparece por trás dela e se desculpa. Mandando o homem entrar.
— Quem é esse, Joe?
— Meu pai.
— Oh, entendi. Desculpe a grosseria, só estava meio tensa.
— Sem problema. Também não esperava ver uma moça bonita por aqui. Meu pequeno Jojo finalmente arrumou uma namorada. — Diz o pai de Joseph levantando um sorriso no rosto.
— Ela não é minha namorada, pai. É uma amiga próxima. E desculpe, esqueci totalmente que ele vinha hoje para cá. Combinei de ir pescar amanhã cedo. — Diz responde a Alice agora.
— Sim, sim. Mas um bom pescador sabe que pode esperar, quando tem um peixe consigo. Pode ficar a sós com a madame. — Enquanto fala, o pai de Joseph sai rindo e dando pulinhos enquanto vai para o quarto.
Joseph e Alice então sentam na mesa da sala.
— Desculpa por isso.
— Tudo bem, seu pai é legal, Joe. Por que não fala muito dele?
— Bom... Ele ficou muito abalado com o que houve com a mamãe. Desde então eu faço companhia a ele. Principalmente pesca, ele adora isso.
— Você é um anjo, Joe.
Joseph dá um sorrisinho tímido, mas logo se recompõe. — Enfim. Ainda estou incomodado com a situação da Hannah.
— Eu também. Não sei o que podemos fazer.  — Logo retruca Joseph, levantando uma das sobrancelhas. — E se ela estivesse sendo vigiada?!
— Vigiada? O que quer dizer com isso?
— Bom... Ela parecia muito robótica falando aquilo. Sem expressões, só frases rápidas e diretas. Talvez ela estivesse em perigo. Lembra o que ela fez ao sair?
— Agora que você diz. Eu lembro que ela entrou num carro preto, como aqueles que o governo usa nos filmes. Mas não para dirigir, ela só entrou e ele logo foi embora. — Pode ser uma armadilha então. — Fala Joseph com um tom paradoxal e um tanto perturbado, gaguejando na frase.
— Ela precisa de ajuda, agora uma armadilha. Não estou entendendo mais. O que eu faço, afinal?
— Ela certamente espera que você vá, o dinheiro é só uma distração. O carro provavelmente é como ela planeja fugir. Acredito que ela conseguiu forjar uma situação ali. Enquanto estava sendo vigiada por alguém.
— Nossa! Não esperava por essa, Sherlock. Enfim, eu devo ir mesmo? — Após o comentário, Alice parece preocupada com a situação.
— Sim, mas contate alguém que possa ficar de olho nas duas, e possa facilmente chamar a polícia.
— Certo. Obrigado Jojo. — Enquanto fala isso dando uma risadinha sarcástica. Joseph segura fortemente em suas mãos enquanto se levanta da mesa. E diz: Tenha cuidado. Me mantenha informado. Seu olhar profundo dizia mais do que sua palavras. — Eu vou. Pode ficar tranquilo.
Ambos vão até a saída, na porta da sala.
Alice então se despede dando um abraço apertado em Joseph. Ele responde. E também beija sua testa. Dizendo para ter cuidado.
Ela vai andando até seu carro, que estava estacionado na frente de uma árvore. Por pouco não a derrubou. O carro estava mal estacionado.
Mas de repente ela segue estrada adiante.
O barulho das rodas passando pela areia logo se tornam menores até desaparecer.
Joseph esperou até ter certeza de que ela iria embora.
Estava frio, mas ele não se incomodava.
Logo fecha a porta e entra em sua casa.
Suspirando pesadamente, pois foi da mesma forma que sua mãe deu notícias a última vez que esteve viva.
A preocupação toma conta de Joseph, mas ele se sente impotente novamente. O que um cego pode fazer em um mundo de olhos que vêem as coisas que acontecem. Ele não consegue agir novamente. Está trêmulo, sua respiração fica cada vez mais pesada. — O que houve Jojo? — Pergunta seu pai vindo rapidamente segurar ele.
— Eu não consigo fazer nada, papa. Não tenho forças nem coragem para seguir. Assim como o que houve com a mamãe. Eu senti o perigo mas não fiz nada. — Após terminar a frase, começa a derramar lágrimas e soluçar.
É a primeira vez que o pai de Joseph o vê assim. Um homem que sempre foi calmo, está em desespero.
— Não é culpa sua, filho. Você não podia fazer nada. Era só uma criança cega numa situação complicada. Mas saiba. — Prossegue levantando o rosto de Joseph com sua mão confiante. — Você é um bom homem! Sempre faz o que é melhor para as pessoas. Mesmo cego você sempre enxergou o que há de bom nelas. Acredite em você como eu faço. Se agora você se preocupa com sua amiga e sabe que tem algo errado. Faça algo! Você pode fazer algo agora.
E respirando fundo, Joseph se levanta.
— Obrigado, papa. Eu amo você.
— Também amo você, filho. Agora vá descansar e pense no que fazer depois disso.

No seu quarto, Joseph ainda parece preocupado, mas tenta manter a calma. E pensar no que pode fazer. No que sabe.
Sua mãe desapareceu da mesma forma, um encontro com alguém que estava em um carro preto. Dias depois apareceu morta. Suposta parada cardíaca. Nenhuma das autoridades levou adiante. E o caso foi encerrado dez anos atrás. Joseph tinha oito quando ela sumiu.

E naquela serena noite, Joseph descansava os olhos vagamente, na espera de que dormisse após tudo isso.

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⏰ Última atualização: Feb 10, 2020 ⏰

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