Droga, droga, droga!
Os olhos do cara a minha frente não se desviam do meu nem por um segundo, o que me deixou uma tanto que constrangida.
— É... — procuro palavras para dizer alguma coisa — Aqui é o...— Banheiro masculino. — Me interrompe e sinto o borro vermelho aparecer em minhas bochechas.
— Me desculpa, eu me confundi e acabei...
— Se confundiu? — Arqueia as sobrancelhas escuras, como se não acreditasse no que eu estava falando.
— É, eu... saí da sala e vim para banheiro, mas acredito que... não entrei no certo. — Mordo o lábio inferior.
Eu estava um tanto que com medo de estar ali, sozinha, num banheiro masculino e com um cara que eu nunca vi na vida. Ele poderia tentar alguma coisa.
Droga Alison para de pensar no pior.
Meu subconsciente fala dentro da minha cabeça.
— Vai ficar aqui parada? — Sua voz rouca me tira do transe, fazendo meu coração errar algumas batidas.
— Não, eu... vou indo. — Dou um sorriso fraco, passando pelo mesmo praticamente encolhida, sentindo minhas pernas ficarem bambas pelo nervosismo.
— Presta mais atenção na onde entra. — Me alerta e eu me viro para olhá-lo. — Tem sorte de ter sido eu quem entrou aqui. Poderia ser qualquer outro cara que gosta de tirar proveito das garotas.
Engulo um seco e assinto, saindo dali o mais rápido possível.
Depois de uma eternidade, o último sinal toca, indicando a saída dos universitários do prédio. Saio da sala e vou ao encontro de Kate, que sempre ficava próximo aos nossos armários me esperando.
— Oi — sorri assim que me vê.
— Oi — dou um sorriso amarelado e abro o armário.
— O que foi?
— Nada. — Digo sem olhá-la, colocando os últimos livros no armário e o fecho. — Só estou cansada. — Ela não parecia convencida com a minha resposta, mas decide não insistir.
— Bom, então vamos. — Segura a alça da mochila e saímos do edifício.
O caminho todo foi um completo silêncio. Exceto pela música eletrônica que passava no rádio. Encosto a cabeça na janela enquanto olho as ruas sendo clareadas pelas luzes dos postes.
— O que foi Ali? — minha mãe pergunta risonha enquanto reveza o olhar entre mim e a estrada. Me desencosto da janela do carro e a olho sorrindo.
— Nada — Encolho os ombros. — Por quê?
— Você está aí, olhando as ruas, com um sorrisinho bobo nos lábios. No que está pensando?
— Em nada eu só... estou feliz.
— Não tem nenhum garoto envolvido nisso? — Semicerra os olhos.
— Mãe! — Exclamo aos risos.
— Qual é Alison! Preciso saber sobre os relacionamentos da minha filha.
— Eu sei, mas não precisa pensar que só porque estou feliz tem algum garoto envolvido. — Digo como se fosse o óbvio.
— Tudo bem. — Levanta uma de suas mãos que estavam segurando o volante, em ato de redenção.
— Eu só... estou feliz por estar aqui com você. — Ela me encara por alguns segundos com seus lindos olhos azuis assim como os meus — Sabe, faz um bom tempo que não ficamos juntas assim.
Seu olhar vacila.
— É, eu sei. Mas vou te compensar. Eu prometo. — Segura minhas mãos que estavam pousadas sobre meu colo.
— Alison? — sinto alguém tocar em meu braço e eu saio do meu pequeno transe. — Não vai descer?
Olho para frente no mesmo instante. Já havíamos chegado no nosso apartamento.
Abro a porta colocando minha mochila nas costas e subimos para o nosso andar. Assim que entramos no apê, vou direto para o meu quarto tomar um banho.
Assim que termino, visto meu pijama e faço um coque no topo na cabeça me sentando na cama.
Ouço batidas na porta e resmungo um "entra".
Kate aparece e fecha a porta detrás de si, vindo em minha direção e se sentando a minha frente.
— O que foi? — A olho.
— Me diz você — Dá de ombros. — O que aconteceu?
Respiro fundo.
— Kate não foi nada, eu...
— Alison, eu te conheço mais do que ninguém e sei que tem alguma coisa rolando. Só me diz.
Suspiro.
— Eu — dou uma pausa — Estou cada vez mais me decaindo — digo olhando para minhas mãos. — Tanto na faculdade quanto no trabalho e eu estou... acabada. — Sussurro sentindo minha garganta fechar. — As minhas notas estão péssimas e eu nem sei se vou concluir esse semestre.
Uma lágrima escorre na minha bochecha e eu a seco rapidamente.
— Estou perdida Kate. Prometi para minha mãe que eu teria um futuro brilhante, que eu concluiria a faculdade com sucesso e que eu seria alguém na vida. Mas eu não estou cumprindo nada disso. Tenho dezenove anos e não consegui conquistar nada até agora. — O choro faz com que eu não consiga mais falar.
Kate me abraça forte enquanto acaricia minhas costas.
— Ei... tá tudo bem. Vai ficar tudo bem. — Sussurra no meu ouvido — Você não precisa se cobrar tanto. Tudo bem se você não conseguir ter uma das melhores notas na faculdade ou não conseguir o emprego dos sonhos agora. Tá tudo bem. — Se afasta e me olha nos olhos. — Você precisa entender que tudo tem seu tempo — Segura meus ombros. — E vai dar tudo certo. Tá bem? — Ergue as sobrancelhas e eu assinto mordendo o lábio inferior.
Ela me abraça novamente tentando me acalmar.
— Vamos passar por isso juntas. Como nossas mães fizeram.
— Tá — Seco meu rosto com a costa da mão.
— Só tenta descansar um pouco. Se quiser, durmo aqui com você para não se sentir sozinha.
— Tudo bem, não precisa.
— Tá bom — deposita um beijo no meu rosto — Me chama se precisar de alguma coisa. — Pousa sua mão em meu braço e eu balanço a cabeça confirmando. — Boa noite.
— Boa noite — Sorrio fraco e ela sai do quarto, fechando a porta logo em seguida.
Desligo a luz e deito minha cabeça no travesseiro fechando os olhos. Minha mente vai para o cara de hoje mais cedo. Um frio corre pela minha barriga só de pensar nele.
Aqueles olhos castanhos claros me encarando serenamente tão...
Droga, por que estou pensando nisso?
❦ ════ •⊰❂⊱• ════ ❦
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Garota Perfeita (REVISADA - DEGUSTAÇÃO)
RomanceConhecendo-o pela sua má reputação e seu jeito sério e frio, Alison Lawrence precisa se manter o mais longe possível do cara fumante e repleto de tatuagens. Mas isso pode ser difícil, afinal o mesmo vive frequentando o restaurante que a boa garota...