Toda tarde de sexta tinha cheiro de café.
Desde o nono ano, todas as sextas-feiras Hanna e Mateus eram meus parceiros de experiências mundanas, sem nenhum propósito além de nos embriagarmos de cafeína e doces na Dollie, a mais antiga — e única — cafeteria/livraria da minúscula cidade de Gardner. Era uma loja de tijolos vermelhos, cujo interior cheirava a café, livros velhos e, ocasionalmente, a cachorro molhado. Consequência da idade avançada do telhado. Quando chovia, as poltronas, quase tão velhas quanto tudo ali dentro, ficavam molhadas e com um odor pungente. Nesses dias, Dollie costumava servir café de graça para quem comprasse uma torta, um jeito barato de subornar os clientes para não precisar trocar a mobília nem consertar o telhado.
Funcionava.
Ninguém recusava um café de graça, com cheiro de cachorro molhado ou não. Não que tivéssemos outras opções na cidade.
— Acha que eles vão tocar alguma música nova em um futuro próximo? — Hanna murmurou, voltando com mais suprimento de café.
Ela indicou a banda do nosso amigo, que tocava pela segunda ou terceira vez a mesma letra com melodia e estilos diferentes (POP, Rock e Funk), algo que não melhorava em nada. Era uma diarreia sonora de um total de cinco em todo o seu repertório.
— Talvez devêssemos escrever algo, se eu ouvir "Rasgue meu coração" mais uma vez, vou furar os meus ouvidos com essa colher — respondi, virando de costas para o pequeno palco que ficava entre o balcão de tortas e a estante de livros de jardinagem.
Dollie me olhou por cima dos seus pequenos óculos de leitura e fez um gesto que indicava que ela jogaria chá ou alguma maldição que só ela conhecia a qualquer instante. Hanna e eu nos levantamos em um pulo e aplaudimos enfaticamente na tentativa de protegê-lo de uma dose de chá quente na virilha, ou coisa pior. Conhecendo aquela bruxa velha, era capaz de Matt sair de lá com um par extra de orelhas.
Como amiga, meu dever era ser honesta e dizer que eles eram péssimos, mas também era meu dever apoiar seus sonhos e objetivos. Talvez com o tempo eles adquirissem algum talento. Matt finalizou com seu solo de guitarra, fazendo até o ser vivo mais tolerante do mundo querer arrancar seus tímpanos com soda cáustica.
A quem eu queria enganar? Eles eram péssimos. Nenhuma magia no universo poderia mudar aquela falta de talento, exceto, talvez, um pacto com forças malignas em troca da sua alma.
— Foi ótimo, não foi? — cantarolou empolgado, sentando-se conosco.
Hanna e eu assentimos, me apressei a esconder o rosto atrás da xícara, dando o gole mais longo possível para não precisar responder.
— Claro, claro — Hanna respondeu fingindo empolgação e me olhando como se eu fosse uma traidora. Encolhi os ombros e tentei não rir. Não seria eu a dizer a verdade.
O sino da porta sendo aberta foi registrado vagamente no fundo do meu inconsciente. Teria passado despercebido, mas quando uma brisa soprou, trouxe um cheiro forte e uma onda de energia sobrenatural. Evidentemente, ninguém notou. Meus pelos do braço se arrepiaram, senti minhas mãos ficarem quentes com magia. Me virei tentando ver quem tinha tanto poder para que eu sentisse, mesmo no meio de tantas pessoas, mas havia adolescentes entrando e saindo. Não consegui saber quem tinha sido a pessoa ou grupo a me causar essa reação.
— Você está bem? — Matt perguntou me vendo ficar tensa.
— Sim, eu... — peguei minha bolsa. — Eu tenho que encontrar o Gabriel, vejo vocês mais tarde, ok? — Me levantei antes que eles dissessem algo e fui correndo atrás da energia, mas não tive sorte, a cafeteria estava lotada.
Haviam muitas auras e informações para registrar. Coloquei o casaco e meu gorro e fui para fora da loja. Talvez eu pudesse seguir o rastro de onde ele tinha vindo. Sabia que não era nenhum feiticeiro da cidade, eu saberia. Talvez não fosse nem mesmo um bruxo, talvez alguma outra criatura mágica, nós não éramos os únicos a possuir magia. Existiam outros tipos de sobrenaturais, mas não naquela cidade esquecida pelo mundo. Quem quer que fosse, poderia ser uma ameaça, ninguém invadia assim o território de um clã sem querer confusão.
— Diana? — Gabriel falou abruptamente, me fazendo saltar de susto. — O que houve?
— Eu achei que tinha sentido algo — respondi olhando ao redor, a garoa caía, lavando qualquer vestígio do estranho ou estranha. — Chegou algum bruxo novo na cidade?
— Não, por que? — Indagou confuso.
— Senti uma energia estranha — admiti, não gostava de anunciar as minhas percepções aguçadas.
Meus colegas de espécie já me viam como uma aberração. Colocar lenha na fogueira não seria uma boa tática para melhorar a minha imagem.
— Você deve ter me sentido chegar. Eu estava em um ritual, pode ser algum resquício de magia — comentou encolhendo os ombros, franzi o cenho, me permitindo ser guiada pela rua. — Vamos, se não perderemos o filme. — Me puxou empolgado na direção do pequeno cinema de Gardner.
⚜️⚜️⚜️
Cá estou, com mais uma obra, e escrevendo outras mil por fora.
Em algum momento serei internada em uma clínica para escritores compulsivos, mas este dia não é hoje!
Então vamos lá a mais uma nova história, cheinha de magia, mistério e romances!
Espero que gostem! Tem muita emoção vindo por aí no primeiro capítulo!Não deixe de votar e comentar, a pobre escritora que vos fala não ganha nada com essas publicações, apenas a doce satisfação da interação com os leitores... Mas se não quiser comentar, a gente entende (dor e sofrimento). Amo todos os meus leitores, até os fantasminhas <3
(cof, cof, Vota no capítulo, cof)Lambeijos de luz para vocês!
Boa leitura!
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Mestiça: A Natureza Chama - Saga O Chamado 1 (Em Revisão)
FantasySeguir a tradição da família, ou aceitar sua real natureza? Ao descobrir quem é de verdade, Diana Agrippa se vê obrigada a fugir de tudo que acreditava ser importante. A vida da jovem bruxa vira de cabeça para baixo, e lutar para manter a tradição d...