O ESPELHO DE AIZEN.

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"E tudo se acaba, quando o vermelho predomina, tudo se desfaz, quando os olhos se fecham, tudo termina,  quando os últimos suspiros são dados."

Eu me chamo Aizen, eu tenho 26 anos, e estou aqui para pedir ajuda, eu não consigo mais, na verdade, eu não posso mais guardar isso dentro de mim, isso tem me consumido durante anos, eu tentei dizer para mim mesmo, que era mentira, que era um pesadelo, que tudo isso iria passar, mas toda manhã quando me acordo, vou ao banheiro lavar o rosto e as mãos, e todo aquele sangue que cobria o carpete branco e aveludado da sala, parece não sair de minhas mãos, o olhar de desespero no rosto de minha mãe, que ficou fixado, em um tom pálido e tímido de dor e morte.
Durante todos esses anos, tentei descobrir quem era o assassino de minha mãe, mas...

- Tentou descobrir por conta própria ? mas e o trabalho da polícia ?

- Eu não solicitei ajuda da policia, eu mesmo limpei a cena do crime e enterrei o corpo de minha mãe no quintal de casa, junto às rosas que ela tanto amava.

- Mas porquê não acionou a policia ?

- Eu queria matar o assassino de minha mãe, com minhas próprias mãos, vingança é um prato que se come frio, frio como o sangue de um corpo em pré decomposição.

- Ah.... entendo... prossiga... Sr.Aizen...

Bom, eu tentei achar o assassino de minha mãe, mas não o encontrei, e isso só me deixou mais perturbado.
Não existe crime perfeito, mas como aquele miserável conseguiu sair impune ?
E desde então, toda vez que vou dormir, lembro de como aquele dia foi atordoante, desde seu início.
Naquele dia, o céu estava nublado, uma leve garoa caia sobre a terra. Minha mãe havia saído para comprar meus remédios.

- Remédios ?

- Sim, ela havia ido comprar meus remédios, para tratar da minha doença.

Continuando, após chegar com os remédios, ela pediu que eu os tomasse, mas por algum motivo, eu não os tomei.
Ela então, foi preparar o jantar, aquele era um dia muito especial, era meu aniversário de 23 anos.
Depois de preparar o jantar, ela se dirigiu o banheiro, e foi ai, que toda a desgraça se profanou, eu estava na sala de estar, quando de repente, escuto os gritos de desespero de minha mãe, que ficavam cada vez mais intensos, até que, minha mãe corre até a sala, e no mesmo instante, nua e cambaleando, ela cai ao carpete branco e aveludado da sala, dando ao próprio, tons de vermelho vibrante com o seu sangue fresco.
Eu entrei em desespero, não há nada mais desesperador do que ver alguém que você ama, agonizar até a morte na sua frente, sem que você possa fazer nada.

- Sr.Aizen, esse é um relato muito forte, mas não entendo como posso lhe ajudar...

- Eu preciso que o senhor ligue para policia, e me denuncie.

- Lhe denunciar, mas porquê ?

- Porquê ?

O verdadeiro motivo pra eu estar aqui, é que finalmente encontrei o assassino de minha mãe, demorou para que eu me desse conta, mas ele estava ali, sempre esteve.
Toda vez que me olho no espelho, eu vejo o assassino de minha mãe, porque sou eu, eu sou o assassino de minha mãe. Naquele dia, após ela ter se dirigido ao banheiro, vozes na minha cabeça, começaram a repetir dolorosamente a frase: "Mate ela, mate sem piedade, sem receio, apenas mate!"
E eu então, às obedeci, fui ao banheiro com um machado que estava encostado na lareira da sala de estar, abri a porta e me deparei com o corpo nu e desprotegido de minha mãe, sem hesitar, ataquei a própria, como um canibal ataca um corpo suculento. Mas ela conseguiu correr até a sala, nua e cambaleando, ela caiu ali mesmo, no carpete branco da sala.
Ao me dar conta do que eu havia feito, soltei o machado, e me aproximei de joelhos, até o corpo de minha mãe, ela agonizava, agonizava como o animal indefeso que inocentemente foi envenenado.
Lágrimas escorriam de seu rosto, que se encontrava num tom, que beirava entre a palidez e a timidez.
Aos poucos, ela lentamente fechava seus olhos, ela dava seus últimos suspiros, e então, tudo se acaba, quando o vermelho predomina, tudo se desfaz, quando os olhos se fecham, tudo termina,  quando os últimos suspiros são dados.
Ela estava morta, e eu era seu assassino, friamente, enterro seu corpo, e limpo toda cena do crime, passei anos até digerir toda essa informação, e cheguei a conclusão, que eu sou doente doutor, eu sou um monstro, por favor, chame a polícia, eu preciso pagar pelos meus pecados...

- Sr.Aizen, o senhor já foi preso, e é por isso que o senhor está em nosso instituto psiquiátrico, o senhor pode não se lembrar, mas naquela noite, o senhor se dirigiu à delegacia, e se entregou. No seu julgamento, foi constatado um caso de esquizofrenia grave, e o senhor foi condenado a passar o resto de seus dias aqui, o senhor está aqui há 2 anos, mas é a primeira vez que fala abertamente sobre aquela noite, é também a primeira vez, que o senhor reconhece que foi o senhor quem matou sua mãe, que bom que estamos progredindo, bom nosso tempo acabou, amanhã poderemos conversar mais.

- Enfermeira, leve o paciente número 2232 ao seu quarto para que ele possa descansar.

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