Capítulo 1

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Encarando a grande estrutura da faculdade a minha frente, sinto pela primeira vez minha perna tremer, eu estou aqui, estou mesmo fazendo isso.
- Moça? Vai ficar aqui? Você colocou outra parada para depois - questiona  o uber um tanto impaciente.
- Ah não, me desculpe, só queria ver de perto, nas fotos parece tão menor - digo com a voz fraca.
Meu deus! Estou indo para faculdade, sozinha!
Olha só papai, estou aqui e peguei esse uber sozinha! Ah se meus pais pudessem ver tudo que tenho feito até agora e tudo que ainda farei sem a ajuda deles.
- É lindo aqui né? Uma cidade e tanto. Você vai gostar muito. - o uber comenta me encarando pelo retrovisor.
- Sim, estou achando muito bonito  tenho certeza que vou adorar, só por me livrar dos meus pais, aqui já é uma cidade e tanto. - comento bufando um sorriso.
Depois de alguns minutos em silêncio, sinto o carro finalmente parando.
Observo com atenção o prédio a minha frente e tento segurar a vontadede de sair saltitando do carro.
Escolhi alugar um apartamento bem perto da faculdade, facilitando minha locomoção na cidade. O prédio é sem dúvidas lindo, mesmo aqui de fora consigo ver a piscina e a academia, lugar onde passaria boas horas.
- Wow! É aqui que vai ficar? - perguntou o uber chocado.
- Sim! Na verdade marquei com a dona do apartamento aqui na frente, ainda preciso assinar o contrato, digamos que achei esse ap de última hora. - respondo sem nem desviar os olhos do prédio.
Santa mãe das meninas crescidas, não vejo a hora de mandar fotos no grupo da familia, mostrando a todos onde estou!
Quando percebe que não vou me mexer tão cedo, o motorista abre o porta malas e começa a retirar de uma em uma minhas malas, no exato momento em que meu telefone toca.
- Alô? Eliza, estou aqui em frente já. - digo ao identificar a voz da dona do apartamento.
- Heyoon, sinto muito ao informar, não será mais possível que o contrato seja assinado, infelizmente tive alguns...
- O que?? Não, você só pode estar brincando! Estava tudo certo, não pode fazer isso comigo agora! Minhas aulas começam AMANHÃ Eliza, o que espera que eu faça? - interrompo sua explicação fajuta, quem ela pensa que é? Quando contar ao meu pai... Droga meu pai nunca pode saber disso, preciso lidar com isso sozinha.
- Heyoon, infelizmente não há nada que eu possa fazer, e como não havíamos assinado contrato antes, não há o que você possa fazer também - disse irritada e em seguida desligou.
- Filha de uma...
- O que aconteceu menina? - pergunta o uber curioso, depois de ouvir os xingamentos baixos que eu deixei escapar.
- Estou simplesmente ferrada, não tenho para onde ir, não tenho para quem ligar... não posso voltar para casa, de maneira alguma, o que vou fazer agora? - frustrada jogo meus cabelos para trás e me encosto no carro.
- Olha, tenho um lugar em que você pode passar a noite, uma república aqui perto, não prometo nada, mexo uns pauzinhos ou outros, mas o resto você precisa fazer. - colocando as malas novamente no carro, ele abre a porta para mim e assume o volante novamente.
- Por quê está fazendo isso por mim? - pergunto depois de alguns segundos de choque.
- Bem, é sempre bom ajudar - fala ele sorrindo pelo retrovisor.
- Obrigada, éhr... Fábio - completo quando leio seu nome no aplicativo.
O restante do caminho vamos em silêncio, sinto que uma parte da minha alegria já se foi, dando lugar apenas ao nervosismo.
Para onde sera que ele está me levando? Devo mesmo confiar em um desconhecido? Será que vão ter um lugar para mim lá? Na verdade, a maior preocupação de todas é, as garotas vão ser zueiras com calouras?
Quando fiz a prova de admissão ninguém acreditou que eu seria capaz de conseguir, depois do ensino médio, fiquei quatro anos parada em casa, sem fazer nada significativo, ao menos nada significativo para meus familiares.
Eu fazia alguns cursos, tentava arrumar algum trabalho, porém sempre era barrada por meu pai, segundo ele eu não deveria procurar um emprego só por que todos faziam isso, eu devia esperar até eu realmente precisar.
Mas ai, de repente a vida dele já não havia mais espaço para mim, fui colocada de lado, de maneira que provar que eu sou capaz de fazer coisas sozinha é a única chance que tenho de ter sua atenção novamente, não posso estragar isso, não importa o que eu precise fazer.
Eu sou uma boa garota, mas vou provar para todas que isso pode significar muito mais do que o habitual.
- Chegamos, pode ir descendo suas malas enquanto falo com meu conhecido, prometo que pelo menos hoje, consigo um lugar para você - diz ele caminhando em direção a entrada.
Enquanto vou esvaziado o carro, me permito dar uma olhada no lugar, é uma casa bem grande, realmente grande, mas confesso que tem um ar estranho, primeiro noto o muro todo pichado, na verdade acho que é grafite, no muro consigo ler alguns nomes de garotos e vejo alguns desenhos de skate, microfones... para falar a verdade é bem legal, mas bem pouco comum para garotas, quer dizer, de onde venho.
Quando todas minhas malas estão no chão, entro pelo portão e caminho em direção a porta de entrada, onde Fábio conversa com um garoto todo tatuado.
O que um garoto faria ali?
- Bailey, essa é Heyoon.
- Prazer - respondo um tanto tímida.
- Fábio, cara tu quer me fuder é? Como assim mano? Olha bem para ela, a não ser que ela tenha um saco por de baixo do vestidinho, ela não pode ficar aqui - ele fala ignorando totalmente meu cumprimento.
- Você me deve Bailey e é assim que vou cobrar, ela fica por hoje, se quiserem que ela vá embora, amanhã resolvem com ela.
- Gente, eu não estou entendendo nada, mas sei que não quero atrapalhar, então, me deixa em algum hotel Fábio - peço dando um sorriso nervoso.
- Anda Bailey, seja homem cara, vai ficar com medinho do Josh agora? - Fábio pergunta também me ignorando.
Bailey passa a mão nos cabelos, os bagunçando um pouco, como se estivesse pensando, por o que pareceram horas, ele me encarou, quando por fim, com um sorriso sacana diz:
- Entra ai gata, quero ver se tu sobrevive uma noite aqui dentro.
Olho para Fábio, não sei, talvez procurando algum encorajamento, mas ele apenas pisca para mim e se dirige a ao garoto.
- Cuida dela seu otário, como se fosse sua namorada, não isso provavelmente seria terrível, cuida como uma irmã ta ouvindo? - diz ele me causando certa raiva devido ao pequeno discurso machista, e em seguida com um soquinho no ombro do tal "Bailey" ele vai se afastando em direção ao carro.
- Fábio! - grito mais alto do que pretendia. - Eu... ãn... preciso te pagar.
- Os meninos te ajudam a chegar no meu bar mais tarde, lá a gente conversa. - dizendo isso ele vai embora.
Olho para Bailey esperando que me diga o que fazer agora, mas ele apenas toma uma bolsa da minha mão e vai entrando.
Quando entramos na casa, fico chocada com o que meu olhos vêem, acho que deixo bem claro meu choque quando praticamente me engasgo com o ar.
- Eu disse que tu não ia sobreviver.
Isso não é bom, nada bom.

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