Toc, toc. Posso entrar?

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Eu entro rapidamente no banheiro e Maluma vem logo depois, encostando com pressa e habilidade a porta atrás de si. Eu olho para ele em expectativa, completamente excitada ao encarar o par de olhos castanhos mais sensuais que já vi em toda a minha vida. Ele tem um ar de mistério que jamais enxerguei em outro homem. O olhar de Juan revela algo entre extrema luxúria e inocência pura. É como a essência dele. Me encarando com possessividade, ele morde os próprios lábios vermelhos, fartos e úmidos, reafirmando que me quer sem a necessidade de dizer com palavras. Eu inspiro profundamente pelo nariz, tentando não pular sobre ele como uma maluca, e noto uma interessante mescla de nossos perfumes que agora ficou mais intensa devido o ambiente pouco espaçoso e a grande proximidade entre nossos corpos.

Preciso tomar alguma atitude.

Algumas pessoas acham extremamente excitante fazer sexo na balada. Eu sou uma delas. Além disso, não é a primeira vez que faço, mas é minha primeira transa após o câncer. Qualquer um pode fazer sexo na balada, e é um jeito bom de ter uma memória sexual incrível. Você não precisa ser uma vadia para isso, a menos que você queira. Pode fazer com seu namorado (a), esposo (a) ou com alguém que acabou de conhecer. Como Maluma, por exemplo.

E embora eu esteja explodindo de tesão, frente a frente com um dos caras mais gostosos do universo, não consigo deixar de lado o meu lado racional. Porra de capricorniana, eu penso, e reviro os olhos mentalmente. Maluma também não avança, talvez esperando que eu dê o próximo passo, mas ao invés disso eu começo a fazer um verdadeiro check-list de sexo na balada dentro da minha cabeça.

Ai, droga...

1. Nunca faça sexo na balada no banheiro dos homens. Não é muito legal. O chão normalmente não é tão limpo, às vezes está molhado, e isso é um problema. Recomendo o das mulheres. Ou o unissex.

Então... começamos bem, este está bem limpo e parece pouco movimentado.

2. A melhor opção sempre é o banheiro para cadeirantes, já que oferecem mais privacidade e uma área maior. Espero que as pessoas com deficiência tirem vantagem disso e tenham ótimas vidas sexuais.

Mas... não escolhemos o maior banheiro. Estamos dentro de um comum.

Ok, foda-se. No apertadinho é mais gostoso.

Sem mais esperar eu me viro, ficando de costas, e pedindo ajuda com o zíper do vestido. Juan não hesita e me deixa seminua, deslizando as mãos macias e quentes pelo meu dorso, até o zíper chegar na altura da bunda onde ele faz uma pausa dramática. Ao perceber sua respiração ofegante, me sinto poderosa. Isso me agrada. Me excita. Nunca fiz algo assim com um desconhecido, mas descubro que adoro isso. Quando ele insinua me despir por completo, eu recuo. Não sei se estou preparada para exibir o meu corpo defeituoso a ele.

Durante o último ano, fiz tratamentos para o câncer que levaram embora cada fiozinho de cabelo presente em meu corpo e, por fim, uma das minhas mamas. No entanto, alguns meses  depois, estou aqui, pronta para me despir e contar minha história sem pudores e de forma espirituosa. Hoje eu enxergo que precisava passar por essa mudança, uma nova adaptação. Porque após o choque você começa a quebrar suas próprias crenças em relação àquilo que passou. De repente, um filme começa a rodar na minha cabeça e lágrimas ameaçam brotar em meus olhos por causa das lembranças:

Na época, comecei a me se sentir muito cansada e a ter doenças relacionadas à baixa imunidade, como candidíase e inflamações, e decidi procurar a ginecologista. Da primeira vez, fiz o exame clínico de mamas e nada foi encontrado, pois o tumor estava bem atrás do mamilo. Tempos depois, voltei ao hospital com dor no rim e febre baixa. Um radiologista fez meus exames e o tumor não apareceu na imagem, mas ele o sentiu. Então colocou no relatório que eu tinha uma lesão de milímetros. Voltei a ginecologista e ela me disse que eu não tinha nada, mas o diagnóstico não me convenceu. Procurei um mastologista que confirmou o carcinoma. Em menos de um mês, o tumor havia crescido 4 cm. Segundo o doutor, eu não estava na pior situação possível, mas o diagnóstico também não era dos melhores. O carcinoma crescia rápido. Seria preciso fazer seis aplicações de quimioterapia e, em seguida, a mastectomia para a retirada da minha mama esquerda.

╔ 𝙱𝚊𝚝𝚑𝚛𝚘𝚘𝚖 𝙱𝚛𝚎𝚊𝚔 ╗Onde histórias criam vida. Descubra agora