Roxo

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Acordei com uma faixa do sol quente perfeitamente posicionada em meus olhos, forçando-me a levantar. Eu havia conseguido uma cama em troca de algumas moedas, Jiraiya ficaria decepcionado se soubesse que eu havia as dado embora por algo tão "bobo". Aquilo era um luxo que eu me permitia ter, não suportava dormir em qualquer lugar.

O gentil senhor Ming, dono da casa onde eu passaria os meus dias, havia deixado a tina de madeira pronta para que eu me banhasse; algumas pétalas de flores boiavam na superfície e o cheiro que exalava no cômodo era encantador. Depois de tantos meses no alto mar eu tinha noção de que o meu odor não era dos melhores. Por mais que eu tentasse manter a minha higiene intacta como os meus pais haviam me ensinado, às vezes era difícil conseguir água limpa todos os dias.

Livrei-me da vestimenta suja e a esposa do senhor Ming entregou-me novas roupas. Ela desculpou-se diversas vezes por ter apenas vestidos longos para me emprestar e por mais que eu me incomodasse com os mesmos teria que me acostumar. Seriam usados por poucos dias.

Afundei na água fria e fiquei por um tempo ali, imóvel. Em seguida esfreguei o corpo o melhor que consegui, sentindo toda a sujeira e craca saírem completamente de mim. Com os dedos enrugados, separei os fios do meu cabelo e os penteei com cuidado. Assim que saí do banho, me senti uma nova pessoa.

O dia do lado de fora não parecia tão promissor; o brilhante sol não mais estendia-se no céu e o vestido roxo que eu usava era adequado para o vento marítimo que tomava conta da ilha, fazendo arrepiar todos os pelos do meu corpo; estava começando a escurecer. Refiz o caminho que me levaria até o pedaço de paraíso intocado sem pressa.

Eu não estava muito surpresa ao encontrar as ruas e vielas tão vazias quanto na noite anterior, não haviam muitos moradores para fora das construções e os que arriscavam enfrentar a brisa gelada estavam completamente bêbados.

Um leve enjoo se apossou de mim ao lembrar do rum de quinta categoria que havia tomado, não queria passar perto de nada do tipo pelos próximos dias. Manteria-me sóbria até a hora de partirmos de novo para outra "aventura", eu queria recarregar as energias por completo, diferentemente dos meus companheiros.

E falando neles, avistei dois rostos conhecidos encostados em um muro destruído. Atrás deles o meu cantinho — que já era o preferido de toda a Shikotan — permanecia como uma vista agradável e vazia. Aproximei-me de Suigetsu e Kurenai com um leve sorriso nos lábios. O homem chacoalhou a cabeça e murmurou algo que não pude entender, a mulher apenas riu.

— Mitsashi, eu disse que só queria te ver novamente...

— Daqui dez dias. Eu sei, Hozuki. — Cortei-o divertida, jogando um dos meus braços em volta dos seus ombros e o apertando contra mim. — Não tenho culpa se esse lugar tem o tamanho de um ovo.

Ele fez menção de se afastar, mas aumentei a força do aperto até que desistisse com um suspiro irritado. Eu sentia os seus grandes olhos me mirando como se fossem um arqueiro esperando o momento de acertar o alvo.

Adorava irritá-lo.

Desde os cabelos prematuramente brancos até a cor dos olhos de um tom arroxeado esquisito, amava tirar alguns minutos do meu dia para encher sua cabeça e divertir-me. Hozuki Suigetsu era muito fácil de tirar do sério.

— E também não tenho culpa de sentir tanta saudade de você, meu grande amigo. Somos os únicos Navegadores do Capitão Jiraiya, precisamos nos unir mais.

Yuuhi Kurenai, uma Curandeira muito experiente e sábia, riu alto intercalando alguns momentos com o grunhido de um porquinho, o que fez a minha autoestima aumentar um tanto. Eu a adorava. Como esperado, era a figura materna do Coral Sombrio, sempre cuidando e protegendo de toda a tripulação. Os seus cinquenta e cinco anos muito bem vividos, mas escondidos atrás de uma faceta jovial e enérgica.

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