— Sua mãe vai te matar! — Guilherme disse, enquanto subíamos as escadas em direção ao escritório da própria para checar nas câmeras de segurança o que é que tinha acontecido na noite anterior e porque havia um celular desconhecido comigo. — Você já pensou que pode ser a última conversa que nós vamos ter com você vivo?
— Você acha que eu morto vou querer conversar com você? — Perguntei, segurando o tutu com uma mão e o celular com a outra, ainda cheio de glitter e sem dignidade alguma porque tínhamos que entrar na sala de dona Sandra aka Rainha antes que ela chegasse, o que aconteceria em uns quinze minutos. — Heitor que lute.
Guilherme riu e empurrou a porta do escritório, revelando a sala da minha mãe. Para uma pessoa que faz cartazes amarelos brilhantes, o local estava bem sóbrio, exceto pelas capas de crochê que cobriam o monitor e o CPU do computador. Não quero comentar, mas elas combinavam entre si.
Com a certeza de que meu melhor amigo não estava fazendo mil piadas porque a Rainha era minha mãe (dava para ver o suor escorrendo pela resta dele indicando que ele estava segurando a própria língua), o vi tirar as capas e ligar o computador.
Provavelmente só Guilherme e Luísa, que eram sub-gerente e gerente daquela filial, respectivamente, tinham o acesso que precisavam para as câmeras de segurança (sim, eles eram meus chefes) – Luísa queria que deixássemos para lá e colocássemos o celular nos achados e perdidos para não piorar as coisas, mas Guilherme achava que só Deus podia julgá-lo e tinha embarcado na minha ideia.
É claro que a senha do computador da minha mãe era 123.
— Certo. — disse Gui, digitando a senha de acesso ao programa da loja. O usuário GBarreto estava dentro. — Que horas você chegou aqui?
— Sei lá, meia noite? — Chutei, vendo os dedos ágeis de Gui se movendo sobre o teclado para digitar a data e horário da filmagem que queria ver. Depois, direcionou para a câmera da vitrine.
A imagem abriu na tela. Era uma câmera de segurança, então não era exatamente uma filmagem 4k, mas era o suficiente para me deixar ver que a pessoa de tutu sobre a cama era eu (meu tutu ficava levantado e a visão da minha bunda no collant virada para a rua não me deixou muito feliz) e também que havia outra pessoa na cama – eu estava dormindo com meio corpo por cima da pessoa e nós estávamos embolados de um jeito que a menina do exorcista virando a cabeça 360º parecia brincadeira.
— Eu achei que você estava com dor nas costas porque, bem, é uma princesa delicada, mas isso explica muita coisa. Quem é? — Guilherme perguntou, tentando dar zoom na tela, o que só fez a imagem granular ainda mais.
— Eu realmente não sei.
A imagem era sem nitidez e a maior parte da iluminação vinha da rua, então era difícil enxergar muita coisa.
— Vocês estão só dormindo. Que fofos. — Guilherme disse.
Preferi ignorar a insinuação dele.
— Volta um pouco, talvez dê para ver a hora que a gente chegou!
Guilherme colocou o vídeo rebobinando, um pouco acelerado. De trás para frente, eis o que aconteceu:
Nós (eu e quem quer que fosse) estávamos deitados na cama, embolados.
De repente, começamos a nos desembolar.
Então, eu estava com a mão no rosto da pessoa, tipo fazendo carinho.
Daí, estava sentado na cama.
Depois, levantei e saí fazendo moonwalker.
— Espera aí! — Exclamou Gui, olhando incrédulo para a pessoa ainda deitada na cama. O relógio indicava que eram onze horas, já estava chovendo, mas eu ainda não tinha chegado. — Essa pessoa estava aqui antes de você?
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#PrincesaProcuraErvilha (Concluído)
KurzgeschichtenSe Sandra Mesquita, dona e proprietária da rede de lojas "Bons Sonhos" é a rainha dos colchões em todo o estado, então seus descendentes obviamente têm sangue azul. E é por isso que Cadu Mesquita resolveu que seria uma ótima ideia ir curtir o Bloco...