III

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O alarme toca, inspiro, estava tudo bagunçado ao meu redor, expiro, me levanto, e, finalmente, abro os olhos.
A cama range no momento em que coloco os pés no chão. Eu via apenas um clarão branco, que ia aos poucos se desfazendo e se tornando em um ambiente mais escuro, mais "zoneado". Uma canção aparece em minha cabeça, ela é simples e ao mesmo tempo possui bastante significado, eu não conseguia distinguir de quem era, mas tinha minhas hipóteses, talvez seja Tom Jobim, talvez seja mesmo.
Dia dois, colégio, segundo ano.
As aulas do dia de hoje foram totalmente inúteis no meio do currículo, não merecem destaque, irrelevantes.
Dia três, quarta. Dia quatro, quinta. Dia cinco, sexta.
A semana acaba, eu evitei tudo e todos. Mantive a cabeça baixa a semana toda, eu não sou um alguém feito para amar e ser amado, sou como aquelas aulas, inúteis, irrelevantes, não merecem e nem precisam de destaque, é apenas o que eu sinto, eu não mereço ter uma enorme atenção, em qualquer aspecto que seja.

Que se dane a vida, mais uma semana de aula e eu quero afundar minha cabeça na banheira e morrer afogado, na próxima eu faço isso.
Domingo, eu decidi sair de casa. Sair da minha zona de conforto as vezes é necessário.
As rodas do skate que arrastam na rua tem um som relaxante, é bom ouvi-los bem baixinho, enquanto tenho um fone em meu ouvido e um MP3 tocando algumas músicas idiotas que eu nem gosto tanto.
Há bastante tenpo eu não ia até minha avó, eu nem sabia mais se ela morava aonde sempre morou, talves ela tenha saído de lá... Eu, porém, decidir remar até lá... Eu via cada pessoa que passa por mim, notando os menores detalhes, as folhas que caiam nos telhados curvado, árvores enormes nas calçadas, que estavam destruídas, flores com um cheiro forte abertas e pendurada entre galhos, quase caindo... Era deprimente. Aquela mesmo música de mais cedo, aquela que eu havia me lembrando de manhã começa a tocar no MP3:

"Ah, por que estou tão sozinho?
Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha"

A ponta do meu pé batia no chão e empurrava.

"Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor"

Eu me recordei, era Tom Jobim, porém, também me lembrei da existência "dele". Fiquei deprimido e parei de remar, ficando parado no meio-fio, com milhares de carros passando ao meu lado, dando uma brisa de morte. Suspiro, e dou meia-volta.
Eu devia ver ele? Talvez, quem sabe, na saída de hoje convida-lo para sair. Vou pensar nisso na volta.

Na volta, estive totalmente focado em minha música, pensando pouco sobre aquele garoto, até que ele simplesmente sumiu da minha cabeça. Estava ficando tarde... Já estava escurecendo e eu passo pelo portão do colégio e vejo ele saindo com suas mãos apoiadas nas alças da bolsa marrom que ele carregava em suas costas e sua cabeça com aquele cabelo castanho sendo puxado para baixo, ele parecia triste. Eu me lembro que não havia ainda decidido, e entro em pânico, droga, eu chamo ou não chamo?
Que se dane! Eu ando em direção a ele e começo a andar do lado do rapaz que me encantava. Não foi muito, mas notei que seu olho se desviou para a minha presença.
- Oi, e aí? Tudo bem? - Perguntei.
- Oi, tudo sim - Sua voz estava arrastada, era triste.
- Bom - Eu hesitei, me afastei um pouco dele e senti meu rosto queimar - Tá tarde, então, podemos sair amanhã, quem sabe? - Eu me arrependi ao ver o rosto dele olhar para mim após minha pergunta.
- Não tenho horário pra voltar, vamos sair.
Ele aceitou, entrei em choque.
Uma brasa se acendeu dentro de mim. Eu estava sentindo algo forte, mas não sabia o que era... Que seja, é bom.
Milhares de lugares vieram a minha cabeça, para aonde iríamos? Sorveteria? Restaurante?
- Me segue, eu sei aonde podemos ir, rápido - Após dizer isso, ele saiu correndo segurando meu braço, tentei acompanha-lo, mas ele estava praticamente me puxando. Ele era rápido.

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⏰ Última atualização: Jul 27, 2020 ⏰

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