Capítulo 1

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Escutei o telefone tocar antes mesmo de abrir a porta do consultório. Olhei as horas e suspirei, ainda era cedo. Pelo menos, eu não estava atrasada.

Entrei e ignorei o som irritante, o cliente que ligasse depois das 8h. Antes de qualquer coisa, eu precisava tomar um café e dar uma ajeitada no rosto. Afinal, como recepcionista, eu deveria estar apresentável e não com cara de quem dormiu depois das 3h da madrugada.

Guardei a minha bolsa, liguei a cafeteira de refil e fui até o banheiro com a minha necessaire de maquiagem.

Definitivamente, eu estava horrível! concluí ao me olhar no espelho. Olheiras, rímel borrado, cabelos desgrenhados. A chuva e o vento logo pela manhã também não haviam ajudado.

Sem muito tempo para me arrumar, lavei o rosto e refiz rapidamente a maquiagem. Felizmente meus cabelos eram fáceis de ajeitar. Castanhos escuros naturais, lisos e compridos, bastava uma escovada e eles já estavam alinhados novamente. Fiz um rabo de cavalo baixo e me dei por satisfeita. Agora só faltava acordar, porque eu realmente estava me sentindo uma zumbi.

A vida dupla que eu mantinha há mais de um ano já estava me cansando. De dia, recepcionista; de noite, dançarina em uma boate. Sim, eu era uma stripper, mas não era uma mulher da vida, como muitos me julgavam. Eu não me prostituía, eu apenas dançava e meu único companheiro era o mastro de pole dance.

Muitas das meninas que trabalhavam comigo faziam programas com os clientes da própria boate, mas eu não me via naquele papel. Eu precisava do dinheiro extra dos shows para pagar minhas contas e tentar guardar um pouco, pois o meu sonho era continuar a faculdade de psicologia que eu havia abandonado há dois anos; contudo, não estava disposta a vender meu corpo para isso.

Pressão não faltava. O dono do local vivia me enchendo o saco com isso e tentava me empurrar alguns clientes. A grana era boa, mas eu sempre recusava. Não valia a pena.

"Pense bem, Joy", ele dizia, "Você é a garota mais linda daqui, está perdendo uma ótima oportunidade de ganhar dinheiro fácil!".

Fácil, só se for o rabo dele! Desde quando submeter o próprio corpo aos prazeres de um homem qualquer era fácil? Eu até conhecia uma ou outra garota que gostava daquilo; tudo bem, não julgo, cada um no seu quadrado, mas eu não era assim. Dançar e se expor em um palco era uma coisa, eu até curtia, mas ser tocada por desconhecidos... Não, querido, muito obrigada, mas dispenso.

O telefone voltou a tocar e, desta vez, atendi, pois já estava no horário de abrir o consultório e esse era o meu serviço.

- Bom dia, clínica odontológica. Amanda falando. - Sim, meu nome é Amanda, Joy é meu outro "eu".

Após marcar a consulta para o cliente, dei uma olhada na agenda. A Dra. Helena só começaria a atender às 8h30, ou seja, em poucos minutos ela chegaria. Já o Dr. Jair teria clientes a partir das 10h.

No geral, meu trabalho era tranquilo. Os dois sócios da clínica eram agradáveis e excelentes profissionais, dificilmente atrasavam, o que facilitava o meu lado de organizar a agenda deles.

A única pedra no meu sapato era o marido da Dra. Helena. Advogado e inconveniente pra caralho, Luiz, de uns meses para cá, começou se mostrar um filho da puta; sempre me comendo com os olhos quando resolvia aparecer por lá. Fora das vistas da esposa, é claro. O infeliz até chegou a me convidar para jantar um dia. Fiz que não entendi e o ignorei. Não me interessava nem um pouco sair com um cara casado e longe de mim arrumar uma encrenca desse tipo.

O problema era que Luiz não desistia. Estava sempre rondando o consultório e querendo saber sobre a minha vida. Era óbvio que eu mentia. Eu nunca contei para ninguém sobre a minha vida dupla; não era louca, pois sabia que me julgariam por isso. Além disso, mesmo eu não tendo namorado, eu dizia para ele que eu estava saindo com alguém. Mas o marido da minha chefe se fazia de surdo, era insistente e isso me dava nos nervos.

Obras do Amor - Barriga de Aluguel - DEGUSTAÇÃO cap. finais continuamOnde histórias criam vida. Descubra agora