0|3 Esquesita Liberdade

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Sento-me em frente ao grande espelho enfeitado de lantejoulas,  com os cotovelos apoiados na penteadeira, após dias escondendo-me atrás das cortinas desse quarto, com olheiras visíveis e um visual desengonçado, estava novamente voltando ao normal, ou quase.

Joguei a mochila nas costas e deixei  os longos fios loiros livres, os sentido acariciar meu pescoço, fazendo cócegas, abrindo a porta, forcei um pouco a vista ao atravessar o corredor escuro.

E Não preciso nem dizer o quanto meus pais ficaram felizes por me verem sair daquele quarto e ir a aula novamente, minha mãe não escondeu sua satisfação e felicidade quando me entregou o dinheiro da passagem, o ônibus amarelo continuava o mesmo, o céu nublado ainda era o mesmo também, mas ainda sim algo estava diferente, ah sim, agora tem um assento vazio do meu lado, minha mão não era mais entrelaçada a nenhuma outra, apenas segurava meus livros, ninguém foi me buscar essa manhã, nem recebi mensagens de "bom dia", que sensação estranha. Esquisita liberdade.

— bom dia — desejei ao motorista quando entrei, tirando desajeitadamente o dinheiro do meu bolso, empurrando a canaleta em seguida, os estudantes que também iam no mesmo ônibus soltaram um ofegar surpreso ao me verem, me senti extremamente incomodada com todos aqueles olhares curiosos, abutres.

Abaixei a cabeça olhando para meus pés, sentido um arrepio percorrer minha espinha, e me sentei em qualquer banco vago, conhecidentemente junto a um amigo.

— fala sério, pensei que nunca mais te veria garota! — virei-me prestando total atenção aos traços dele que por algum tempo até me falharam a memória, Jimin  me ofereceu um sorriso bonito, e abraçou-me com força.

— eu fiz apenas um pequeno retiro.

O rapaz estreitou os olhos como quem diz : eu não sou bobo, mas não me confrontou, apenas acenou com a cabeça acariciando meu ombro , até conversamos um pouco mas logo ficamos em silêncio, o assunto estava morto, e como dizem os antigos: "se não tem nada bom a dizer, fique calado".

Prestei atenção ao caminho com meus fones nos ouvidos, sentindo saudade até das árvores iguais que passavam quase como um borrão colorido, eu me sentia como um surfista em mar aberto, prestes a ser engolido por uma onda, e então  o ônibus parou...ele entrou...e eu me afoguei.

Ele, com seus cabelos escuros e bem penteados, com seus coturnos brancos e casaco de moletom que deixava-o tão casualmente atraente, Jungkook tirou as moedas do seu bolso e o cartão de passe,  eu o acompanhava com os olhos, hipnotizada,  sentia que não podia perder nenhuma mínima expressão dele.

E quando  passou os olhos pelos passageiros os fixou em mim tomando uma feição seria, como se tivesse visto uma criatura repugnante , e só voltou a si quando o motorista o cutucou pedindo para que achasse logo um banco, com um pedido de desculpas e um andar desengonçado sentou-se longe, mas ainda sim era visível para mim.

Reparei que em suas mãos a aliança dourada já não refletia a luz do sol que escapava pela janela,  não estava mais lá, enquanto a mim, nem sei onde a coloquei naquela noite, talvez tenha a perdido naquele beco, não importa, aquele pedaço de metal era só um símbolo, que na real não valia mais de nada.

E com um nó na garganta fechei meus olhos tentando chegar a escola sem derramar nenhuma lágrima.

— Mônica, você está muito atrasada na matéria, e não trouxe  nenhum atestado que justifique as faltas, se continuar assim vai perder o ano — concordei sem encarar nos olhos a mulher mais velha, afinal, eu não tinha desculpa plausível, a não ser qu...

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— Mônica, você está muito atrasada na matéria, e não trouxe  nenhum atestado que justifique as faltas, se continuar assim vai perder o ano — concordei sem encarar nos olhos a mulher mais velha, afinal, eu não tinha desculpa plausível, a não ser que ela queira ouvir meus problemas amorosos— estou preocupada com você! — acrescentou.

— me desculpe Senhora Diretora, prometo que não faltarei mais, tive meus motivos...mas não irá se repetir — respondi, sem querer dar detalhes, com um olhar de pena ela deixou que eu saísse apenas com uma advertência, eu certamente estava tão cabisbaixa que despertava esse sentimento em qualquer um.

Os corredores já vazios e silenciosos me levaram até meu armário que já não era aberto a semanas, tirei a chave do bolso de fora da mochila abrindo-o, e como era de praxe, várias fotos caíram da pequena cabine, fotos dele, fotos nossas, eu devia  joga-las fora, pensei.

Mas como uma covarde as recolhi e coloquei debaixo de alguns livros , bem escondidas, me desculpe dignidade,  ainda não te recuperei.

Peguei minha apostila de álgebra apoiando-a debaixo do braço, soltei o ar preso em meus pulmões quando parei enfrente a porta, dando três batidas na madeira escura, o senhor Antenor puxou a maçaneta com uma careta de desaprovação levantando um pouco o blazer pra encarar o relógio em seu pulso, engulo em seco tomando partida antes de sua bronca.

— eu estava na diretoria — me justifiquei, ele concordou sem gostar muito e deixou que entrasse.

Foi bizarro, era como ser aluna nova de novo, todos os meus amigos  me encaravam, uns com curiosidade  e outros com...O que era aquilo ? Pena ?

Enquanto Jungkook nem se quer se deu ao trabalho de olhar-me. Por falar nele,  a minha cadeira ao seu lado já estava ocupada, minha dupla já parecia ser de outra, assim como sua atenção.

— ham, desculpa Môniquinha , pensei que você não voltaria mais, por isso mudei de lugar — Carmela sorriu amarelo, concordei um pouco perdida sobre onde deveria me sentar agora.

— Mônica, se apresse em achar uma carteira — Antenor, um pouco enfurecido pelo tempo que o estava fazendo perder me apressou batendo palmas.

— pode sentar aqui! — o garoto do fundo, que nunca trocou uma palavra comigo e nem eu com ele tirou sua mochila camuflada da cadeira me oferencendo um lugar.

assenti, até um pouco aliviada por sair daquela situação.

— obrigada — sussurrei me sentando.

— por nada.

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