1. Posso sentar com você?

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Breno queria que essa aula terminasse logo, ele odiava com todas as forças a psicanalise. Diferente da sua colega de classe Yasmin que nem piscava os olhos direito enquanto o professor Jeferson falava.

Quando o intervalo tocou ele até suspirou fundo de alívio e Igor, seu outro colega de classe riu.

- Você não gosta mesmo de psicanálise né?

- De jeito nenhum, gosto do professor Jeferson, mas odeio psicanalise.

Breno ajeitou sua bolsinha de doces esperando as pessoas chagrem até ele. O garoto era estratégico sentava bem em frente a saída e deixava a bolsa aberta na hora que todos iriam sair.

Sempre foi um sucesso seus doces desde que começou a faculdade, alguns dos seus colegas já tentaram vender doces na sala de aula também, mas os doces do Breno eram os melhores segundo os outros.

Seus doces eram tão conhecidos que pessoas de outras salas apareciam para comprar também.

- Quais doces tem hoje, Breno? - Uma das suas colegas perguntou.

- Hoje eu tenho torta de morango, torta holandesa, sensação e mousse de maracujá com ganache de chocolate.

E assim ele passava metade do tempo do seu intervalo vendendo seus doces. Hoje as vendas foram boas e sobraram poucos doces, que talvez conseguiria vender na saída.

Levantando da mesa, pegou a sua bolsa e foi encontrar com seus três colegas de sala: Yasmin, Igor e Amanda.

Yasmin era uma menina preta baixa, cabelos pretos e olhos pretos que a deixavam aterrorizante quando estava brava.

- Como foram as vendas hoje? - Ela perguntou assim que Breno se aproximou.

- Foram bem. - Breno respondeu.

- Aposto que com a Sabrina comprando elas foram ótimas. - Amanda brincou. Ela era branca, baixinha, tinha olhos verdes e cabelos loiros.

- Besta. - Ele respondeu.

- Por que você não investe, Breno? - Perguntou Igor - Ela gosta de você desde o primeiro semestre.

Sabrina era uma menina colega de turma deles, que desde o primeiro semetre dava em cima do Breno indiretamente, ele fingia que não entendia, mas sabia que isso acontecia sempre.

Ela também era uma fiel compradora dos seus doces, uma das melhores ainda.

Mas o problema não era a garota, Breno era homossexual, só não era assumido ainda e na cabeça do garoto nunca seria. Ninguém sabia sobre ele, nem os seus amigos sabiam ou desconfiavam.

Então, Breno deu a resposta de sempre.

- Estou focado nos estudos agora gente e não quero distrações.

- Chato. - Yasmin retrucou.

Felizmente Igor mudou de assunto e logo eles voltaram para a sala de aula. E Breno teve que aturar mais duas horas de psicanalise.

- Finalmente essa aula acabou, pensei que ela seria eterna. - Reclamou Breno.

- E o professor ainda estendeu a aula por mais trinta minutos - Igor completou.

- Mas também esse povo não para de perguntar e ainda pergunta desnecessária - Amanda falou irritada - Já estamos no sexto semestre e eles ainda não aprennderam fazer pergunta necessária para a aula.

- Ainda bem que falta pouco para acabar.

- Só dois anos. - Igor falou de forma irônica.

- Então, só isso. - Brincou Breno - Bom, eu vou almoçar aqui hoje, então até mais, galera.

Os seus três amigos se despediram e Breno caminhou para um dos restaurantes da universidade que inclusive era o seu favorito.

Mesmo sabendo cozinhar, a maior parte dos dias Breno tinha preguiça de fazer a sua própria comida, principalmente por morar sozinho.

Então na maioria dos dias ou ele ficava sem comer ou almoçava na universidade. Para a sua sorte hoje estava servindo sua comida favorita: fricassê de frango.

Breno só comia naquele restaurante porque a comida parecia aquelas caseiras de mãe, já que o mesmo era bem chato para comer.

Após pedir o seu prato e um suco de melancia, sentou-se a última mesa sobrando, pegou um livro da mochila, começou a ler de onde parou e esperou a atendente trazer o seu pedido.

Não demorou nem dez minutos para o seu pedido chegar, ele agradeceu, pousou o livro na mesa e começou se deliciar com a comida.

Quando Breno focava em fazer algo parecia que ele esquecia o mundo ao redor, focava naquilo e o resto não importava mais. Por isso que quando alguém o chamou, a pessoa precisou chamá-lo três vezes até ele perceber que era com ele.

- Olá. - Breno olhou quem o chamou. Era um menino branco, alto, loiro, um pouco acima do peso e tinha olhos verdes.

- Oi, posso me sentar aqui?

- Pode levar a cadeira. - Breno falou nervoso e se atrapalhando com as palavras.

- Ah, não, é que as outras mesas estão cheias, é que eu queria sentar aqui - O loiro disse se explicando.

- Claro, mas ainda não terminei...

- Sem problemas, pode continuar aí mesmo - O menino sorriu,

- Sendo assim, tudo bem, pode se sentar. - Breno deu um sorriso amarelo e o menino agradeceu e se sentou.

Breno só esperava que não chegasse nenhum amigo dele e o expulsasse dali. Ele continuou comendo ignorando o menino que também comia. Mas o garoto não queria o ignorar e puxou assunto.

- O que você estuda? - Ele perguntou e demorou alguns segundos até Breno perceber que é com ele.

- Psicologia e você? - Perguntou educadamente.

- Arquitetura. - Breno pensou que o assunto acabaria ali, mas não acabou. - Você mora aqui mesmo? Digo em Maringá, não na universidade.

- Sim e você?

- Também.

Breno se sentia nervoso, ele amava ficar admirando olhos claros e ele se perdia no olhar do seu companheiro de mesa.

Toda interação com o garoto era uma surpresa para ele, nunca foi de chamar atenção de ninguém nem para amizades, não que ele não tinha amigos, mas sempre ficou em seu canto.

Ele achou o garoto muito bonito, por isso também ficou chocado nele puxar assunto.

Isso não quer dizer que ele gosta de você, larga de ser emocionado. Racionalizou Breno.

- Está em qual semestre? - Ele perguntou.

- Sexto e você?

- Oitavo. Já pensa em qual área vai seguir? Gosto de psicologia, mas não teria coragem de estudar, tem muita leitura.

- Tem mesmo, e já sim, quero clinicar e ficar na área da pesquisa.

- Isso é bom. - O garoto falava enquanto Breno terminara de comer.

- Tenho que ir - Ele falou se levantando e o rapaz parecia decepcionado.

- Qual seu nome? Sou o Felipe.

Breno hesitou em dizer, lembrou-se do versículo que dizia para ele fugir da tentação, se uma só conversa já fez Breno se emocionar, imagina se ele continuasse isso.

- Até mais, Felipe. - Ele sorriu e foi andando, mas ouviu Felipe gritar.

- Até estranho.

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