Um único feixe de luz vindo da janela me avisava que já era dia. Não lembrava como cheguei em casa ou o que tinha acontecido antes. Minha mente parecia um borrão nada artístico.
O cuco na parede mostrava que eram oito horas e, supondo que eu não tinha apagado na sala por mais de algumas horas, devia ser sábado, ou seja, dia de fazer qualquer coisa menos trabalhar.
Então por que caralhos eu estava procurando uma camisa para ir ao Cubicles?
Por algum motivo eu não achava minha camisa branca que eu usava para ir trabalhar. Camisa, esta, que eu usava na sexta, que eu vestia quando uma mulher passava a mão dela em mim antes de... antes de sujar de sangue.
Meu sangue.
Tranquei a porta e corri ao Cubicles que estava praticamente vazio, apenas o Adam fazendo café e o mesmo cara do bloodmary do dia anterior.
"Adam, você viu minha camisa?"
A pergunta parecia idiota assim que saiu da minha boca. Eu podia ter perguntando outras coisas, ter sido educado e dado 'oi'. Meu chefe não é máquina de lavar para saber onde está minha camisa ensanguetada.
"Oi.... Que? Que camisa?"
"Ontem, uma mulher me mordeu e deixou minha camisa com sangue"
Eu poderia perguntar se ele sabia como cheguei em casa, se ele conhecia a mulher ou até mesmo o ceifador. Ele me responderia que não ou diria que eu sou esquizofrênico.
"Cara, não sabia que tu curtia esse tipo de foda"
Talvez por vergonha da conversa, o homem de cabelo vermelho tossiu.
"Ah, entendi, você não se lembra de ontem. Bom... Você ficou bêbado e eu e o Gerard te levamos para a casa, só que eu não sei nada de camisa"
"Nem eu"
Eu já não me importava com a camisa, com a mulher ou se eu fodi alguém ou não. Apesar de achar estranho a história de está bêbado em trabalho, o que me incomodava era alguém ter entrado na minha casa.
"Como estraram na minha casa?"
"Não é muito recomendado deixar a chave no carpete, sabia?"
A pergunta - retórica- me lebrava a forma como meu professor de biologia me travava nas aulas de educação sexual. Sarcástico, grosseiro, uma sabe - tudo que se acha superior.
Isso me irritava.
Gerard me encarava como se esperasse uma especulação minha. Só que não tinha como responder aquilo, não havia uma resposta para um fato que todo mundo deveria saber.
Para não parecer um tolo, eu respondi o que minha mãe dizia para mim.
"Eu não sou todo mundo"
"Acredite, eu percebi"
E riu
Ele riu de mim.
Me sentia tão envergonhado que a única coisa que eu conseguia fazer era olhar para o chão. Observava meu vans desamarrado de forma estúpida enquanto os dois voltavam a mesma conversa de antes de eu chegar.
Sabia que eu devia ir embora, Adam podia está certo, eu devia ter bebido além da conta, talvez me drogado e ter perdido minha camisa em uma transa louca com uma estranha que parecia minha ex - por sinal, eu até tinha prometido parar de ter recaídas. Tudo tinha sido na minha cabeça, o baque da minha cabeça, minha quase morte e o ceifador de merda que não pegou minha alma.
Enquanto amarrava meu tênis e pensava em como eu sairia de forma que ninguém se importasse se eu não me despedisse, percebi que o Gerard é um tanto inquieto, batendo o pé ritmicamente no chão, fazendo um barulho bem baixo apesar de usar um coturno tão grosseiro, igual ao do ceifador.
Seria Gerard o meu ceifador inútil?
A ideia de tudo ter sido real me alarmou tanto que eu bati a cabeça na quina no balcão.
"Bater muito a cabeça pode causar tumor, cuidado"
"O que quer dizer com isso?"
Após um pequeno silêncio, conhecido como hesitação, ele me respondeu.
"Nada"
Ele não parecia mais tão confiante, não me olhava nos olhos e Adam até tinha ido para os fundos.
Ele era meu ceifador, uma louca tinha me mordido e fingido ser minha namorada. Eu estava sóbrio há cinco meses por causa da minha aposta, e nunca beberia em trabalho - não de novo.
Uma pessoa nova havia chegado, um homem alto de cabelo cacheado, quebrando o silêncio que se estendia e comprimentando o Gerard e iniciando uma conversa.
Queria gritar que eles não tinha o direito de me esconderam as coisas, mesmo que eu nem soubesse o que estava sendo omitido. Havia perguntas a serem feitas, queria saber quem era a mulher que me mordeu, como eu não morri por hemorragia e quem caralhos era ele.
Como minha presença parecia ser invisível, eu apenas fui embora esperando poder conversar com o Gerard no futuro. Estou acostumado em ser ignorado, nem dói mais quando falam por cima de mim. A escolha de esperar parecia mais sábia.
Andei sem pressa para casa, observando o céu nublado da região, com prédios tão grandes que pareciam esconder até o mais brilhante raio de sol.
Meu apartamento ficava em um prédio velho espremido entre um restaurante de comida caseira e um mercado vegano, todo arrumado de forma minimalista com apenas um relógio cuco de enfeite na sala.
As boas vindas ao lar era marcado com um carpete que minha mãe me deu quando me mudei, originalmente era uma mensagem simples que eu fiz questão de riscar e escrever um digníssimo "Vaza" com spay vermelho sobre as letras brancas do caloroso "seja bem vindo". Eu não sou bom com trabalhos manuais, e o tapete acabou virando um monte de vermelho sobre o preto com minha frase quase imperceptível.
Foi encarando o piso vazio embaixo do carpete que lembrei que dei a minha chave reserva para a vizinha regar as plantas do meu quarto.
Não tinha como entrar no apartamento por outro lugar. Minha porta não tinha sido arrombada e minha outra chave estava na minha meia direita.
Eu podia até está agindo como um esquizofrênico mas Adam e, principalmente, Gerard eram os piores mentirosos compulsivos que eu já tinha conhecido.
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Don't give me bullets I'll give to you my love
VampirosFrank nunca foi especial, de fato , ele era estranho, agia de forma impulsiva e era extremamente grosseiro. Mas especial? Nenhum pouco. Porém, tudo muda quando conhece Gerard Way, um homem cujo a idade é um mistério, assim como tudo que o envolve. ...