LÓTUS - Behind The Scenes

Capítulo 2

- Já arrumou suas malas, Bella? Não se esqueça do seu material escolar, sua tia me informou que mesmo virando Trainee, a empresa ainda irá coloca-la em um colégio... - Mesmo através daquele aparelho eletrônico, era inegável a preocupação de minha Mãe, e eu a compreendia de certo modo. Não deveria ser fácil deixar sua única filha ir para outro continente, ainda mais com plenos quinze anos.

- Não se preocupe Mãe... – Dei um pequeno sorriso, mesmo sabendo que ela não poderia ver, de qualquer forma eu esperava que ela pudesse sentir que eu estava bem, por mais que fosse através da linha de telefone. Tanto ela quanto meu pai sempre haviam tentado me proteger do mundo exterior, obviamente pelo fato de eu ter nascido com uma característica rara, o que sempre contribuía para a proteção em excesso. Eu sabia que se eles tivessem condições de sair da empresa em que trabalhavam, com certeza estariam me acompanhando em cada detalhe daquela nova vida. E eu não negaria sentir falta de ambos naquele momento. -... Como eu já disse antes, estou levando cada item necessário que havia na lista que a Big Hit mandou pelo meu e-mail, e se caso faltar algo, eu irei comprar, por isso não se preocupe, okay?

Por um instante, senti o outro lado da linha silenciosa, o que me fez sorrir. Eu a conhecia perfeitamente para saber que ela estava tentando encontrar outra forma de rebater meus argumentos, mesmo sabendo que eu estava certa.

- Você promete me ligar pelo menos duas vezes por dia? Eu sei como é estranho para você estar em um país totalmente novo, Bells... – Ouvir a voz de minha mãe se tornar levemente manhosa, me fez rir baixo, era engraçado vê-la sair da armadura que tinha tanto costume de usar.

- A Senhora tem sorte da empresa permitir celulares, Mãe... Senão provavelmente só iria ter noticias pela minha tia – Me endireitei lentamente sentindo uma leve dor em minhas costas, eu estava naquela posição já fazia uns bons minutos, apenas para arrumar o restante da mala. Passei uma de minhas mãos em meu pescoço, o massageando de maneira suave, logo prestando atenção as malas em minha frente finalmente finalizadas. Suspirei aliviada.

- Sua tia provavelmente não aguentaria seu pai a atormentando a todo instante... - Sua risada ressoou no outro lado, me fazendo acompanha-la. Desde o momento que minha mãe conheceu meu pai, a mesma nunca se deu o trabalho de aprender coreano, por conta disso, a única forma de me comunicar com ela, era somente pela minha língua nativa. Por outro lado, a única pessoa da minha família paterna que conseguia se comunicar em inglês, era justamente o meu pai.

Permiti-me sentar em minha cama, por um breve instante. Minha manhã havia sido focada apenas na organização das minhas malas, que por sorte eu não havia desarrumado tanto desde a minha chegada à Coréia. Observei o quarto que sempre ficava em minhas férias escolares. O guarda roupa de tonalidade clara e figurinhas coladas, representando a quão nova eu era na época que havia tido a brilhante ideia de enfeita-lo, as paredes repletas de pôsteres de bandas famosas que haviam sido responsáveis pelo meu sonho e não menos importante o grande urso de pelúcia que mesmo tendo ganhado quando eu tinha quatro anos, se mostrava em um ótimo estado.

- Filha... Eu preciso desligar, terei uma reunião daqui cinco minutos e não posso me atrasar... Não se esqueça do que prometemos, me ligue ao menos uma vez por dia, certo? – Acordei da minha breve distração e assenti involuntariamente.

- Certo... Mande um beijo para o meu pai, sei que ele também deve estar preocupado... Diga que eu o amo – Sorri sentindo a saudade me lembrar do quão eu ainda necessitava dos dois perto de mim, era inevitável não sentir vontade de chorar. Seria a primeira vez que eu iria morar longe de meus pais. A ouvi se despedir e murmurar diversas vezes que me amava, logo por fim desligando.

Deixei meu corpo cair sobre a superfície macia da cama, para em seguida fechar meus olhos e suspirar. Por muito tempo eu ouvi que em certo momento, era necessário que o filho saísse das asas dos pais, e finalmente abrisse as suas próprias asas e voasse para longe, mas em nenhum momento eu imaginaria que seria tão cedo e de modo tão surpreendente.