Céu de Carolina

Capitulo 7

Acordei decidida a continuar nas buscas pelo emprego. Não estava sendo fácil, aqui as pessoas não costumam confiar em quem não tem um bom histórico na cidade. Mas estou confiante.

Meu celular vibrou com uma mensagem do Mike me pedindo desculpas pela forma que se despediu ontem e me chamando para ir no ensaio da banda hoje a noite. Meu coração revirou. Não estava preparada pra ver o Gabriel depois da noite de ontem. Se não fosse a Liss, a gente teria se beijado, e eu tenho certeza que não seria um beijo qualquer.

Somos amigos.

Ele namora.

Logo, nada pode acontecer.

Repeti três vezes pra ver se entra de vez na minha cabeça.

Eu precisava me dispersar e infelizmente a única pessoa disponível no meu atual livrinho de pretendentes era o Mike. Ele é legal quando tá de boca fechada, então não deve ser tão mal assim beija-lo.

Respondi a mensagem dele com um "sim" e ele disparou carinhas felizes. Revirei os olhos ao lembrar da noite passada.

Passei o dia ajudando minha tia arrumar a casa e jogar algumas coisas velhas fora que estavam empilhando no porão.

- Nossa, tia! Quanta coisa! A senhora não vem aqui há anos, né? - ela riu - se eu procurar um elefante aqui, não acho.

- Seu avô nunca deixa eu mexer em nada dessas coisas. Está sendo uma exceção.

- Ele sente muita falta da vó, né? - perguntei e ela apenas assentiu. - Como ela era? Digo, minha mãe nunca falou muito, e todas as vezes que eu vinha pra cá elas sempre brigavam e tínhamos motivo para ir embora cedo.

- Sempre foi assim. - Começou. - Sua mãe e ela discutiam por tudo, duas cabeça dura. - Rimos juntas. - Mas ela lembra muito você.

- Problemática? - Sugeri.

- Deixa de ser boba. Ela era forte, extrovertida, ignorante também. - Sorriu pra mim. - Mas nunca deixava ninguém passar por cima dela. Corria atrás de tudo que queria. O que atrapalhava era a forma que ela queria ganhar o mundo, fazendo tudo sozinha e se achando a dona da razão.

- Ah, acho que não somos parecidas não, tia! - Ela riu alto.

- Não, né? - brincou e piscou pra mim.

Depois de desempacotarmos algumas coisas e limparmos todas as prateleiras do galpão, minha tia pediu que eu organizasse o restante das coisas de forma organizada, diferente da bagunça que estava antes.

Liguei o som no volume mais alto, e deixei música guiar o trabalho. Quando me dei conta, em uma girada, Gabriel no topo da escada encostado no corrimão me olhando. Levei um susto que até senti meu corpo dar um pulinho. 

- Virou assombração agora, é? - brinquei e abaixei o som.

- Ah, por quê abaixou? Eu estava me divertindo com a cena. - Continuei arrumando as coisas, quieta. - Aliás, não sabia que por dentro daquela menina ranzinza e grotesca, tinha uma alma saltitante e feliz. Bom saber. O que te deixou assim hoje?

Eu estava de costas pra ele, e mesmo assim sabia que ele estava me encarando. Droga! Ele sabia muito bem como me fazer corar e deixar sem resposta.

- Minha tia me deu muito trabalho pra fazer, apenas encontrei uma forma de ficar menos cansativo. Só isso.

- Hum... entendi. - Ele parecia confuso. - Queria conversar com você sobre ontem antes da... - SARAH! Sarah, querida, onde você colocou a caixa de utensílios de costura?