Capítulo único

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"Eu tenho esses pensamentos tão frequentemente que eu deveria
Preencher aquele vazio com o que eu comprei uma vez
Porque alguém roubou o rádio do meu carro
E agora eu só me sento em silêncio."
- Car Radio (Twenty one pilots)


Damian Wayne encarava o entediante teto de seu quarto como se implorasse que algo impressionante acontecesse.

Ele estava melancólico, sabia disso. Tinha total conhecimento que, desde que Batman o proibiu de ser Robin, ele não via mais sentido em sua mera existência.

O garoto não queria ter matado Victor Zsasz, mas, naquele momento, ele não viu outra alternativa. Victor era um assassino psicopata que matava pessoas e fazia cicatrizes em seu próprio corpo a cada morte feita.

Damian fez um favor para a população de Gotham, certo? Bom, não era isso que Bruce Wayne pensava. Assim que o Morcego viu o criminoso no chão, com a garganta cortada, e Robin com as mãos cobertas pelas luvas verdes que adquiriram um tom vermelho.

O espanto seguido por gritos ainda estava na mente do garoto. Ele nunca havia visto seu pai daquela forma. Nem mesmo quando Jason atirou no Pinguim.

Quando Capuz Vermelho cometeu essa atrocidade (?), Batman o deu uma surra que quase o matou. De maneira fria e calculista. Sem se importar que estava batendo em seu próprio filho.

Damian não iria mentir. Ele esperou receber a mesma punição que Jason sofreu. Esperou receber um soco, um pontapé, alguma coisa. Mas isso não aconteceu.

Fazia duas semanas que o garoto não encontrava o mais velho, seja na Batcaverna ou até mesmo na Mansão. Nem um esbarrão por algum corredor.

Alfred dissera que Bruce estava muito ocupado com assuntos da Liga e por isso eles não se encontravam. Mas, por algum motivo, intuição talvez, Damian sabia que seu pai estava lhe evitando.

Ao invés de uma surra, Bruce deu à Damian um castigo pior: o desprezo de um pai.

Damian levantou-se do chão frio e  aconchegante, rumo ao seu guarda-roupa. Pegou uma pequena muda de roupas, apenas o necessário, e enfiou em uma mochila qualquer.

Não poderia levar sua katana, as pessoas iriam estranhar um garoto perambulando por aí com uma espada oriental, portanto, decidiu levar um canivete que Jason lhe dera uma vez.

Ele não sabia exatamente para onde ir, mas sabia à quem poderia recorrer.

***

- Então, deixa eu ver se entendi bem. - Todd respondeu, após Damian dar um breve resumo do que acontecera.

Damian sabia que o mais velho estaria em algum bar, era a "noite de folga" dele, por isso não foi difícil encontrar Jason largado em um balcão com alguns copos vazios à sua frente.

- Você desobedeceu o lema ridículo do velho e ele pegou seu uniforme. - Jason falava pausadamente e um pouco arrastado, a bebida deveria estar fazendo efeito.

- Sim, sabia que você não era tão inteligente, mas não pensei que não soubesse interpretar uma fala.

Capuz Vermelho não disse nada, apenas observou o jovem de catorze anos sentado ao seu lado. Estava pálido e com olheiras bem visíveis embaixo dos olhos verdes sem brilho. Maldito Bruce.

Suspirou e chamou o barman, pedindo mais duas rodadas, uma para ele e outra para a criança, de seja lá o que ele estava bebendo.

- Ao contrário de você eu não sou um alcoólatra, Todd, e muito menos uma criança. - Damian ralhou, os olhos verdes começando a ficar sanguinários. - Agora arranja um chá pra mim, xícara de porcelana, duas gotas de limão e uma colher de açúcar.

- Você acha mesmo que eles vendem chá em um bar, pirralho? - Todd arregalou os olhos azuis, incrédulo, e em seguida soltou uma sonora gargalhada.

Damian revirou os olhos mas não pôde conter um sorriso. Jesus. Como podia Jason conseguia fazer com que ele desse um sorriso em uma situação dessas?

- Tá, uma coca, então. - Disse, por fim.

***

Após vários copos de bebida e uma coca, Damian observou Jason jogar-se sobre o pequeno sofá da casa do mais velho. O apartamento ficava localizado em uma zona não muito "agradável" de Gotham, bem perto do Beco do crime.

Ele não sabia que Todd conseguia ser sentimental.

- Você dorme na cama, eu durmo aqui no sofá. - Ouviu um Jason deitado de barriga pra baixo murmurar. - Sem discussões, pirralho.

É óbvio que ele não iria discutir. Quem em sã consciência trocaria uma noite em uma cama quentinha por um sofá pulguento? Talvez Jason. Mas era porque o mais velho se preocupava com Damian, com seu jeitinho torto de amar.

Ao menos era isso que Damian pensava.

Andou rumo ao quarto e ao abrir a porta pensou que um furacão havia passado pelo cômodo.

A cama estava bagunçada, havia algumas roupas de Jason largadas no chão (incluindo meias sujas) e buracos de bala "decoravam" as paredes do quarto.

Tudo bem, ele conseguiria aguentar dormir uma noite nesse campo de guerra. Era melhor do que ter que passar mais uma noite na Mansão, correndo o risco de ter pesadelos.

Com esse pensamento em mente, tirou o casaco preto e deitou-se na cama.

Pronto para mergulhar no mundo dos sonhos.



Essa one-shot foi escrita quando comecei a me apaixonar pela banda Twenty One Pilots (as músicas deles são incríveis) e me inspirei na música Car Radio para escrever essa one-shot do Damian.

Para quem não entendeu a "trama", por assim dizer, na música o personagem tem o rádio do carro roubado e passa a ficar triste por conta disso, pois ele necessitava do rádio para viver a sua vida (?).

Na one-shot, o Bruce toma a roupa de Robin do Damian. Que era o "rádio" dele. Quem conhece o Damian sabe que ser o Robin, para ele, é uma forma de honrar seu pai. E se ele não pode ser o Robin, quem ele é?

Acho que ficou confuso, mas é mais ou menos assim rsrs.

Espero que tenham gostado.

Não se esqueçam da estrelinha!

Car RadioOnde histórias criam vida. Descubra agora