A primeira impressão

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      Caro leitor, fiquei horas e horas matutando uma maneira de me apresentar, não quero que pense que sou louca, então aviso de antemão que tudo que escreverei aqui é real, pelo menos para mim, é a maneira como eu me lembro de determinadas situações ou no caso de histórias as quais eu era muito nova ou não estava presente,  é a maneira que me contaram elas; dito isso, podemos ir direto ao ponto. Meu nome é Vitória S. e não quero especificar meu segundo nome pelo fato de não gostar dele, pode estar pensando "Porque não inventou um nome então?" A resposta é simples, eu não quero outro nome, gosto de Vitória, e mais para frente vai entender melhor o que quero dizer. 

       Para que possa entender todo o contexto da minha vida, vou começar do começo, pelo meu nascimento; era um dia comum de 7 de fevereiro de 2000, o ano do apocalipse, minha mãe estava um tanto apreensiva com meu nascimento desde que havia descoberto a gravidez, em parte por ser uma gravidez de risco e em outra, pelos inúmeros alertas a respeito do provável fim do mundo, e que azar seria esse se fosse real, eu e milhares de bebês estaríamos fadados ao caos antes mesmo de poder aproveitar um pouquinho do mundo, no entanto, eu nasci saudável e muito chorona. Na época, minha mãe tinha 26 anos, possuía um recente diploma de ensino superior e estava completamente vislumbrada ao me ver, eu admito, eu era uma gracinha, um pena não poder dizer o mesmo nos dias atuais; naquela madrugada todos foram me ver, ver o milagre, isso porque, como eu já disse, era uma gravidez de risco, e quando digo risco, quero dizer alto risco, para tentar explicar melhor, pouco antes de eu nascer, a medica achou que eu estava morta e que minha mãe não aguentaria me segurar. 

       Passado o caos momentâneo, fui nomeada de Vitória, apenas pela maravilhosa frase do médico, que olhou para minha cara chorona, me chamou de guerreira e disse que eu havia vindo ao mundo para vencer; vinte anos depois e ainda não entendi o que ele quis dizer, até agora não venci porra nenhuma, mas devo admitir que fui muito sortuda durante todos esses anos, mesmo que, houvessem momentos difíceis. O primeiro deles, foi quando minha mãe foi expulsa de casa, ela não tinha nada, apenas um emprego e um bebê; meu pai, era jovem demais, tinha apenas dezenove anos e estava desesperado, ainda estava no ensino médio e não tinha nenhum senso de responsabilidade, posso afirmar que graças aos meus avós, ele assumiu ao menos em parte a paternidade; durante alguns dias, tivemos que morar em uma floricultura, tendo apenas um colchão de berço e uma coberta para passar as noites frias e chuvosas da época, mas logo, os irmãos da minha mãe a ajudaram e com o tempo, ela se estabilizou e passamos a ter um lugar para morar tranquilamente. 

        Não posso reclamar, tive atenção e uma boa criação, comecei a ir a escola com apenas seis meses, chorei para ir e chorei para voltar para casa, de certa forma, eu nunca fui muito social, sempre gostei de ficar só, no meu canto, e todas as vezes em que eu tentava me aproximar, eu dava um jeito de fazer merda; eu tinha aquela coisa de criança de inventar mil e uma histórias para parecer interessante para os amiguinhos, eu sentia que nunca era suficiente, eles tinham mais dinheiro, um pai e gostavam de mostrar isso. Eu sei, deve estar pensando, "Como? eram apenas crianças!", e é ai que eu te conto que crianças podem ser cruéis, são como esponjas, absorvem tudo o que veem, em casa, na rua, na escola, e depois jogam isso do nada em vários momentos, sem intender a complexidade e as consequências disso; vou contar um pequeno acontecimento quando tinha mais o menos quatro anos. 

          Era um dia normal da escola, eu sei disso porque ia todos os dias da semana e porque foi lá onde o desastre aconteceu; estávamos todos no intervalo e eu como sempre andava de um lugar para o ouro tentando fazer amiguinhos, eu era um ser humaninho, já andava e falava para caramba, mesmo que fosse tudo errado; bem, todos os meus coleguinhas tinham lanchinhos saborosos, e eu, não tinha um tanto gostoso assim, não demorou muito, para que eu avistasse um saboroso doce que uma menina que estava sentada perto de mim, eu o queria muito e ela tinha o suficiente para as duas, mas não iria dividir. 

      - Me da um pedaço? - Eu perguntei. 

      - Não. - Ela respondeu. 

          Não sei porque, mas crianças são grossas e muito diretas, elas não se importam se vai te magoar ou não, apenas falam na lata,  o que querem dizer e dão de ombros, pelo menos era assim na minha época e isso me irritava demais. 

      - Por favor. - Eu insisti. 

      - Não ! - Ela disse ainda mais rude. - Se quer, pede para sua mãe comprar para você. - Deu de ombros.

      Sim! eu me lembro disso, lembro mesmo, eu queria muito aquela comida e sabia que precisava de uma boa justificativa; mas eu tinha uma ideia, vários desenhos da TV mostravam maneiras de ser fofa e convencer o amigos a dividir, eu apenas fui esperta.     

     - Minha mãe não tem dinheiro, ela é pobre e não temos muito o que comer. - Eu implorei. 

     Depois dessa frase, ela me deu parte do lanche dela, e alguns dias depois, a mãe dela apareceu na escola com cestas básicas e doações; eu juro que não fazia ideia de que tinha sido tão dramática e convincente, mas pelo visto fui e isso me rendeu uma bela bronca, minha mãe passou uma puta vergonha e teve que justificar que não passávamos necessidade. A moral da história é que crianças aumentam, inventam e criam coisas, mas isso não algo ruim, não fazemos por mal, apenas temos uma outra visão de mundo, somo frágeis e influenciáveis e isso nos torna propensos a coisas do tipo, afinal, posso dizer que minha primeira impressão de mundo, era que eu precisava me encaixar, era isso que todos diziam, tínhamos que ter amigos e fazer as lições, eu passava todas as tardes vendo desenhos e em todos eles, tinham crianças e animais felizes e saltitantes, as vezes tinham heróis e muitos amigos que lutavam com ele em sua jornada, era só o que eu queria, amigos, mas mesmo assim, eu ainda me sentia sozinha, sempre pareci inocente demais ou burra mesmo, eu não entendia quando me deixavam de lado ou faziam brincadeiras toscas, apenas chorava como sempre e isso me fez ser cada vez mais fechada e insegura a respeito das outras pessoas, eu tinha medo de tudo e isso me custou muito. Nem sempre a primeira impressão é boa, mas é a que fica. 

       

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⏰ Última atualização: Jun 27, 2021 ⏰

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