— É uma menina! — foi a frase mais dita naquele dia por todo lado. As pessoas comentavam sobre o tão esperado nascimento da filha do rei Escarlate.
Isso era motivo de comemoração! Os outros reinos se organizavam para terem alguns dias de festa e folia em nome do bebê mais esperado dos quatro cantos. Todos iam em direção a Morth, território dos Filhos da Terra, onde ficariam hospedados enquanto festejavam na Praça Divina, no centro da cidade principal. Um lugar todo decorado com vinhas e flores, o chão de concreto fazia barulho embaixo dos pés animados das pessoas que pulavam por ali ao som da música da banda local.
A Praça Divina era um lugar famoso conhecido por causa de sua lenda: ela foi o primeiro pedacinho de terra aonde os deuses começaram suas criações. Como homenagem, no meio dela havia uma grandiosa estátua folheada a ouro, com os quatros símbolos dos quatro primordiais brilhando na luz do sol e reluzindo na multidão reunida em sua volta. Decorada com jóias preciosas, protegida por uma cerca de espinhos que se enroscava em qualquer um que ousasse se aproximar. Uma forma de manter o patrimônio seguro de qualquer tentativa de profanação.
O pessoal dançava e cantava como se não houvesse amanhã. Afinal, era difícil acontecer uma situação onde estivessem reunidos sem ser em guerra ou assuntos políticos. Então, cada um ali aproveitava o máximo essa oportunidade de se reencontrar com velhos amigos ou apenas rir sem preocupações.
Estavam todos tão animados e concentrados nas atrações em homenagem a nova princesa que nem perceberam a sua ausência naquela festa. Apesar de se fazer apenas um dia desde que nasceu, ela teria que estar presente, pois iria oficializar seu domínio como a futura herdeira ao trono.
A recém-nascida dormia nos braços de seu pai, o rei Skärred Vintehell, que não tinha o semblante de alegria em seu rosto como todos. Ele chorava segurando aquele pedacinho de gente, derramando algumas lágrimas em seu rostinho delicado que tanto lembrava o de sua amada.
— Majestade? — um homem de porte forte e semblante preocupado, vestindo o uniforme dos guardas reais com um broche de ferro pregado no lado esquerdo do seu corpo que continha o símbolo do Reino Escarlate entrou no quarto, abrindo levemente a porta de madeira para ter um pouco de iluminação naquele ambiente escuro. — A população toda está na Praça Divina, comemorando o nascimento de sua filha. O senhor não irá comparecer na festa em sua homenagem?
Ele recebeu um grunhido irritado como resposta. Respirando fundo, o homem de barba loira entrou no cômodo, observando a bagunça. Móveis de luxo revirados; cortinas antes sempre abertas, fechadas sem deixar passar um rastro de luz solar; roupas jogadas no chão e até mesmo no lustre de cristal acima de sua cabeça. Antes de chegar na enorme cama com lençóis de seda escura, ele parou em frente a um pedaço de pano empoeirado na parede, o fazendo engolir em seco, pois sabia o que estava escondido ali.
— Ela tem o cheiro da mãe… — a voz grossa e falha do rei ecoou pelo quarto, chamando a atenção do companheiro. — Dói olhar para ela, para a minha própria filha, porque ela tem todos os traços da mãe.
— Majestade, todo o reino entrará em luto quando anunciarmos a morte da rainha, uma mulher tão querida e especial. — o homem loiro se aproximou da cama, sentando ao lado da figura deprimida, que segurava um bolinho de cobertas brancas nos braços. — Mas todos estão muito felizes pelo nascimento de Agnes! Essa criança conseguiu reunir até mesmo os anciães junto do povo, sem que houvesse qualquer reclamação!
Parece que foi só escutar o seu próprio nome que o bebê, antes adormecido, começou a chorar, se debatendo nos braços do pai. Skärred prendeu a respiração de forma instintiva, nervoso por presenciar seu primeiro choro após o parto. Não sabendo lidar com as reações de sua filha, entregou a criança ao seu melhor amigo. Ele a segurou com toda a delicadeza do mundo sem hesitar, e com um leve balançar e doces palavras, logo o choro se cessou.
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Maldição das Chamas
FantasyNós não temos controle sobre nossas vidas. Às vezes nascemos sob circunstâncias em que nada pode ser feito, além de aceitar nosso próprio destino. Mas, Agnes, Herdeira do Sol, aquela que todos temiam existir, se recusa a aceitá-lo. Aquela que carr...