— Está preparada para ser humilhada na frente de todos essa noite? — a pergunta veio acompanhada de um sorriso confiante, o jovem rapaz bebia sem tirar os olhos de sua adversária, querendo intimidá-la.
A lua e as estrelas iluminavam o céu da madrugada, e como sempre, o bar mais famoso de Órogon estava lotado. Apesar de ser localizado em uma área mais pobre do reino, pessoas de qualquer patamar se reuniam ali para beber, e é claro, jogar. KaKe é o lugar preferido daqueles que gostam de apostar até mesmo sua dignidade apenas pelo prazer da competição. Era difícil ver uma mesa que não estivesse jogando alguma coisa, seja com dados e baralhos, ou até mesmo uma simples moeda para ver quem iria pagar a próxima rodada.
Só que essa noite era diferente. Todos estavam concentrados em apenas uma mesa, aglomerados ao seu redor com intuito de assistir. Os participantes eram o motivo de tanta afobação, pois não era todo dia que eles poderiam presenciar Dicon, o melhor jogador do bar, conhecido por não ter uma única derrota, contra ninguém menos que a princesa Escarlate.
Agnes tirava sua franja caída em seu rosto para melhor observar seu oponente. Ele não parava de beber e mostrar suas três cartas para aqueles que estavam atrás de si, falando que será uma honra derrotar alguém da realeza. Ela mordeu sua língua, se contendo para não rir e estragar todo o seu jogo, cruzando suas pernas debaixo da mesa e suspirando alto o bastante para chamar atenção do outro em sua frente.
— Sabe, com toda a sua fama, acreditei que seria mais desafiador jogar contra você... — Agnes dava leve petelecos nas cartas negras em sua mão, fingindo estar desinteressada.
— O que disse? — Dicon perguntou totalmente ofendido, batendo seu copo na mesa e ajeitando sua postura na cadeira. — Se não está entretida o suficiente, que tal apostarmos mais alto, princesa? Além de pagar a conta de todos que estão aqui, o perdedor terá que se ajoelhar, implorando por perdão!
Agnes colocou suas cartas sobre sua boca, como se estivesse pensando, mas na verdade estava escondendo seu sorriso. Ela achava graça o quão simples era enganar um homem bêbado de ego inflado. Como alguém pode ser tão facilmente manipulável?
Sem mais nenhuma palavra, ela olhou para o juiz do jogo, que parecia um tanto nervoso. Afirmou com a cabeça, indicando para que ele prosseguisse a partida, e com a voz falhada, anunciou para os participantes mostrarem suas cartas.
Um tanto eufórico, Dicon jogou as suas cartas primeiro na mesa. No fundo preto estavam os números oito, nove e três, decorados em vermelho. A platéia que antes não calava a boca, ficou em silêncio, o fazendo explodir em uma gargalhada histérica.
— Vossa Alteza, como se sente ao perder para um... — enquanto limpava suas lágrimas, ele levantou o rosto para encarar sua adversária, ansiando ver a expressão de derrota em seu rosto. Mas quase engasgou com a própria saliva ao ver o resultado de suas cartas.
Todos estavam calados, encarando Agnes que segurava duas cartas entre os dedos: um ás de ouro e um rei de copas. A decoração em homenagem ao reino Escarlate era tão vibrante quanto o sorriso da princesa. Dicon parecia estar em choque, se levantou bruscamente por impulso, assustando os demais.
— Isso é impossível! Como você tem essas cartas?! — ele berrava e apontava para Agnes, que não pareceu se assustar com sua reação, pois ele era apenas um bêbado mimado que não sabia perder.
— É um jogo de sorte, não foi como se eu tivesse escolhido. — ela deu de ombros, se levantando e arrumando o manto preto ao redor de seus ombros.
— Não era para ter ido essas cartas, eu decorei o baralho, sem contar que o juiz combinou de me ajudar! Você roubou! — Dicon não conseguia mais controlar o que saía da sua boca até ser tarde demais. Quando percebeu o que tinha falado, a tapou rapidamente com suas duas mãos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Maldição das Chamas
FantasíaNós não temos controle sobre nossas vidas. Às vezes nascemos sob circunstâncias em que nada pode ser feito, além de aceitar nosso próprio destino. Mas, Agnes, Herdeira do Sol, aquela que todos temiam existir, se recusa a aceitá-lo. Aquela que carr...