Sobre lágrimas e abraços quentinhos

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Já haviam se passado dois dias desde o desaparecimento de Aoi, Yashiro e Kou procuraram por todos os lugares possíveis na escola, enquanto Hanako procurava nas fronteiras. E todos chegaram ao mesmo resultado: fracasso.

– Estou tão preocupada com a Aoi… — murmurou, a expressão tristonha partia o coração do Minamoto.

– Ei, senpai… — descansou sua mão sobre as costas de Yashiro, que o olhou ainda cabisbaixa. — A Aoi com certeza está bem, você vai ver, logo vamos encontrá-la! — sorria confiante; Yashiro sentia-se sortuda por sempre ter o bom humor e o positivismo do amigo.

– Obrigada, Kou-kun. — ser chamado de “Kou-kun”, definitivamente, fez o coração do loiro disparar. — Vamos voltar para a escola, talvez Hanako tenha encontrado algo.

Obteve a confirmação do mais novo, e então, ambos voltaram para a escola agarrando-se na esperança de que Hanako tivesse tido mais sorte do que eles.

Porém, estavam redondamente enganados.

– Eu não a procurei.

– O QUÊ?!

Claro que estavam surpresos, muito surpresos! Era como se Hanako nem ao menos se importasse com o fato de Aoi estar sumida e todos estarem preocupados com ela.

– Eu estava mais ocupado tentando ganhar dos Mokke no Hanafuda, mas eu não consegui. — choramingou, fazendo os Mokke rirem vitoriosos enquanto enchiam-se de doces.

– Você é mesmo um imprestável! — Kou exclamou, sendo ignorado com sucesso por Hanako.

– Yashiro, por quê não chama a polícia? Aparentemente, isso não foi causado por um dos mistérios escolares. Talvez a minha teoria sobre a Turquia seja mais real do que eu pensava…

– ELA NÃO FOI PARA A TURQUIA! — a garota, até então calada, se alterou fazendo Hanako a olhar surpreso. — Não deboche numa situação dessas, ela realmente pode estar em perigo!

As palavras de Yashiro estavam soando tão duras, ela não era daquela forma. Hanako percebeu, naquele momento, o quanto Yashiro estava assustada com a ideia de perder sua amiga. Foi o suficiente para o fazer se sentir culpado.

E, então, pela segunda vez, Hanako a viu chorar.

– Se não quer mais ajudar a procurar a Aoi, eu não ligo. Faça como quiser. — ergueu a cabeça, os olhos cheios de lágrima refletindo a silhueta de Hanako tão detalhadamente quanto um espelho. — Eu não vou desistir de encontrar a minha melhor amiga!

A passos firmes e pesados, Yashiro saiu correndo deixando Hanako sem reação alguma para trás. Kou decidiu ir atrás dela sem falar nada para Hanako, sabia bem que as palavras da garota haviam chegado bem aonde ele considerava ser impossível chegar.

O coração de Hanako.

Escondida no jardim, Yashiro chorou tudo o que não havia chorado por anos. Seu peito doía, e seu soluço baixo rasgava a garganta fazendo seu coração doer mais do que já doía naquele momento. Mesmo estando irritada, desejava ter Hanako ali, com ela. “Ele é um pervertido, mas é o meu amigo”, esse era o seu pensamento.

E, como se seus desejos fossem ouvidos, uma sombra à sua frente chamou sua atenção. Era Hanako, ajoelhado bem na sua frente. Foi a segunda vez que ela o viu sem o chapéu, envergonhado.
Talvez fosse loucura, mas o Hanako-kun sem chapéu parecia tão diferente do Hanako-kun de chapéu. Enquanto um falava pelos cotovelos, o outro era sensível e sincero.

– Yashiro… me perdoe por fazê-la chorar de novo. — pediu, sua voz transmitia sinceridade e tocava a alma da garota.

Sem esperar a resposta da amiga, Hanako inclinou seu corpo, a abrigando em seus braços.

– Continue aqui, até você parar de chorar…

Estava acontecendo de novo. A mesma sensação de conforto que sentiu quando ele a abraçou na árvore das confissões. Estava feliz por ele estar ali. Sentia-se tranquila.

E em paz.

Longos minutos silenciosos estenderam-se, humana e fantasma não separaram-se em nenhum momento. Ou estavam apreciando o abraço, ou apenas queriam que aquilo se estendesse por mais tempo.

Porém, como nem tudo é perfeito, Hanako quebrou o abraço e então colocou o chapéu novamente, não demorando a abrir um enorme sorriso.

– Yashiro, eu não procurei a Aoi…

Fez a sua famosa pausa dramática, para então continuar:

– Porque eu já sei onde ela está.

Faxineira ao resgateOnde histórias criam vida. Descubra agora