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Encontrei meu tio de bermuda e regata sentado no sofá coçando a barba por fazer. Ao seu lado esta Lucas com o controle remoto na mão. O que me fez lembrar de meu pai. Se eu levasse um namorado para casa ele jamais pegaria no controle. Para o meu pai, ter o controle remoto era sinal de poder e comando sobre todos os outros. Aparentemente, meu tio não parecia se importar com esse simples fato. Comecei a lembrar de todas as vergonhosas conversas que meu pai tentava ter comigo sobre garotos e como minha mãe tentava amenizar a situação. As saudades me pegaram de surpresa, fazendo com que meus olhos se enchessem de agua. Para disfarçar, abaixei a cabeça e fui em direção ao banheiro. Tranquei a porta e comecei a tentar guardar a saudade no fundo do peito. Eu não podia desmoronar, não na frente de todos. Meu esforço para deixar meus pensamentos sobre minha família de lado, pareceram funcionar. Me olhei no espelho e constatei que meu rosto estava um pouco suado, mas o que me surpreendeu foi o fato do meu cabelo estar completamente no lugar. Os cachos pendiam nas costas e estavam em perfeita sincronia. Não sou de elogiar meu cabelo, na verdade, temos uma relação de constantes brigas. Mas parecia que eu havia feito babyliss!
Enquanto me questionava o porquê dele não permanecerem sempre nesse estado, ouvi duas batidinhas na porta seguida pela voz de Luísa que me convidava para se sentar e assistir aos "treze melhores filmes de todos os tempos" de acordo com meu tio e Lucas. Abri a porta rapidamente e puxei Luísa para dentro. Ela estava prestes a contestar, mas antes que fizesse comecei a lhe contar o que havia acontecido.
- Ele te beijou?! - Ela exclamou com um sorriso se formando em sua boca.
- Mais ou menos...
- E foi bom? - Seu sorriso agora era mais do que largo o que nos deixava em contraste: Eu em um misto de desespero com nervosismo e Luísa envolta em uma empolgação fora do normal.

- Luísa, você ouviu a parte do mais ou menos? Não foi bem um beijo, ele apenas encostou a boca na minha. E foi bem de leve!

- Pena... - Disse ela, realmente frustrada. - Torceremos para surgirem novas oportunidades. E se não surgirem à gente cria. Então você está com essa cara por causa do "quase beijo"?

Suspirei. Contei toda a cena que Filipe fez no carro mais o bônus da situação do elevador. Percebi que nossas conversas sobre o Filipe sempre ocorriam ali. Um lugar desagradável para falar de coisas e pessoas desagradáveis. Perfeito.

Luísa sugeriu que eu agisse como se nada tivesse acontecido. Então sai do banheiro decidida a agir como um ''ser superior'' e ser educada e gentil com todos que estavam sobre aquele teto, principalmente com Filipe!
Saímos do banheiro e seguiLuísa até a cozinha. Fizemos pipoca e levamos refrigerante e suco para a sala. Todos estavam sentados no enorme sofá. Lado a lado estavam meu tio, Lucas, Luísa, eu e Filipe. Nós cinco olhávamos fixamente para o filme escolhido. Era sobre um mordomo que trabalhava na casa do presidente dos Estados Unidos. Pode parecer uma história normal e pouco atrativa, porém era baseado em fatos reais. E estamos cansados de saber que filmes assim sempre conseguem nos arrancar lágrimas inesperadas e nos induzir a ter diversas reflexões filosóficas a cerca de tudo existente na face da Terra. Com esse filme não foi diferente. Depois de três longas e emocionantes horas, me peguei chorando compulsivamente. Só se ouvia o som da músics dos créditos finais e de meu choro e o de Luísa. Ao olhar para o lado tive a impressão de ver uma lágrima escorrer no rosto de tio Fábio. Lucas oferecia lenços para Luísa que logo em seguida os passava para mim.

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No restante da noite jogamos algumas partidas de pocker e depois Lucas foi para casa. Filipe não me dirigiu uma só palavra desde sua cena do elevador. Ok, ele até falou comigo dizendo "por favor" e "obrigada" quando eu lhe passava a pipoca ou o refrigerante. Mas ele agiu como se eu fosse qualquer pessoa, alguém indiferente que ele tinha acabado de conhecer. E parando para pensar, eu era realmente apenas isso. Tudo bem, quando estávamos fazendo aquela pizza na casa dele, foi até divertido. O que me fez pensar que dali poderia surgir uma futura amizade. Mas percebi que estava enganada.

Tomei um longo banho e fui tirar meu celular da tomada. Durante o filme o deixei carregando, por conta disso acabei não vendo as mensagens que eu havia recebido.

"Filipe é meu melhor amigo, mas se eu tivesse que escolher um dia em que ele não existisse, com toda certeza seria hoje." Beijos, D.

Não demorei muito para entender que "D" era na verdade Daniel. Foi impossível conter minha risada. Luísa entrou no quarto me pegando ainda de toalha, ajoelhada no chão com o celular na mão. Mostrei-lhe a mensagem e ela logo desandou a falar:
- Sim, ele queria te beijar. Ou melhor, ainda quer e deixou isso bem claro com essa mensagem.
Ela falava encarando fixamente a tela do celular.

- E o que eu faço? - Falei com meu tom de voz mais estridente.

- Você quer o mesmo que ele? Quer dizer, quer beija-lo também?

Um pânico sobrenatural tomou conta de mim instantaneamente. Eu nem tinha um relacionamento com ele, eu o conheci ontem! Como as coisas podem ter evoluído tão rápido?

- Não! Quer dizer, sim! Na verdade, mais ou menos. Não sei ao certo ainda.

- Essa sua incerteza tem haver com Filipe? Porque sinceramente, às vezes acho que essa implicância de vocês é pura atração. E já reparei que sempre que voce está distraida ele aproveita para te olhar de rabo de olho. E todo mundo sabe que pessoas que olham dessa maneira, como se tivessem medo de serem pegas, sempre querem algo mais...

- Não existe nada e nunca existirá entre eu e o Filipe. Ele me irrita e não me suporta. E é recíproco.

- Ok. Mas o que está te fazendo hesitar em ter algo com Daniel?
Suspirei. Existiam tantos motivos...

- Primeiro, porque acredito que as coisas estão acontecendo muito rápido. Não gosto de pular etapas. Segundo, porque não moro em Santos. Não tem razão para que algo ocorra entre mim e ele.

- Bom, agora quero ver você dizer isso para ele.

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Na hora de dormir, pensei bastante sobre tudo que havia acontecido naquela noite. Resolvi responder a mensagem de Daniel com um símbolo representando um sorriso e um convite para se encontrar comigo na praia amanhã cedo. Não havia nada de diferente a se fazer além de esclarecer que eu não queria nada com ele. Eu tinha adorado nossa noite, mas comecei a me questionar se eu deveria ter aceitado seu convite para sair. Não era o momento para me envolver com alguém. Afinal, em breve eu estaria de volta ao Rio e apesar de não falar muito, o fato de o meu avô estar doente mexia comigo. Meus pais precisavam de mim.

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Gentee, o que vocês estão achando da história?? Críticas construtivas são suuuperr bem vindas!!! Se estão gostando, não esqueçam de dar estrelas no final de cada capítulo. Ahh, e comentem também! Não sejam leitores fantasmas hahaha Quero ter a oportunidade de conhecer cada um, viu? ;)

Beijos, L.M

AmazimaOnde histórias criam vida. Descubra agora