#23

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E eu tinha razão.

Assim que viramos a rotatória para chegar na igreja, um carro na contramão nos surpreendeu e colidiu com o carro do Tiago. A sorte é que aparentemente ele é um motorista atento e conseguiu jogar o carro um pouco para o lado, se não a batida teria sido muito pior. O motorista estava perdido e acabou pegando a rua errada por não conhecer o bairro e os entornos daquela região.
Tiago de cinco em cinco minutos perguntava se eu estava bem ou se precisava de algo, e de dez em dez minutos passava a mão sobre a lataria de seu carro para conferir o estrago. Na verdade, via-se apenas uma rachadura no farol e um amassa ao lado. O outro carro que estava um pouco pior, mas nada impossível de concertar, eu acho.
Sabe aquele momento em que você se encontra anestesiada? Não por medo, nervosismo acumulado ou adrenalina. Simplesmente é como se você não tivesse opinião formada sobre o que acabou de acontecer. Reagi automaticamente a tudo, após a colisão sai calmante do carro. Tiago correu em minha direção e após dar uma olhada geral em mim e confirmar se estava tudo no lugar, foi em direção ao motorista. Em uma situação normal talvez eu teria rido. Foi tão cômico vê-lo tão vermelho e raivoso indo ao encontro do motorista. Quase como um filhote fofo tentando ficar bravo. Sacudi minha cabeça ao constatar que essa analogia não tinha sido das melhores. Sai de um transe pessoal ao ouvir o som das sirenes chegando. Eu não fazia ideia de quanto tempo havia se passado até que eles chegassem. A ambulância e a policia chegaram ao mesmo tempo e ao vê-los foi como se eu acordasse um pouco e reagisse mais a tudo.

- Boa noite, quem pode relatar como foi o ocorrido? - Falou o policial alto e mal encarado que certamente daria dois de mim.

Desviei o olhar se sua direção assim que ele encontrou meus olhos e percebeu que eu o olhava. O segundo policial saiu da viatura e foi olhar os rastros do acidente. O carro de Tiago tinha subido a calçada e o do outro cara que mais tarde descobri se chamar Maicon, tinha ocupado o meio da rua. Tudo parecia uma bagunça. A ambulância nos chamou para realizar os primeiros socorros. Fomos informados em seguida que deveríamos dar entrada no hospital mais próximo para realizar alguns exames necessários. O motorista do carro que nos atingiu, deveria ter uns trinta e alguns anos, quase quarenta. Na ambulância Tiago ficou ao meu lado e segurou minha mão. Confesso que foi estranho. Seu olhos estavam fitos a algo que estava diante dele e sua testa franzida. Uma expressão determinada, como um irmão que a qualquer custo iria proteger, como se eu fosse responsabilidade dele de algum modo.

- Não foi sua culpa. -Soltei e foi a primeira coisa que falei depois que tudo aconteceu.

Ele me encarou assustado como se não reconhecesse mais o som de minha voz. E soltou um ar que acho que nem sabia que estava prendendo.

- Talvez se não tivesse ido por esse caminho ou tivesse chegado antes na sua casa. Ou até mesmo se não tivesse ido comigo e sim com sua prima isso...

- Deveríamos ir pra igreja.

E foi ai que tudo piorou. Ele me olhou como se eu fosse uma louca e a mulher que estava uniformizada ao nosso lado também. Ali dentro tudo balançava o que tornou a sensação de desconforto muito maior.

- O que está dizendo? - Tiago falou contorcendo um pouco o rosto como se não tivesse certeza de que tinha escutado certo.

- Eu gostaria de ir e tenho certeza de que você também.

De repente o olhar dele se suavizou e sua expressão relaxou.

- Você deve ter batido a cabeça e o susto do acidente nunca nos deixa normal. Mas precisamos ir para o hospital e resolver se iremos prestar queixa ou não.

- Estou bem. - Falei mais ríspida que o normal o que o fez se encolher um pouco.

-Não quis ofender. Olha, só quero cuidar de você agora. Na verdade, cuidar de tudo. A culpa pode não ter sido diretamente minha, mas eu quem estava dirigindo e preciso lidar com isso.

AmazimaOnde histórias criam vida. Descubra agora