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O relógio de ponteiros marcava exatamente onze horas. A chuva forte e grossa caía nas ruas de Los Angeles, formando pequenos rios ao longo do meio fio.

De dentro do hospital, o médico observava os pingos se chocarem com força contra o asfalto negro das ruas entupidas de carros. As luzes coloridas dos faróis traseiros reluziam contra a água no chão, formando desenhos brilhantes em vermelho e branco, em contraste com a escuridão do céu noturno.

- Brendon, 'tá esperando os alienígenas te mandarem um sinal?

- Estou esperando eles virem te buscar, Dallon, afinal, não se deve deixar os familiares 'pra trás, 'né? - Brandon retrucou com seu típico sorriso ladino.

- Vai se ferrar, garoto. - riu soprado.

- Garoto. Você fala como se fosse muito mais velho do que eu.

- Tão mais velho não, mas com certeza mais sábio.

- Pois sinto te dizer que não o mais sábio e sim o mais iludido.

- Crianças, não briguem. - Amy, enfermeira chefe, riu ao que sentava-se em uma das poltronas ao lado da grande janela.

- Desc-

A fala de Dallon foi interrompida pelo som alto de sirenes e passos apressados nos corredores do hospital. Uma emergência.

- Acidente de moto. Um carro avançou o sinal vermelho e atropelou o motoqueiro. Saiu sem prestar socorro. - em um fôlego só, o paramédico, que empurrava a maca com velocidade, pronunciou. - Awsten Knight, 26 anos, tipo sanguíneo O+.

- Bateu a cabeça muito forte no chão, uma perna fraturada e a mão ficou presa na lataria da moto. Os batimentos estão fracos e a respiração lenta. - continuou outro paramédico; este apertava o balão de respiração artificial.

- Levem para o leito 17. - Dallon ordenou. - Brandon, chame a equipe.

[...]

- Brendon, conseguimos fazer contato com a família. São do Texas, estão pegando um avião para cá. - suspirou a enfermeira, aceitando o copinho descartável com café que o médico a oferecia. - Qual é o estado dele?

- Estável. A tomografia não mostrou nada de preocupante. A pancada foi forte mas não ao ponto de causar algum tipo de dano sério, apenas uma bela dor de cabeça quando acordar. A perna foi engessada - deu um gole no café em sua caneca de dizeres "I'm the best" antes de continuar o discurso. - e algumas costelas também foram quebradas, mas já estão nos devidos lugares. O único caso preocupante é a mão.

- Acha que precisa de cirurgia?

- Acredito que sim. Pode ter danificado alguns nervos e só a cirurgia para corrigir isso.

- Entendo.

- Sabe, esses dias eu estava pensando... Será que uma pessoa sobreviveria perdendo pedaços do corpo diariamente? - Brendon perguntou de forma retórica, olhando para o fundo de sua caneca vazia, como se esperasse que mais café fosse surgir magicamente ali dentro.

- Primeiro de tudo: o que te leva a imaginar uma coisa dessas? Segundo: depende. Talvez sobrevivesse se bem alimentado... Realmente não faço ideia. - Amy negou com a cabeça e levantou de onde estava para colocar o copinho descartável no lixo. - Já passa de uma da manhã. Geoff deve estar chegando para te substituir.

- Ótimo. Preciso do meu sono de beleza, além de que a Morte está me esperando em casa.

- Quem não te conhece, diria que é completamente pirado... Se bem que... - A enfermeira fingiu um olhar confuso e soltou um riso alto ao ver o olhar contrariado do médico em sua direção. - Vai lá alimentar a sua gata, Menino Urie.

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O carro prateado deslizava pelo tapete de asfalto molhado que cobria a rua. A madrugada chuvosa e fria repelia todos os cidadãos, que agora encontravam-se em suas camas quentinhas e macias.

Os limpadores de parabrisa trabalhavam rapidamente, jogando a água para os lados. O rádio tocava uma música pop baixinho; um dos vários sucessos atuais.

Mais à frente, o grande prédio de quinze andares se erguia. O médico acionou o botão do controle remoto. O portão preto abriu-se, dando passagem para a pequena lomba que levava ao estacionamento.

Brendon estacionou em sua vaga, para em seguida puxar sua pasta do banco de trás e correr para dentro do prédio, onde a temperatura estava mais elevada.

O inverno estava chegando.

Em passos rápidos, seguiu até os elevadores e chamou os três. Batia um dos pés, impaciente, enquanto olhava os visores que marcavam, em luz vermelha, os andares diminuindo. Em seu íntimo, narrava uma corrida de Fórmula 1 entre os elevadores. Quando uma das caixas metálicas chegou, adentrou, pressionou o botão de número 10 e esperou.

Assim que as portas de metal se abriram, Brendon deixou o elevador em passos largos, quase correndo para seu tão querido apartamento.

De dentro do bolso do jaleco que carregava pendurado no braço, tirou um chaveiro de pompom roxo, com pequenas borboletas na corrente, e um molho de chaves prateadas na ponta. Escolheu a correta, encaixou-a no buraco da fechadura e girou.

Atrás da porta, como o habitual, miados soavam altos e claros.

- Estava me esperando, Morte? - o homem sorriu contente. Deixou sua pasta e seu jaleco no chão, para finalmente pegar a gatinha preta que esfregava a cabeça e enrolava o rabinho em suas pernas. - Vem, hoje vamos comer frango, o que acha?

O animal ronronou em resposta, como se entendesse cada palavra dita pelo outro.

- Eu tenho algumas ideias na cabeça, quero a sua opinião sobre elas.

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Just Like Broken Glass to MeOnde histórias criam vida. Descubra agora