Efeito borboleta
Sempre achei esse um conceito curioso, espantoso até, como tudo na vida pode simplesmente mudar em um segundo, por um detalhe. Sentado no sofá preto de Levi rodeado por caixas e mais caixas de mudanças, sentindo meus olhos inchados e dedos aquecidos segurando uma caneca de porcelana branca cheia de chá, toda essa história de ter o mundo virado de cabeça para baixo me veio a tona.
Hoje, pela manhã, eu acreditei que a esta hora teria uma noiva.
Respiro fundo, sentindo as pálpebras pesadas de cansaço. Levi ao meu lado permanecia em silêncio, uma ruga fortemente fincada entre as sobrancelhas grossas. Ele parecia preocupado.
Se não estivesse em um estado tão miserável eu teria rido daquela cara, talvez o alertasse dos perigos das rugas por manter uma careta por tanto tempo, mas eu não conseguia.
Viemos em silêncio no carro, exceto por meu choro, ele dirigiu sem me perguntar o porquê. Eu notei pela janela do carro quando estacionamos em meu prédio e sem jeito fui arrastado pelo meu novo vizinho até a casa dele.
- Obrigada. - Murmurei tomando um gole de chá. O sabor era forte e o cheiro delicioso. Senti o líquido quente fazer algo por meu corpo.
- Achei que seria bom tomar algo quente, você pegou chuva. Posso perguntar uma coisa?
Assenti sem vontade.
- Alguém fez algo ruim a você? Ao seu corpo, você está bem? - franzi o cenho, voltando meu rosto para Levi.
- O que você quer dizer?
- Você foi agredido? Algum tarado te atacou? - o tom de voz dele era sério e firme, a expressão severa e preocupada. Não pude evitar um leve esboço de sorriso. Aquele homem estava realmente demostrando preocupação genuína com uma cara que ele mal conhece?
Talvez empatia não fosse apenas lenda urbana.
- Eu estou bem, de verdade. - Não era mentira, fisicamente eu estava mesmo bem. - Por isso essa ruga bem aqui na sua testa? Você estava preocupado que alguém tivesse me machucado?
Levi soltou um longo suspiro, se acomodando no sofá de dois lugares.
O apartamento era uma pilha inacreditável de caixas. Algumas abertas, com os objetos espalhadas e outras ainda lacradas. Mais cedo, na empresa, ele comentou sobre se mudar, ajudar os homens a carregar os móveis. Movi os olhos furtivamente e o vi de verdade pela primeira vez.
Levi era grande, o tipo de homem que você poderia apostar que jogava vôlei ou basquete, uns bons dez centímetros maiores que eu e meus um e oitenta, os braços longos expostos em blusa branca sem manga, um jeans velho e rasgado. O cabelo escuro não parecia penteado e as olheiras estavam ali.
- Me desculpe. - Murmurei sem jeito. Eu o interrompi no meio da mudança. Deixei a caneca na pequena mesinha de centro e esfreguei os olhos, agora secos. Era hora de voltar a ter um comportamento racional, pelo menos perto das pessoas.
- Não se desculpe, você precisava de ajuda e me ligou.
- Eu tentei ligar para um taxista. - Dei de ombros. Ele riu.
- Mas ligou para mim. - ele concluiu, como se o telefonema fosse inevitável. Meu coração dolorido achou aquilo engraçado.
Efeito borboleta.
- E você atendeu. Posso saber por quê? - continuei, porque falar sobre outra coisa me faria bem, porque eu toparia falar sobre bhaskara e a equação matemática antes de sequer começar a falar sobre meus problemas.
- Eu gostei de você. Quer dizer, eu tive uma boa impressão no trabalho e quando terminei com os móveis te vi sair de casa, da porta ao lado. Pensei em falar "Oi", mas não deu tempo. - Levi não parecia constrangido ao falar sobre aquilo.
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Se eu fosse seu
RomanceMatheus Andrade é um publicitário brilhante apaixonado pelo trabalho e com uma vida estável junto a namorada Bianca, filha de seu chefe. No entanto toda a calmaria cai por terra quando no dia de pedir a amada em casamento ele a encontra na cama com...