Um fim para um começo

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Minha testa toca a madeira gelada da mesa de trabalho, talvez já houvesse uma marca vermelha ali, uma grande bola constrangedora que poderia ser vista por todos do escritório no momento em que eu decidisse reunir coragem o suficiente para levantar. Meu coração batia forte, foi assim o dia inteiro, não tinha coisa alguma a se fazer. Grandes momentos pedem grandes emoções.

Quer dizer, é assim que as coisas são.

Planejei, pesei, decidi. Pediria minha namorada em casamento naquela noite.

Coloco a mão no coração enquanto hiperventilo, Henry, meu colega de mesa, pensa que estou cochilando ou morto, mas o fato significativo de toda essa situação é a sensação de quase morte, então provavelmente eu parecia mesmo com um cadáver.

O barulho do escritório me trazia alguma calma, o trabalho é um bote salva vidas. Trabalhar na maior agência publicitária do país significa muitas coisas, dentre elas uma jornada exaustiva de, às vezes, dez horas por dia. As contas, como chamamos os pedidos para propagandas, chegavam das maiores anunciantes do mundo. Nike, Adidas, Coca-Cola, as principais marcas ficavam por conta dos publicitários destaques, cada um de nós programava e cuidava do conceito para elaborar o melhor para cada um dos clientes.

Os detalhes da logo, fotos de propagandas, comerciais de TV, tudo a nosso cargo.

E nisso eu era o melhor.

Cada um dos detalhes devia passar pelo meu crivo, desde meu fotógrafo aos meus modelos. Um tema regente era tudo o que eu precisava para começar todo o processo de criação.

Mais que o talento, ser um dos destaques publicitários da empresa custava horas de trabalho duro e estudo sem fim, trabalho bastante para minha namorada, Bianca, questionar se todo esse esforço valeria mesmo a pena. Devo a ela a chance nesta grande empresa. Seu pai, o diretor Armando, era o CEO responsável pela agência, na época em que ele procurava um pirralho talentoso para uma vaga de assessor, eu estava lá. Cresci, me formei e me destaquei mergulhando no trabalho que amava de corpo e alma.

Hoje, pediria a mulher que me ajudou a chegar até onde cheguei em casamento.

Ontem a noite fui a casa de meu pai, 5 estações de distância, pedir por um conselho, dizer que a hora tão esperada havia chegado, finalmente, eu pediria a mulher com a qual namoro por longos seis anos em casamento.

Meu velho sorriu, os olhos cheios de lágrimas, mãos afetuosas sobre meu ombro.

"O amor é sempre um caminho lindo, filho, se ela é a mulher que ama, essa é a decisão correta."

O anel que foi de minha mãe foi dado a mim, entregue em minhas mãos para um legado tão bonito quanto o de meu pai.

Engoli em seco.

Talvez eu preferisse ter parcelado um anel qualquer em 12 vezes.

A mão em meu peito tremia um pouco.

Com alguma coragem levanto a cabeça, os olhos do meu amigo estão grudados em minhas costas. Lhe dou um sorriso sincero de desculpas.

— Bela adormecida!

— Não fode — respondo, esfregando a testa.

— Por alguns minutos pensei ter que te acordar. Levi está na sala de reunião.

— Levi — murmurei o nome conhecido, buscando em algum lugar da memória de onde vinha.

— O fotógrafo indicado para a campanha esportiva, se lembra? O anunciante exigiu o trabalho feito por ele, foi um dos termos negociados, lembra? — eu me lembrava. O fotógrafo premiado não era um desconhecido para qualquer empresa publicitária, o incomum era ele aceitar campanhas, seja elas quais fossem.

Se eu fosse seu Onde histórias criam vida. Descubra agora