Capítulo 4

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Terça-feira, treze de fevereiro.

Tive a sorte (ou o infortúnio) de presenciar aquilo quando estava pegando minhas coisas e prestes a sair do escritório. Eram sete da noite, ou seja, dezenove horas. O próximo ônibus que vai de Silverbay de volta para Sproustown sai as vinte e vinte na teoria, mas chega vinte e dezoito e sai vinte e vinte e cinco na prática. Quando faço essas viagens de um dia só trago comigo apenas o essencial, então estava já com tudo ali. Bastava me dirigir à rodoviária, que não é muito longe do departamento de homicídios.

Eu tinha vindo apenas para tratar de negócio com Heckmann, o subtenente. A ideia era se aproximar de alguma maneira, legal ou ilegal, dos casos de Gunman, Sprohic e o mais recente: Jabresi Prince. Como estava suspeitando de Phillip, não queria tratar com ele diretamente pois sabia que a resposta seria negativa. Era uma situação parecida com a da menina que quer sair e sabe que mamãe não deixa, então pede para o papai ao invés de perguntar para a primeira.

Naquela noite Phillip Laterzza Clark, o major, retornou. E com ele uma figura ainda mais desagradável: o secretário de segurança pública, o chamado "Trout". Mr. Trout. Mas pessoas pequenas como eu o chamavam de excelentíssimo, ou excelentíssimo Trout, ou "sua excelência".

Trout é uma figura humana carcomida pelo tempo: careca, quase que totalmente banguela, tendo substituído sua arcada por ouro para que pudesse falar como o habitual. Sua careca refulge em seu rosto oval e esbranquiçado. Seus olhos são fundos como suas olheiras e sua sobrancelha lhe contrasta grossa e subversiva.

Uma vez que desejo evitar tocar no assunto previamente acertado com Heckmann agora com o major Phillip, pretendo apenas cruzar com a dupla, dar boa noite, e me despedir. Estou no corredor anexo ao elevador que desce do prédio da homicídios. Se eu soubesse da visita inesperada teria usado de velocidade extra e me escondido no banheiro, porém eu só soube quando a porta do elevador se abriu e ambos saíram de lá. Uma vez vista não havia mais escapatória,

- Sarah! – Exclamou o major Phillip.

- Srta Harmon. – Pronunciou-se Trout de forma vagarosa e condescendente.

É o tipo de pessoa que procura irritar aqueles de quem não gosta sem propósito. Personalidade ínsita humana que tenho observado bastante desde que me mudei para a Terra.

Meneei a cabeça e retruquei formalmente:

- Major. Sua excelência. – Fui me dirigindo até o elevador.

- Espere mocinha, tenho uma notícia interessante. – Parou-me Trout com um intento de me agarrar pela blusa, contudo sua mão na ponta de seu curto e fraco braço apenas passou perto de minha roupa e veio a baixo, vindo por terminar apenas como menção.

Meu coração começou a palpitar mais rapidamente. Se eles resolvem entrar em assunto de casos e decidem por deixar claro que não sou permitida a interferir em jurisdição que não me cabe, todo meu esforço embutido na oportunidade de conversa com o subtenente vem por água abaixo. Procuro não deixar meu nervosismo transparecer e ajo de forma natural. Evidente que acato a sugestão e espero, me virando para ele e para Phillip. Trout começa:

- Fiquei sabendo que certo departamento de certa cidade anda empregando a secretária em atividades físicas de risco elevado. Como que atribuindo função de detetive à secretária. É claro... Trata-se apenas de um boato.

- Sarah!? Falávamos disso eu e Trout agora justo há pouco! Pois nos explique melhor esse dilema, isso não está a ocorrer de verdade, é? – Phillip interpelou.

Ainda encarando o secretário, o respondi:

- Não sei do que está falando, sua excelência.

Trout manifestou uma risada fraca.

Dwan GoodwynWhere stories live. Discover now