o espelho do meu quarto se tornou o maior telespectador da minha auto descoberta.
ando olhando pro meu corpo.
vendo minhas marcas.
vendo as marcas que, sem querer, você deixou em mim.
essas são, sem dúvidas, as mais difíceis de observar com calma.
me pergunto muitas coisas.
como é que não reparei na marquinha que tenho nas costas que, eu acho que sempre esteve ali?
o engraçado é que eu conhecia todo o seu corpo, de cor.
sabia das suas pintas espalhadas pela pele, suas marquinhas nos braços e a pequena cicatriz na sua testa.e quanto a mim, só conhecia aquilo que queria que você pudesse ver. aquilo que seria confortável aos seus olhos.
e, consequentemente, aos meus também.ainda tenho receio do que vejo ao olhar no espelho.
me sinto cansada.
cheia de marcas que não são minhas, e não consigo aceita-las alí.quero mudar o meu cabelo.
não me sinto bem com o jeito que ele está, apesar de você sempre dizer que ele era a coisa mais bonita que tinha em mim.meus olhos ainda tem uma aparência cansada, de alguém que está tentando com todas as forças, não te mandar mensagem em uma noite fria.
minha pele está pedindo por afeto.
meu corpo pede pelo calor do teu.mas eu me sinto livre de uma sensação de precisar estar bem.
eu consigo fazer minhas coisas, mesmo mal. e não preciso estar bem pra você.sinto tanto a sua falta, e sinto frio.
mas meus cobertores me esquentam mesmo não trazendo tanto calor quanto seus braços, e sua pele macia.eu entendo que isso é um processo.
eu sei. vai passar.
vai chegar o dia em que o meu calor interno será tão grande que eu não vou precisar mais do seu.
esse dia vai chegar.