Capítulo 02

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Comentem muito e deixem a

O trem deslizava pelos trilhos de ferro  rápido e eficaz. As janelas mostravam a bela paisagem de um final de novembro, as árvores e chão cobertos pelo branco da neve, podendo transmitir assim uma paz numerosa. A neve fofinha ainda permanecia clara, o que mudaria com o passar dos próximos dias, transformando-a em um vermelho vibrante, um vermelho sangue. Além das inúmeras cápsulas de bala e dos diversos corpos espalhados, já sem vida pelo chão.

Para Jungkook Jeon Schultz aquilo era desnecessário, tantas mortes, gritos, fome e sofrimento. Ele era apenas mais um deslocado no mundo, sem propósitos algum. Em sua cabeça, morrer em campo de batalha com um tiro cravado na nuca seria bem melhor do que acabar com a própria vida em casa com alguns comprimidos.

Estaria fazendo aquilo que seu pai sempre quis, torna-se um soldado. Mas sua real vontade era a arte, queria se tornar um grande pintor. Desde criança sua pinturas eram repletas de vida, cores e texturas.

Mesmo ainda sendo apenas um menino de sete anos, conseguia retratar bem seus sentimentos em cada uma de suas obras. Entretanto seu pai se pôs a sufocar esse sonho, até mata-lo, e como um bom nacionalista alemão e amigo próximo de um tal homem chamado Hitler, o mesmo alegou que a arte não levaria à nada. O transformaria em um vagabundo qualquer, sem dinheiro algum para viver.

Pensando agora, Jungkook talvez quisesse essa vida. Uma vida consideravelmente feliz, com pouco, mas transbordando o sentimento de liberdade. Não seria obrigado a segurar nenhuma arma ou tirar a vida de outra pessoa. Seria apenas um homem normal. O pensamento de matar alguém o perturbava todas as noites ao se deitar, a sensação de culpa antecipada, mesmo que nunca tivesse atirado contra um homem sequer. Ainda sim se sentia culpado, pois sabia que um dia o faria.

Mesmo não querendo entrar para o exército, o garoto começou a treinar para aquilo. Queria dar orgulho para seu pai, mesmo que essa ação o sufocasse visivelmente.

A cada músculo que ganhava, mais lágrimas eram derramadas durante os banhos demorados. Toda e qualquer mudança  física machucava Jungkook internamente, que constantemente lembrava de seus franzinos braços de quando menino, de quando era feliz. Da época que não sabia o significado real da palavra "morte" ou "arma". Do tempo que achava que suas mãos só seriam capazes de pintar e alegrar outras pessoas, e não de apertar um gatilho e machucar. Sentia uma terrível falta daquele Jungkook.

Ainda estava gravado em suas memórias, com apenas quinze anos, os momentos em que sua mãe o enchia de perguntas embaraçosas sobre garotas. Se já tinha algum interesse em uma moça, ou se já tivera. E sempre a resposta era a mesma, uma negativa. A grande verdade era que o jovem alemão não sentia sequer algum sentimento por garota alguma. Aquilo o assustava. Garotas o assustavam, não podia nem imaginar a possibilidade de estar com uma que seu estômago embrulhava, e não de uma maneira boa. Sentir tal coisa o preocupava, mas deveria ser normal, pensava.

Ao finalmente entrar no exército com seus recentes dezessete anos, Jungkook encontrou algo que já era de se esperar: olhares tortos em sua pessoa. Não que o garoto já não estivesse acostumado, esse era o preço de ser um mestiço, fruto do amor de um alemão com uma sul-coreana.

Sua aparência não ajudava muito, já que herdara boa parte da mãe, como o formato do rosto e principalmente os olhos.

Ah, aqueles olhos não negavam, mesmo sendo de um castanho claro como os do pai, o formato puxado ainda era extremamente gritante. Tirando essas características, Jungkook era um verdadeiro alemão: alto (mesmo que tivesse apenas dezessete anos na época), musculoso, cabelos castanhos claros, o nariz volumoso, mas ainda sim bonito.

Desde criança o jovem vinha sofrendo diversos tipos de Bullying por conta de suas características asiáticas gritantes. Mas a parte de seu corpo que mais sofria com tais brincadeiras maldosas eram seus olhos. Os quais Jungkook aprendeu a odiar com o passar do tempo.

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