'E'.L.E

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!!! AVISO DE CAPÍTULO COM CONTEÚDO SENSÍVEL !!!

Esse capítulo contém cenas de violência.

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As nuvens pesadas não hesitavam em deixar seus pingos caírem. Havia uma tensão palpável no ar fazendo com que o frio causasse arrepios perceptíveis, mas não era apenas o frio que causava tal reação no platinado.

Gritos ensurdecedores ecoavam na cozinha sendo acompanhado pelo barulho estridente de vidros estilhaçados e metal sendo jogado no chão e apesar de seu fone estar no volume máximo, Namjoon ainda conseguia escutar do que se tratava aquela discussão.

Era a terceira vez só naquele fim de semana.

Apertou forte a caneta, pausando a escrita no papel, queixando-se mentalmente da falta de foco, xingando tudo e todos ao seu redor internamente.

Precisava pôr em ordem cronológica suas ideia, sua mente parecia inundar de inspiração que ele sabia que se esvaneceria se não escrevesse. Mas não conseguia focar no que realmente desejava.

A caneta quebrou em sua mão devido a força que apertava, fincando um de seus fragmentos em seu dedo, abrindo um pequeno corte mas não o suficiente para doer, seu rosto irritado deixava lágrimas caírem silenciosamente.

Sua mãe adentrou o quarto limitando-se apenas a encarar o rosto molhado de Namjoon, as veias saltavam forte pelo pescoço da mulher e os olhos dilatados transbordavam desgosto.

- Você - apontou - pelo menos você tinha que ser o orgulho da família, estudar pra ser um advogado, um médico, alguma coisa que prestasse, mas não - olhou para o caderno no colo do rapaz - tinha que ser um imprestável, inútil igual seu pai, ele vendeu a televisão pra ter o que comer porque as porcarias dos cds dele não prestam pra porra nenhuma - puxou com força o caderno, arrancando folha por folha, descontando toda a irritação de seu âmago nos papéis a sua frente, rasgando com ódio pedaço por pedaço.

- O que está fazendo? Esse é o trabalho da vida do seu filho! - o pai de Namjoon tirou o caderno da mão da mulher, olhando com desespero para o fraco Namjoon na cama, sem saber o que fazer - Vamos Joonie, pegue seu caderno e saia daqui, vá para algum lugar até que eu consiga acalmar sua mãe! - gritou a ordem que foi prontamente acatada pelo mais jovem.

Mal teve tempo de calçar os sapatos e saiu do quarto, atravessando a sala bagunçada apressado em direção a porta.

Os pingos constantes colaboraram para a fuga de Namjoon que corria forte, mas não sabia por qual motivo corria. Queria correr de tudo, de todos, queria fugir para algum refúgio seguro, longe das responsabilidades de um estudante, longe das responsabilidades de um filho, e o mais importante, longe das responsabilidades que logo o cercariam, a de um escritor.

Avistou um pequeno e nostálgico parquinho e decidiu se abrigar da chuva.

O parquinho vazio era enfeitado por poucos brinquedos que atualmente mal eram utilizados pelas crianças da vizinhança, os balanços e gangorras estavam encharcados junto a areia branca, o único lugar seco era a casinha que dava acesso ao topo dos escorregadores. Recordou da infância e do sorriso de sua mãe toda vez que via o filho descer do escorregador e subir de maneira contrária ao correto.

Essa lembrança fez seu coração doer.

Olhou para o caderno e notou estar molhado, precisou folhear pouco para perceber que nada dali poderia ser reaproveitado.

Encostou-se na madeira da casinha e permitiu-se sentir todo a tristeza, mas dessa vez não chorou. Sabia que sua mãe tinha razão, a profissão que planejava seguir não era algo que dava dinheiro de maneira fácil, mas não queria pensar assim.

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