Capítulo 6

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Rafaela 
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Pedi tanto para que ninguém tivesse acordado, mas assim que o carrão do meu chefe para em frente a nossa casa, Camilo sai e pode acabar com a única defesa que tenho. O namoro que o Marcos acha que temos.

Moro no quintal da minha sogra, porque Murilo construiu nossa casinha nos fundos e a primeira casa é do Camilo. Diz ele que é para a dona Jana não ver as mulheres entrando e saindo de lá. Sim, no plural, esse safado!

A Camila, minha ex-cunhada, mora atrás da casa do Camilo e a próxima era a casa da minha ex-sogra, que hoje sinceramente posso chamar de mãe. Porque ela faz por mim o que sogra nenhuma faria. Aposto que já até deixou um caldo pronto na mesa da minha varanda, porque sabia que eu iria tomar chuva na volta do trabalho.

— Nossa, Rafinha, por que não me ligou? — Camilo abre a porta do carro e pega a bolsa que estava em meu colo. — Oi, chefinho gato. Homão da minha vida. Sentiu minha falta e veio dar um cheirinho no seu motoboy sarado?

O que foi isso? Em que mundo eu estou?

— Menos, Camilo. Vai assustar sua namorada. Vai que ela acredita que você gosta do babado como meu pai? — Era até estranho ver meu chefe rindo dessa forma.

Cara, ele além de simples é legal assim? Ele realmente falou babado?

— Namorada? — Camilo fica com a mesma cara que sempre faz quando alguém pensa em prendê-lo.

Mais fácil o mundo acabar, que esse cachorro no cio ficar com uma mulher só. Nunca vi ele repetir a mesma mulher no mês. Sempre dá um tempo para elas não acharem que é compromisso sério.

— Na verdade, somos casados. — Falo por cima, encarando meu ex-cunhado com tanta veemência, que preciso piscar algumas vezes para tirar o ressecado.

— Pois é... juntado com fé, casado é... né, mozão? — Agora ele pega minha mão, me ajuda a sair do carro e sorri para o Marcos. — Obrigada por trazê-la.

— Nada, precisando é só falar... mas como pagamento quero que me ensine a sair daqui. Esqueci o caminho que fiz para chegar.

Ele ficou tão sem graça, que nem sabia como se comportar. Camilo também não ajuda, me abraçando e fazendo pose de homem ciumento.

Me ajuda a me ajudar, Milo.

Espero os dois malucos acabarem suas conversas estranhas e assim que Marcos sai, vou para minha casa correndo, mesmo sabendo que Camilo iria me seguir.

— Me explica que negócio é esse de enfiar um bambolê de otário no meu dedo, sem nem me perguntar se quero casar? Mulher, não me ilude, porque vou cobrar meus direitos de marido, hein!

Sim, o Camilo é meio maluco, mas é a melhor pessoa do mundo... quando não começa a pagar de machão pegador. Porque nesse momento prefiro ficar surda que ouvi-lo.

— Acho que o chefe está me paquerando.

— Mas olha só... Isso não era para ser bom? Marcos é gente boa.

— E se ele descobre que sou viúva do cara que quase o matou? Camilo, esse homem vai me odiar eternamente.

Essa foi sua melhor desculpa, Rafaela? Bastava dizer que não tenho interesse nele.

— Tu tá ligada que o Marcos, por mais sequelado que tenha ficado, acha que esse dia foi um presente de Deus, né? Porque graças a isso se livrou da chata da Larissa. Uma mulher que ele namorava e que só aprontou com ele. Claro que ele sofre pra burro, mas hoje vê de outra forma. Ele até virou aqueles crentes que falam estranho na igreja...

Espera, nosso chefe é evangélico? E como ele fala "do babado"? Tenha foco, Rafaela!

— Já vi essa criatura lá na empresa. — Me lembro de vê-la aos amassos com o Márcio, vice-presidente e primo do senhor Marcos. O pior que eles escolheram meu almoxarifado para fazer de motel. Nossa, nem gosto de me lembrar a quantidade de ameaças que recebi, caso contasse aquilo a alguém.

Encontro o caldo que a Jana fez, levo para o micro-ondas e vou para o banheiro, sabendo que o Camilo ficaria encostado na porta.

— Ele é um partidão. — Ainda bem que Milo não viu meus olhos se revirando com o que falou.

— E eu não estou interessada. — Minha resposta é automática.

— Vai viver sozinha até quando, gatinha? Se está esperando o Camilinho aqui virar homem decente, para se casar comigo, pode tirar o cavalinho da chuva. Gosto de fartura, então não vou deixar de ter uma feira-livre de pepeca, para me contentar só com uma.

— Camilo... você sabe que eu te amo, né? Mas tem horas que você fala umas coisas que me dão vontade de te matar!

— Sei como é... escuto muito isso, mas seguirei pegando as mulheres assim mesmo. Enfim. Eu teria ficado com o chefe.

— Então vai lá... juro que até Shippei vocês, depois de ouvir aquela afetividade totalmente heteronormativa.

Ouvir a gargalhada dele me deixa animada. Amo muito esse zé chatinho.

— Não vou mesmo ver você se casar, mulé da minha vida?

— Lógico que vai! Quando o Stephen Amell me pedir em casamento.

Tomo banho ouvindo as maiores hipocrisias do século, pensando no caldo da Jana e em como me enganei com a personalidade do meu chefe. De longe, ele se parece com a irritante da Larissa.

Pela forma que ela me humilhou, me bateu e só não repetiu a agressão porque segurei a mão dela e torci... sim, torci. Porque tem que ter duas florzinhas no meio das pernas para ser mais mulher que eu... enfim, achei que ele fosse tão porre quanto ela.

Não fiz nada e ainda sou acusada de estar bisbilhotando? Aquele é meu lugar de trabalho, errados eram eles de estarem traindo um cara tão legal quanto o Marcos.

Antes já tinha raiva daqueles dois, agora tenho vontade de mandar para Plutão. Cara, o chefe é um homem tão simples, mesmo dirigindo um carro mais caro que minha casa e usando roupas que custam uns seis salários mínimos. Ele passa uma imagem bem diferente do que realmente é.

Me arrependo de não o ter conhecido antes... Vai ver poderíamos ter sido amigos ou parceiros de grupo de ajuda.

 Vai ver poderíamos ter sido amigos ou parceiros de grupo de ajuda

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