Ciano. Estava tudo ciano. Eu bebia, respirava ciano. Eu sentia ciano. Eu era ciano. Já completavam cinco horas desde que eu entrei no ciano da piscina do clube local. Eu mesmo não queria sair daquele lugar, daquela água. Era somente eu e mais ninguém. Eu, meus pensamentos. Estava submerso em sonhos e água até que decido emergir e boiar na superfície azul que, mesmo que no início dava-me a sensação de pequenos e levíssimos toques, me estabilizava, segurando-me a este mundo.
A vida aqui era boa. Recordava-me de tudo que queria recordar, momentos que gostaria de reviver, e sonhava com tudo que queria sonhar, criando um novo mundo.
A instrutora da aula de natação do clube abriu a porta do espaço da piscina coberta alertando-me que havia passado meia hora do encerramento do funcionamento do lugar. Ela era uma pessoa legal, sempre me deixava ficar até mais tarde, enquanto ela finalizava alguns trabalhos. Eu sabia que já precisava sair daquela piscina. "Vai virar um peixe assim", ela me dizia seguida de uma risada.
Por mais que eu tentasse, eu nunca conseguiria viver como eu vivi ali e agora, como eu vivi todas as outras vezes.
Saindo num breve bate-papo com a senhorita Flaviana, despeço-me dela e sigo para casa. Morava do outro lado de duas avenidas, conseguia ir a pé se quisesse, assim fiz.
Chegava e estava sozinho em casa. Estava cansado demais para distrações que não fossem a minha cama, portanto ignoro os sons de notificações do meu computador. Nem a televisão ligo. Só queria afundar. Afundar desta vez no meu colchão.
Pensando em filmes, lembro-me daquele em que os astronautas estavam perdidos no espaço. Eles discutiam o plano de voltar para casa, mas um deles não aceitava a morte dos dois, então este desprende a companheira da nave e envia-a para um planeta habitável que pelo menos não a matasse. Sem nem saber no momento, ela comemora que estariam os dois vivos. Sem nem saber no momento que ele havia se mandado para a direção oposta para o bem da equipe. Ele estaria destinado ao desconhecido. Ele não sabia se sobreviveria ou se morreria, mas aproveitava a viagem. Sentia-me como um dos tripulantes. Estava indo rumo ao desconhecido da minha mente, eu não sabia o que viria, mas, com toda a certeza, eu aproveitaria a viagem.
Fecho os olhos e queassim seja.