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Maratona 2/5

HELENA⚘

Ao ouvir aquilo, eu simplesmente não consegui dizer nada. No fundo ele tinha razão, a atitude que tomei não foi uma coisa decente, não fui leal com ele e merecia aquele desprezo.

— Eu sinto muito — Foi a única coisa que eu consegui dizer perante aquela situação desastrosa —.

— Deve sentir mesmo — Pedro retrucou com a voz carregada de um sarcasmo obscuro —.

Ele então virou e encarou o Gustavo, que estava cercado de alguns garotos que tentava especular sobre o motivo da briga, ele apenas balançava a cabeça negativamente enquanto passava a mão no maxilar, talvez checando os estragos adquiridos por conta daquela imprudência.

Quando seu olhar veio de encontro a nós, foi notável o seu desconforto ao ver Pedro ali parado ao meu lado, tanto que ele tratou de desviar o olhar rapidamente.

Pedro não disse nada depois daquilo, apenas me encarou brevemente por alguns segundos e logo saiu do refeitório, sendo seguido por alguns curiosos que insistiam em saber o porquê de tamanho circo.

Apenas Gustavo, Mathew, Bernardo e eu ficamos ali no refeitório.

Poderia ganhar o título de trouxa do ano, mas parte de mim queria ir até o Gustavo e perguntar se ele estava bem, ou até mesmo tocá-lo, eu estava a todo custo tentando me controlar, mexia em minhas mãos de maneira compulsa tentando afastar aquele pensamento masoquista.

— Jordana não estava com você? — Mathew parou em minha frente, cortando o contato visual que eu havia criado com Gustavo —.

Pisquei algumas vezes ao voltar para a “realidade”, e quando fiz, olhei em volta a procura de Jordana.

— É... — Passei a mão pela minha face tentando conseguir concentração para pensar em algo além do Gustavo — Ela estava do meu lado, mas pelo visto... — O encarei — Sumiu! — Fiz uma careta e o mesmo assentiu —.

— Vai voltar para o dormitório? — Ele questionou —.

— Por que? — Questionei de volta —.

— Te acompanho e procuro pela Jordana... — Ele deu os ombros e eu inclinei meu corpo para o lado, tentando visualizar se Gustavo continuava ali, e tive a certeza que estava, pois o mesmo me encarava —.

— Hum... Acho que não — Respondi e ele apenas assentiu —.

Ele virou e foi até Gustavo e Bernardo que conversavam, mas logo se afastou acompanhado de Bernardo, deixando apenas o senhor carisma zero e eu sozinhos no refeitório.

Como dois adolescentes envergonhados, ficamos apenas trocando olhares cheios de intenções.

— Vai ficar me encarando com essa cara de paisagem até quando? — Ele indagou com a voz cansada ao sentar-se em um dos bancos —.

— Pedro quase acabou com você, mas fico feliz em saber que sua personalidade elevada continua intacta — Falei ao suspirar pesadamente. Gustavo lançou-me um olhar repreensivo, mas logo voltou a encarar suas mãos. Apesar do medo de ser escorraçada, fui até ele e sentei ao seu lado — Está doendo? — Questionei ao encará-lo —.

Gustavo ergueu o olhar e mirou o mesmo em mim, esboçando um sorriso carregado de desdém.

— O que você acha? — Ele balançou a cabeça negativamente — Vou sobreviver — Ele disse por fim — Apenas balancei a cabeça e encarei meus dedos enquanto tentava manter a calma perante sua frieza — Porque não vai embora? — Ele questionou depois de um longo período de silêncio —.

— Você só tem à mim nesse momento, por mais que não queira aceitar, Gustavo — Falei de forma franca — Todos foram embora, e provavelmente Agnes não ficará ao seu lado se descobrir...

Ele escorou seu corpo na mesa e balançou a cabeça negativamente.

— Eu não preciso de você — Ele disse rispidamente — Eu não preciso de ninguém — Completou —.

— Seu pensamento auto-destrutivo vai acabar com você antes mesmo do que consiga imaginar... — Ao dizer isso, eu apenas ergui meu corpo e levantei —.

— Onde você vai?

— Há momentos que eu te odeio com toda a minha força, Gustavo — Falei e dei as costas para ele, pelo menos naquele momento ele havia conseguido fazer com que eu o detestasse —.

Dizer que eu consegui dormir duas horas naquela noite poderia ser considerado um grande exagero.

Mil pensamentos e possibilidades assombravam a minha mente, lidar com o ódio do Pedro era algo que com certeza eu teria que aprender a lidar.

Já a indiferença de Gustavo possivelmente se tornaria algo comum em minha vida, justamente com o desprezo por possivelmente ser taxada como a grande culpada de tamanha desventura.

— Não vai levantar, preguiçosa? — Manuela falou sorridente enquanto terminava de vestir seu jeans —.

Eu apenas cobri meu rosto com um das inúmeras almofadas que cercavam a minha cama.

— Não... — Respondi em um sussurro tentando suportar aquela dor de cabeça infernal —.

— Você não tem que entregar aquele trabalho que fizemos para o Thiago? — Ela insistiu —.

-Outro dia eu entrego, oportunidades não irão faltar — Retruquei enquanto sentia minha cabeça latejar —.

— Você quem sabe... Pelo menos tente se alimentar, não vá ficar na cama o dia inteiro — Ela alertou antes de sair —.

Ignorando por completo os conselhos de Manuela, fiquei boa parte da minha manhã e do início da tarde deitada em minha cama desejando uma saída rápida para os meus problemas que tinham nome e sobrenome.

As cenas da noite passada surgiam como flash’s em minha mente, elas se repetiam incontáveis vezes, como se aquilo fosse parte de um castigo por ter feito aquela sacanagem com Pedro.

— Ei, bela adormecia! — Jordana disse com uma animação invejável ao adentrar no quarto — Vamos levantar e comer alguma coisa, caso contrário a senhorita irá sumir de vez!

Revirei os olhos e continuei deitada.

Jordana então agarrou fortemente meu braço e começou a me puxar para fora da cama, mesmo a ofendendo de todas as maneiras possíveis, ela não parou até fazer com que eu caísse da cama.

— Eu não te suporto! — Falei emburrada enquanto trocava de roupa —.

Minha amiga irritante apenas deu os ombros ao sentar-se na cama de Manuela.

A vaidade não era algo que iria fazer parte de mim naquele dia, então vesti um jeans escuro e uma camisa meia-estação, prendi o cabelo em um coque pra lá de desastroso.

— Você está horrível! Não sei como conseguiu fazer com que dois garotos bonitos brigassem por você... — Jordana comentou enquanto me encarava com um ar de reprovação —.

— Essas suas piadas em momentos desnecessários é algo que você deve mudar, Jordana.

— Digo o mesmo sobre esse seu costume de ficar com dois garotos ao mesmo tempo... Ainda mais quando eles são melhores amigos — Ela piscou e agarrou meu braço, puxando meu corpo para fora do dormitório onde passei á tarde inteira em um estado deplorável —.

Durante o caminho até o refeitório, Jordana não parou de falar sequer por um único instante, eu apenas dava respostas curtas, mas em alguns momentos ela conseguia arrancar de mim um sorriso.

Mas foi só chegar ao refeitório que o clima “pesou”, eu conseguia notar os olhares e os murmúrios que começaram ao notarem a minha presença ali.

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