CAPÍTULO 2

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NOAH

Início do ano letivo, reencontro com pessoas queridas e outras nem tão queridas, início de um ano brilhante para uns e desesperador para outros, lamúrias eram ouvidas por todo colégio pelo fim das férias. Era onde eu não me aplicava. Para mim finalmente e felizmente as férias havia chegado ao fim. Já não estava mais suportando os choros, os gritos, os perdões de boca pra fora, e a aceitação inocente. Eu já estava sufocando com a raiva presa em minha garganta.

A escola sempre foi pra mim como uma válvula de escape. Um lugar onde eu posso fugir de todo o inferno na minha casa, pelo menos por algumas horas. Quando não na escola, na casa de algum amigo, em uma festa, tanto faz, algum lugar que me tirasse o máximo de horas do meu querido lar.

Volto minha atenção para o lugar onde estou, no momento que Nathan passa pela porta. Logo seu olhar está sobre Emma, e já sei que o ano não vai ser muito fácil para a pequena Collins.

Depois que crescemos, sua implicância com a Emma parou, hoje ele apenas ignora sua presença, e eu sei que isso a machuca, ele também sabe, ainda lembro muito bem das coisas que ele aprontava e dizia para ela. Nathan a via como uma intrusa em sua vida.

Entendo ele em partes, mas não concordo com sua atitude em descontar sua frustração em Emma. Ela não teve culpa de nada que aconteceu, então porque pagar pelos erros dos outros?

Da carteira atrás da minha Nathan me chama, inclino-me para trás sem tirar a visão do professor.

— O treinador quer falar com todos nós na hora do intervalo. – assinto.

— Sabe sobre o que é? – sussurro de volta.

— Sobre o início dos treinos, e sobre a primeira competição do ano que ele já está de olho. – com um último aceno, volto minha atenção dessa vez para o professor Lorenzo.

[...]

— Amo o esporte, juro! Mas não queria começar o ano na quadra. Hoje eu não queria fazer nada!

— É só uma reunião Ryan. – Ben responde os protestos do menino ao meu lado.

Estamos todos sentados na arquibancada da quadra de hóquei, enquanto esperamos o treinador voltar.

Quando o homem de estatura alta e postura imponente passa novamente pela porta de entrada, todos levantamos indo para o meio da quadra, todos sabiamos que apesar de toda essa sua pose, ele era um cara bacana e simpático, severo apenas quando necessário. Agora de frente para nós, ele dá início ao seu discurso de primeiro dia de aula.

— Este ano vamos nos dedicar o dobro, no ano passado fomos bons, mas temos que buscar melhorar sempre, e esse ano vamos ser ótimos. Eu quero dedicação de cada um, sem ancoragem, mas todos trabalhando em conjunto, ainda aqueles que se sentem menor, vocês também são importantes... – ele se refere aos reservas, no jogo são apenas seis, e o time contém dez. — As competições são grandes portas, principalmente para aqueles que estão no último ano e querem ingressar em uma boa faculdade, então vamos trabalhar para quando elas chegarem.

— Sim, senhor! – todos gritamos em uníssono.

— Benjamin Owen! – o treinador chama a atenção do garoto. — O treino de amanhã é com você.

— Pode deixar, senhor! – Ben é o capitão do time desde o ano passado, ele realmente se doa ao time.

— Estão dispensados!

No fim das aulas fomos todos liberados normalmente, sem nenhuma outra palestra.

— O que vão fazer hoje? – pergunto e Nathan balança a cabeça negando.

— Eu vou pra casa! Preciso programar o treino de amanhã. – Ben reponde enquanto digita algo em seu celular.

— Oi meninos! – Emilly se aproxima nos cumprimentando, e todos respondemos.

— Eu vou sair com a Emy. – Ryan responde segurando a mão da ruiva. Ninguém sabe dizer o que eles realmente são, eles negam que estão namorando, mas ficam frequentemente, um sempre deixa claro para o outro que não querem compromisso nenhum. E assim está feito.

— E você, vai fazer o quê? – Nathan se direciona a mim, pelo seu olhar sei ao que se refere, todos aqui sabem, menos a Emilly. — Eu não tenho nada em mente pra fazer hoje. Você pode ir lá pra casa, a gente joga alguma coisa.

Considerei. Considerei bastante essa opção, mas neguei.

— Valeu, cara! Mas acho que realmente vou pra casa. – todos me encaram e concordam.

— Eu já estou indo! – Ryan se despede dando um tipo de aperto de mão em cada um, logo se retirando com a garota ruiva ao lado.

Depois de me despedir também sigo o meu caminho. Hoje eu vim andando, então tento aproveitar o trajeto até em casa, afundo mais as minhas mãos no bolso do casaco devido a famosa brisa gelada de Lewiston, parece que está a ponto de nevar, mesmo tendo passado quase o inverno todo sem neve e já estarmos perto do início da primavera. De onde estou já avisto minha casa, diminuo ainda mais os meu passos. Queria ter logo meus 18 anos para poder sair desse lugar, mas ainda assim eu não poderia, não queria deixar ninguém para trás.

Entro pela porta da frente e encontro um estranho silêncio, passo pela sala indo até a cozinha e encontro minha mãe mexendo em algumas panelas sobre o fogão.

— Olá dona Ângela! – cumprimento me aproximando e lhe dando um beijo em sua testa.

— Oi querido! – ela me oferece um sorriso simples tocando em meu rosto e eu retribuo seu sorriso encarando seu olhar cansado. — O almoço está quase pronto, logo iremos comer.

Assinto, ela volta a mexer nas panelas mas continuo lhe encarando. Ela percebe e suspira.

— Seu pai não vem almoçar.

Então esse é o motivo desse estranho silêncio.

O dia passou de uma forma que eu desejava que seguisse todos os outros. Pude soltar e presenciar alguns raros risos e sorrisos, pude ter o dia que eu não tive em dois meses de férias. Decidi ir para cama mais cedo para pôr um fim no dia naquele momento, para que nada o estragasse.

[...]

Sinto um leve toque em meu rosto, e por desconfiar de quem seja, abro o olhos lentamente para não assustá-la, pela pouca luz do quarto pude encontrar seus grandes olhos verdes me encarando.

— Noah... – sua doce voz infantil me chama em um sussurro como se eu ainda estivesse dormindo. Eu respondo da mesma maneira:

— Oi...

— Eu posso ficar aqui com você? – suas feições que estavam radiantes mais cedo se entristeceram, só então eu percebo os sons que passam pela fresta da porta que Clara deixou entreaberta. — Só um pouquinho...

Dou espaço para que a pequena se deitasse, cubro seu pequeno corpo e a abraço. Essa não era e nem seria a única vez, eu sei que daqui a pouco ela estará dormindo e desse "pouquinho", ela só levantará amanhã pela manhã para sua escola. E assim se segue em muitas outras noites.

Encaro os reflexos da luz do andar debaixo que passam pela fresta da porta. Como eles não tem consideração nem pela filha de apenas quatro anos? A cada noite que se passa é um inferno para suportar. E a mais errada nessa merda toda é ela.

Os sons aumentam gradativamente e Clara se encolhe me abraçando mais. Pego meu celular em cima da cabeceira e puxo os fones de ouvido, colocando um em sua orelha e outro na minha.

— Pode colocar a musica da Moana? – ela pede me olhando atentamente com aquele olhar, o qual eu não conseguia dizer "não".

— Certo.

A música da menina do oceano começa a tocar e Clara volta a me abraçar enquanto cantarola baixinho a letra da canção. Tento adormecer prestando atenção na voz da minha irmã.

Ela é minha mais importante válvula de escape, e eu sou a dela.

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