— Devo partir.
— Mas por quê?
— Tenho tarefas.
— Posso vê-la uma outra vez?
— Quem sabe. Adeus.
-x-
A jovem abriu as portas abruptamente, o barulho assustou os guardas, que tentaram contê-la sob as ordens do príncipe vindas de dentro do castelo. Porém, nenhum conseguiu segurá-la, a moça se esquivava com destreza de todos. As badaladas do sino ecoavam, o coração dela disparava, seu tempo estava acabando, sua única escolha era correr.
— Senhorita, espere! – gritou o príncipe, mas de nada adiantou, ela já alcançava a carruagem.
— Desculpe-me, vossa alteza, tenho que ir. – ela o respondeu, subindo ao lado da cocheira.
— Seu sapato! – exclamou ela, chamando a atenção da jovem ao seu pé, então a escada, seu sapatinho de cristal negro estava caído no meio dos degraus, este sendo pegue pelo príncipe.
— Não importa, vá!
Com o comando dela, os cavalos começaram a correr. A jovem olhou para trás uma única vez, vendo o príncipe ao pé da escadaria, seu sapato em mãos. Sussurrou um "desculpe-me", que foi levado pelo vendo.
— Está tudo bem, Yoshiko-chan? – a cocheira perguntou, preocupada com a amiga.
— Vou ficar quando esquecermos essa noite. – ela respondeu, respirando fundo para normalizar a respiração, o coração ainda a mil – Tenho medo delas descobrirem, Ruby.
— Não vão... Seu vestido! – Yoshiko olhou suas vestes, o deslumbrante vestido prateado que a Fada Madrinha lhe dera voltou ao aos farrapos que as irmãs o deixaram, sua tiara enfeitada com flores já era um simples arco preto, a única coisa que restara fora seu sapatinho, cujo par estava perdido.
— A carruagem!
Seu transporte também não escapara. A cor negra retornava ao laranja de uma mikan, as rodas estavam virando ramos e se desprendendo. A carruagem balançou.
— Rápido, pule no Papa! – mandou Ruby. Yoshiko sequer pensou, ficou de pé e deu impulso, caindo sentada nas costas da alpaca que, minutos atrás, era um cavalo marrom.
Não viu se Ruby subiu em Mama, não viu se elas a acompanhavam. Só que Papa acelerou e Yoshiko agarrou seu pescoço, o guiando para a mansão de sua madrasta.
Toudo Erena era uma mulher diabólica, principalmente com ela, e era sua madrasta. Não sabia o que seu pai vira nela para se casarem, mas tinha acontecido, e Yoshiko ganhou duas irmãs de brinde. Sarah e Leah era duas meninas mimadas, vis e igualmente cruéis. As três faziam de sua vida um inferno desde a morte de seu pai.
Começou com o quarto, da qual dividia com Leah. Teve que mudar para ela "ter mais espaço", então estava no sótão agora. Então os funcionários, demitiu todos e deixou apenas duas, Hanamaru, na cozinha, e Ruby, no celeiro. E, por último, a fez trabalhar no que restava, limpar a casa, a louça, as roupas, tudo era Yoshiko.
Nenhuma das três facilitava. Deixavam as roupas bem mais sujas, deixavam comida no prato de propósito, às vezes derrubavam no chão. A odiava, maltravam e gostavam disso.
E, no dia seguinte, elas a acordaram cedo. Yoshiko ainda estava com as vestes rasgadas, teve que se trocar na pressa para atendê-las. Não eram nem 7 da manhã e já carregava uma trouxa de roupa para lavar.
— Bom dia, Zuramaru. – falou ao passar pela cozinha, onde a outra já preparava o café da manhã.
— Bom dia, Yoshiko-chan. – foi suas resposta antes de voltar ao fogão.