A rivalidade dos Tsushima e Watanabe já dura por tantos anos que sequer sabem mais o motivo, porém, nenhum dos lados está disposto a abandonar essa velha rixa.
O velho Watanabe, um bravo militar que serviu à marinha, criou os filhos com mão de ferro, rapaz e moça disciplinados e educados, orgulhosos do nome que carregavam, eram exemplos para todos os jovens da cidade. Já o nobre senhor Tsushima, um tranquilo homem de negócios, educou sua menina com as artes e histórias, lhe ensinando a se portar e a falar como uma dama, de uma beleza notável, ela era o objeto de admiração entre muitos.
Os dois, apesar de inimigos, tinham uma única mesma regra para os filhos, jamais deveriam se relacionar amigavelmente com a família rival. E, assim, os três haviam crescido.
No entanto, nada poderia ser feito se eles não soubessem suas identidades. Assim, em uma tarde ensolarada, sem saber o perigo que era, o rapaz do Watanabe conheceu a filha do Tsushima.
Aquela foi uma tarde agradável, os dois se divertiram, correndo por campos de flores e cavalgando juntos pela floresta. Esse evento aconteceu no dia seguinte, e no próximo, e em todos sucessivamente por dois meses. Eles se apaixonaram, fizeram a promessa de se casar, tinham feito seu destino sem o conhecimento do passado.
E foi, no aniversário da jovem, que ele descobriu a dura verdade. Aconteceria uma grande festa no centro da cidade, Tsushima Yoshiko chegou a maioridade, e, como sempre, apenas os Watanabe não foram convidados.
Watanabe Ray ficou desolado, caído e sem vontade. Sua felicidade era sua ruína, o amor de sua vida era o que ele mais odiava. Amaldiçoou a vida por ter colocado Yoshiko em seu caminho naquele dia. Não... Não desistiria fácil.
Contudo, não era o único. Yoshiko percebeu a ausência dele na festa, perguntou a outros sobre o rapaz, quão partido ficou seu coração ao saber. Seus dias não tinham mais o mesmo brilho, ela passou a evitar sair, não queria encontrar com seu amado inimigo.
Suas noites não eram piores, a melancolia da lua e da brisa fria a confortavam, mas não capazes de fazê-la esquecer.
— Qual luz abre a sombra desta noite? – ouviu sua voz grave entornando o poema que a fez, achou que fossem apenas suas lembranças – Eis o brilho da minha vida, é Yohane, a própria luz! Oh, minha mulher e meu amor!
Não parecia mais uma lembrança, sua voz estava perto, estava aqui. Yoshiko olhou por sua janela, avistando seu amor ajoelhado, olhando para ela, exibindo seu lindo.
— Minha Yohane, não aguentei viver sem ti! – ele exclamou, mantendo a voz baixa para que não o escutassem – A mim não importa nossos nomes, não precisamos deles, aqui, nesse momento, não sou um Watanabe, sou apenas um jovem apaixonado.
— Ray, por que, Ray? Renega teu pai e abdica de teu nome? – ela o indagou, lágrimas descendo por seus olhos e manchando sua bela face – Se não o quiseres, jura me amar e não serei mais um Tsushima.
— Renuncio aqui meu nome e tu renúncias o teu. – ele falou convicto, erguendo-se do chão, revelando uma rosa vermelha em suas mãos – Nossos nomes apenas são os inimigos, porém, se não forem nossos, podemos ficar juntos.
Ele se aproximou da janela, delicadamente pondo a rosa atrás da orelha de Yoshiko. Acariciou seu rosto, teve saudades de toca-la, sinti-la, ouvir sua doce voz. Aquela moça era sua perdição, sua salvação, tantos em um.
Esse momento, seus sentimentos, seu relacionamento, muitas coisas poderiam ser destruídas por isso, mas eles não queriam dar tal importância agora, estava juntos, felizes em sua pequena paz.
Essa logo finalizada.
Montada no cavalo, Watanabe You chegou, alertando seu irmão da aproximação de alguém.
O casal se encarou, a tristeza palpável em seus olhares. As lágrimas de Yoshiko já caíam por seu rosto de novo, o rapaz as secou, não querendo sua amada ter a beleza manchada.
— Eu irei, mas não temas, doce Yohane, voltarei por ti e te levarei em meus braços.
Inclinando o rosto uma última vez, ele uniu seus lábios com os da moça, selando aquela promessa que nenhum dos dois esqueceria.
