Todos os dias eu andava por aquela cidade. As estrelas que iluminavam o céu era quase impossível de serem enxergadas pelos meus olhos tão escuros e cheios de ódio. Naquele dia, eu não lembro de muita coisa, lembro de ter saído da torre de carpa ferido, apenas. O motivo? Eu também não sei, mas lembro de ter me arrastado pelos locais achando que poderia conter aquele sangramento e que seria apenas mais um ferimento e dorzinha passageira. Bem, não foi. Após algum tempo andando, meu corpo ficou mole e eu caí no meio daquelas relvas verdes tão grandes, quase camuflando ali. Sinceramente, você deveria ter me deixado morrer naquele local.
Lembro quando cheguei na sua "casa" após ter sido resgatado por você do lugar aonde havia caído, a oito anos atrás. Você era diferente, e até fazia barulho engraçado enquanto comia, e eu lembro da sua barriga estufada quando você comeu quase duas cestas de fruta quando voltou de uma caçada noturna. Você se comportava muito bem comigo, e eu até me sentia estranho sempre que você sorria pra mim. Eu não estava acostumado a ver sorrisos. Lembro que você não se irritava comigo por ser implicante com a garota, talvez um pouquinho, mas a culpa era realmente minha, eu sei, você era um bom amigo.
Sempre feliz e sem um pingo de maldade, você era cheirosinho, e adorava quando íamos nadar na cachoeira ou até mesmo nos rios onde pescavamos. Mas eu lembro muito bem que o que você mais gostava era quando eu sentava ao seu lado para pescar, foi assim que você me ensinou a ter paciencia. Eu não lembro porque perdi minha blusa em cima daquela árvore, mas você pegou, mesmo com toda a dificuldade em volta de seus olhos. Você sorria muito, e tinha um sorriso lindo, eu não sei explicar. Ele não começava de canto como o sorriso maldoso que eu possuía, ele começava no meio, e depois sua boca se levantava, formando o sorriso mais belo que eu já vi, era como se as estrelas, o brilho delas, se concentrasse em um único sorriso.
Mas depois de algum tempo, meu coração dizia que eu deveria esperar pelo pior, mas você apareceu sorrindo pra mim e confundiu minha cabeça totalmente. Você me fez entender o que era felicidade, paciência e amor. Tanto o amor de amizade quanto o amor de homem. Você era meu amigo feliz de antigamente ou quase isso, você andava com um pouco de dificuldade as vezes, cansado por causa da dor que sentia por causa dos seus olhos - ou a falta deles - se é que você preferia chamar assim. Eu as vezes soltava palavras cruéis sobre isso, mas você achava engraçado e não me repreendia. Mas as vezes eu pedia desculpas quando percebia que havia feito algo de errado.
Eu nunca havia realmente achado que estava errado, a concepção de certo e errado não existia para mim, mas você me mostrou ela de uma forma diferente. Lembro que quando você ficava doente, eu arrumava um jeito de ganhar dinheiro para trazer alguns remédios para você, mesmo que normalmente eu abusasse de ervas para fazer chá medicinais, que sinceramente, eu não sabia como, mas uma senhora da vila me deu o livro dela para aprender. Um dia vi um médico andando por lá, e ele falou que você não iria sobreviver até o final do ano, eu fiquei furioso, e simplesmente decidi ignorar. Matar pessoas não era tão legal como antigamente, você me ensinou isso de alguma forma, mesmo que indiretamente. No final, você passou as datas comemorativas com a gente, comigo, e com a cega.
Eu não entendi muito bem o que aquele cara havia me dito, mas talvez ele estivesse falando por causa dos seus olhos. Sinceramente, eu não me importava muito, eu iria cuidar de você da melhor forma possível para que nada afetasse sua vida. Mas chegou uma hora, que você foi... Piorando...?
E os chás e remédios ja não tinham mais os efeitos de antes, você não estava com dor e continuava sorrindo pra mim como sempre, eu então, simplesmente não entendia. Quando encontrei aquele maldito médico, perguntei novamente quanto tempo de vida você ainda tinha, mesmo que eu não acreditasse nele, e o homem disse que eu decidiria isso, na hora não entendi, mas depois sim. Eu fico pensando até hoje quem era aquele médico, eu nunca mais vi depois daquelas últimas consultas, era algum tipo de força divina ou maior que desceu para me alertar sobre tudo que viria acontecer?
Eu não planejei o seu último dia. Aquele dia era só mais um como todos os outros, em que eu iria andar com você pela vila da cidade, brincariamos e voltaríamos para casa. E talvez sentassemos em volta da fogueira para conversamos mais. Eu fui o responsável por você fechar os olhos mas acariciei seus cabelos mesmo depois de saber que você não estava sentindo mais nada. Todos os dias eu fico pensando porque aquele maldito homem me traumatizou, e agora você não respira mais por causa de mim. Você foi a única pessoa que amei, e agora você não está mais comigo. Xingchen, eu sei que você foi a única pessoa que demonstrou amor por mim, e eu arruinei tudo. Eu não quero admitir, mas de alguma forma, aquela merda de culpa cai sobre mim, porque eu sei que sou um inútil que nunca consegui fazer nada direito.
Como as estrelas são lá do céu, o meu amor também era seu. Acho que, mesmo que se você tivesse me abandonado, meu amor iria te guiar, eu iria querer estar com você nos seus momentos mais felizes, mesmo que eu não fizesse parte deles. Eu lembro que, quando nos conhecemos, você dizia que aquele maldito cultivador negro que andava com você era seu amor perdido, bem, você não disse isso com todas as palavras, mas eu consegui entender. Você sabia que eu estava morrendo de ciúmes naquele dia? Eu também não sabia que sentimento era aquele, mas corroía meu peito por dentro, foi naquele dia que decidi que iria fazer você me amar. Eu sempre tentava tirar um sorriso seu, mesmo que estivesse com a cabeça afundada e estivesse pior do que você, Xingchen.
Você lembra das palavras cruéis que você me disse? Eu sei, eu sei que disse palavras cruéis pra você também, me perdoe, Xiao. Mas foi a única resposta que eu consegui dar a você. Uma resposta violenta. Eu ainda me lembro daquelas suas últimas palavras, era como se você dissesse que não me amava mais e queria que eu te esquecesse. Eu não entendi o porquê daquilo, mas me dilacerou por dentro, por pequenos instantes meu coração palpitava fraco pedindo para ser mentira, mas não era. Eu podia jurar que escutei o eco de meu coração remendado se quebrando novamente em milhões de pedaços. E, as vezes eu gostaria de voltar no tempo, não pra mudar o que passamos - talvez só a parte final - mas queria reviver aqueles momentos bons novamente.
Eu irei continuar caminhando por essas cidades escuras, Xiao, eu prometo que irei te trazer de volta. Eu quero você comigo, mas se você não quiser, tudo bem, eu entendo. Se quiser caminhar comigo só até achar Zichen de novo, tudo bem. Eu só quero que você volte a andar, respirar, eu só quero você vivo.
Se um dia ler essa carta, saiba que eu te amo.
Eu te amo, Xiao Xingchen.
E espero que um dia você possa me perdoar, não precisa ser agora, eu espero o tempo que for, até em outra vida.
Ass: Xue Yang.
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Carta para as estrelas.
FanficXue Yang nunca soube realmente como lidar com seus sentimentos. Houve uma época que nem mesmo achava que era capaz de ter algum, até encontrar Xiao Xingchen. Depois de todo acontecimento desastroso na cidade deserta, Xue Yang decide escrever uma car...