21. "Notícias boas?"

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Por Beatriz

Encolhida na cadeira fria do hospital, esperei notícias do Manuel. Já haviam se passado alguns minutos, e nenhuma notícia. Ao fim do corredor, um médico conversava calmamente com um casal. Não parecia ser uma boa notícia. Em questão de segundos, a garota, que devia ter a minha idade, chorava aos prantos, protegida pelos braços do outro garoto. Ela pôs as mãos na barriga, e finalmente abraçou seu namorado.

O médico murmurou algo como "Sinto muito" e deixou o casal. Eles passaram por mim, e senti um aperto no coração quando escutei a voz da garota:

ㅡ Era o nosso filho, Paulo. Nosso filho.

Uma lágrima escorreu pelo meu rosto. O dia do acidente veio como uma facada no meio peito. A minha dor... A dor do meu pai. Ele não chorou quando recebeu a notícia. Não derramou uma lágrima sequer. Ainda escuto sua voz, "Você precisa superar essa dor, Beatriz". Mas, pela primeira vez, eu sabia que ele não tinha superado.

Meu coração quase saiu pela boca quando escutei o toque do meu celular. Olhei a tela, esperando o nome de Chiara ou o de Celeste, mas quando percebi quem era, sorri ironicamente.

ㅡ Bia, finalmente você atendeu! Eu estava morrendo de preocupação, filha. Uma secretaria do internato falou que você tinha ido para o hospital... Beatriz? ㅡ Enquanto escutava a voz do meu pai, respirei fundo.

ㅡ Oi pai, não se preocupe, estou bem. Só estou acompanhando um... amigo ㅡ Murmurei, enxugando uma lágrima solitária ㅡ Fiquei feliz que você ligou. Não nos falamos a semanas...

ㅡ Perdão, filha. Eu pensei que você queria um tempo sozinha. Sei que você fez muitas amizades... ㅡ Disse, e eu podia jurar que ele estava sorrindo ㅡ Não pense que eu...

ㅡ Pai ㅡ O interrompi, imaginado Helena ao meu lado ㅡ Eu tenho que desligar. Me desculpa por tudo o que eu já aprontei... Eu só queria a sua atenção, mas sei que você sempre vai estar ao meu lado. Eu te amo.

ㅡ Sempre estarei. Eu te amo, filha.

Desliguei a ligação e mal percebi que Victor vinha em minha direção. Me levantei da cadeira em um pulo.

ㅡ Como ele está? ㅡ Perguntei, apreensiva. Victor não tinha nenhuma expressão no rosto, o que me deixou mais nervosa.

ㅡ O Manuel está no quarto 16. Não se preocupe, está tudo bem. Ele é um garoto de sorte. Se a chuteira do outro jogador tivesse pegado só mais um centímetro... Aí sim, ele teria quebrado a perna. Provavelmente, ele ficará com o gesso por alguns dias... ㅡ Ele notou a minha ansiedade, e começou a rir ㅡ Ok, pode ir, depois eu falo sobre isso.

ㅡ Victor ㅡ Eu ia começar a correr, mas lembrei da sua breve conversa com o médico ㅡ Que história foi aquela? Você, irmão do Manuel?

ㅡ Beatriz, acho que isso é um assunto para outro momento. O Manuel quer te ver.

Assenti e comecei a caminhar pelo corredor. Uma coisa era certa, eu odiava hospitais. Acho que tive um bom problema com eles em uma vida passada. Entrei no elevador e apertei o botão do terceiro andar. Os segundos pareciam horas. Assim que a porta se abriu, segui para o quarto 16. Cheguei na porta, e respirei fundo. "Manuel Gutiérrez, 17 anos, fratura no tornozelo", dizia um mini prontuário colado na porta. Bati duas vezes, e puxei a maçaneta.

A primeira coisa que vi foi o médico, alto e negro, conversando alegremente com Manuel. Manuel... Tinha uma feição cansada, mas alegre ao mesmo tempo. Seu pé direito, que repousava em cima de um "objeto" estava coberto por um gesso. Tirando isso, ele parecia o mesmo Manuel.

Trocamos um olhar por alguns segundos. Ele sorriu, provavelmente porque estou feito uma boba, o admirando. Piscando algumas vezes, voltei ao mundo real e me apresentei ao médico. Ele falou por mais alguns minutos, até que nos deixou sozinhos no quarto.

ㅡ Agora vou ter uma desculpa mais convincente para atrasar no treino ㅡ Brincou, e eu fingi uma cara de brava. Corri até ele e o beijei calmamente.

ㅡ Você me assustou, sabia? Pensei que iriam amputar o seu pé ou algo do tipo! ㅡ Exclamei, e ele franziu a testa ㅡ Ok, estou exagerando! Mas eu realmente fiquei preocupada.

ㅡ Mimadinha, você já deveria saber que nada vai me separar de você. Nem um big bang! ㅡ Ele riu, agora olhando para sua perna ㅡ Vou ficar um tempinho com essa belezura. Até que não incomoda muito.

ㅡ Não incomoda? Eu já quebrei meu braço e tive que usar o gesso por um mês! Isso é horrível! ㅡ Retruquei, alisando seu cabelo ㅡ Você não sabe o tamanho da minha felicidade por você estar bem, Idiota.

ㅡ E você não sabe o tamanho da minha por ter você ao meu lado nesse momento ㅡ Respondeu, e eu o beijei novamente

(...)

ㅡ Pietro, Jandino e Celeste, ali ㅡ Apontei para a parede oposta, enquanto os três seguravam um cartaz colorido ㅡ Chiara e Carmin, o lança confete!

Verifiquei o relógio novamente. 17:47. Ele já devia ter chegado. Dei uma olhava rápida no corredor, pondo em risco a surpresa, mas a ansiedade estava me corroendo por dentro. Bufei ao ver que não havia ninguém ali. Fechei a porta novamente, observei o quarto. Chiara e Celeste me ajudaram a trazer meus pertences de volta ao meu quarto. Me deu uma sensação de conforto arrumar o armário novamente, sentindo o cheiro de Manuel. Aquele era o meu lugar.

Compramos quatro caixas de pizzas e as deixamos na escrivaninha. Uma fita de led colorido foi colocada no cômodo, e uma mini balada se formou. Estava feliz ao ver que todos se importavam com ele. Aliás, Manuel teve que passar sete dias no hospital, mas o coitado não teve cinco minutos de descanso, pois a cada momento seus amigos iam visitá-lo. Não tivemos notícia do jogador que fez aquilo, mas o diretor da outra escola jurou que foi um acidente. Nem todos acreditavam nisso...

ㅡ Bia, o Jhon acabou de mandar mensagem. Manuel já entrou no elevador ㅡ Celeste avisou, e todos foram para seus respectivos lugares. Eu apaguei a luz principal e me escondi atrás da cama do meu namorado.

Segundos se passaram, até que escutamos passos. Prendi a respiração. No mesmo momento, Manuel abriu a porta, confuso. Ele procurou o interruptor, e assim que a luz amarelada tomou conta do espaço, todos pulamos e gritamos. Chiara abriu o lança confete, e enquanto papéis coloridos caiam no chão, Manuel não parava de rir.

ㅡ Eu já imaginei como seria uma festa surpresa, mas nunca esperei que fosse dessa maneira ㅡ Exclamou, enquanto Jhon, que estava atrás de Manuel, o ajudou a sentar na cama. Andar com as muletas ainda era um pouco difícil e cansativo.

ㅡ Você merece, Manuel. Eu e o Jandino quase batemos naquele jogador maldito! ㅡ Pietro encheu o peito e falou com orgulho.

ㅡ Só não bateram nele porque o garoto equivalia a dois de vocês ㅡ Carmim retrucou aos garotos. Todos começaram a rir.

Enquanto todos conversavam, me sentei ao lado de Manuel, e descansei minha cabeça em seu ombro. Não precisamos falar nada. Apenas por saber que ele está aqui comigo, meu coração se enche de alegria. Aquele beijo no vestiário... Merda, sabia que eu estava esquecendo algo. O pen drive. Foi algo simplesmente esquecido.

ㅡ Ei, vou pegar algo lá no quarto das meninas, já volto ㅡ Avisei a Manuel e sai do cômodo.

Me assustei no mesmo segundo quando vi Victor, vindo em direção ao quarto. Ele me olhou, como se soubesse o que se passava por minha mente. Finalmente, depois de uma semana, tomei coragem:

ㅡ Acho que a hora daquela conversa chegou.

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depois de quase quatro meses, olha quem apareceu KKKKKKKKKKKKK não me matem

intocável | binuel [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora