there for you

☆ 1

          Yanli olhou para o banco de trás, onde o filho dormia tranquilamente. Depois de 3 meses, já não era tão difícil fazê-lo dormir, mas ele ainda perguntava quando o pai ia voltar todas as noites. Lembrar de Zixuan fez com que a enfermeira-chefe apertasse o volante até que os nós de seus dedos se tornassem esbranquiçados. Os três últimos meses foram um inferno, e a saudades dos irmãos estava tornando tudo pior. Ambos haviam se oferecido para voltar e ficar com ela por um tempo, até que tudo se acertasse, mas ela não achava certo que eles desviassem de seus caminhos para ajudá-la. Yanli era forte, e lidaria com aquilo sozinha. Tinha que fazer isso por Jin Ling, e por si mesma.

          O caminho de sua casa até o hospital foi tranquilo, mas a jovem mãe não conseguia relaxar, levando em conta a situação em que se encontrava. Desde o acidente, a mãe de Zixuan havia praticamente se mudado para a sua casa, cuidando do pequeno Jin enquanto ela trabalhava. Mas três meses era muito tempo para ficar longe da própria casa, e Yanli havia finalmente a convencido a voltar para casa. Prometeu que contrataria alguém competente para cuidar de Jin Ling, mas a verdade é que estava difícil achar alguém, e a única opção que tinha no momento era levar a criança para o serviço. O problema é que não havia nenhum lugar do hospital em que ela pudesse deixar o filho, e ter uma criança de cinco anos andando para lá e para cá atrás dela não era a melhor ideia.

          A morena suspirou, parando em sua vaga de estacionamento e se virando para tirar o filho da cadeirinha. Ao virar, deparou-se com olhos nublados e curiosos, e sentiu um aperto no coração. Tudo em Jin Ling lembrava o pai, exceto os olhos. Os olhos eram idênticos aos seus, desde a cor, até a suavidade presente neles. Reprimiu as lágrimas que ameaçavam romper a barragem que ela havia criado e começou a soltar o filho do cinto, pegando-o no colo logo em seguida.

          — A-Ling, olhe para a mamãe. – Ela segurou o rosto do filho de leve, para ter certeza de que estava prestando atenção, e falou com a voz suave. – Eu vou precisar que você seja um bom rapaz hoje e não faça bagunça, okay? Promete pra mamãe que vai se comportar?

          Jin Ling balançou a cabeça devagar, olhando bem nos olhos da mãe, com uma expressão tão séria que fez com que Yanli comprimisse os lábios para não deixar uma risada escapar.

          — Certo, esse é o meu garoto!

          Wen Qing observou a tela do computador com as sobrancelhas franzidas. Ela já havia revisado aquele prontuário pelo menos 5 vezes, mas ainda parecia que algo estava errado. A médica suspirou, massageando as têmporas e relendo o documento pela sexta vez. Puxou no arquivo o nome do residente responsável pelo paciente em questão e se levantou. Nos últimos meses, entre pesquisas e estudos de caso, Wen Qing raramente saia de sua sala, deixando-a apenas para executar suas cirurgias. A sensação de caos que a entrada do hospital proporcionava era, de certa forma, reconfortante. Ela sorriu levemente ao passar por alguns colegas e internos, e se dirigiu a recepção, onde duas pessoas pareciam ter uma conversa acalorada. A médica as reconheceu em um instante. A mais velha era uma enfermeira antiga, que parecia já ter idade para estar se aposentando pela segunda vez. A outra, com uma criança no colo, era Jiang Yanli, a nova enfermeira-chefe, e, apesar do olhar cansado, ela parecia linda, como sempre.

          Wen Qing sempre fora uma pessoa curiosa, então não pôde evitar se inclinar levemente na direção da discussão para ver do que se tratava.

          — Senhora Jiang, eu entendo que não tem outra opção, mas não tem nenhum lugar do hospital em que seu filho possa ficar no momento. Até a ala pediátrica está lotada.

          — Mas senhora Wang...

          — Sinto muito. – A mulher mais velha fez uma leve reverência e se afastou, voltando a dar atenção ao prontuário que analisava anteriormente.

          Enquanto isso, Jiang Yanli parecia ter levado um tapa na cara. Wen Qing havia ouvido falar superficialmente sobre a situação da enfermeira-chefe, e sentiu que deveria dizer algo. Sabia que não havia muito o que pudesse fazer, mas antes que conseguisse se impedir, ouviu sua própria voz dizer:

          — Você pode deixa-lo na minha sala, se quiser. – Assim que as palavras saíram de sua boca, a mulher a sua frente virou para ela com um olhar surpreso em seu rosto. – Quer dizer, eu estou fazendo algumas pesquisas ultimamente, e não tenho saído muito da sala. Posso vigiar ele para você. E a sala é grande, ele vai ter espaço para brincar e se distrair...

          A médica percebeu que estava se enrolando. Ela raramente ficava nervosa, mas naquele momento, seus pensamentos pareciam incapazes de andar em linha reta. Para sua surpresa, uma risada escapou da boca de Yanli, e ela sorriu, parecendo uma tonelada mais leve.

          — Você faria isso?

          — Claro. – E mais uma vez, a boca da mais nova se moveu antes que ela pudesse impedir.

          Yanli sorriu, e todos os pensamentos pareceram ser varridos da cabeça de Wen Qing. Ela colocou o menino no chão, e falou algo em seu ouvido. Assim que terminou de falar, o menino balançou a cabeça e virou-se para a médica, falando de um jeito sério que não combinava com suas feições fofas e redondas:

          — Meu nome é Jin Ling. – Ele esticou a mãozinha, e Wen Qing se segurou para manter a expressão séria.

          — Meu nome é Wen Qing, muito prazer.

          — Minha mãe disse que você vai cuidar de mim. – Ele olhou para ela por um momento, antes de dizer: - Vou me comportar, não se preocupe. – Jin Ling se virou para a mãe, abraçou-a, e completou de forma suave: - Pode ir, mamãe. Bom trabalho.

          Wen Qing percebeu que Yanli pareceu subitamente prestes a chorar, mas antes que isso acontecesse, ela se virou e andou em direção ao vestiário dos funcionários. A criança ao seu lado segurou sua mãe e olhou curiosa ao redor, antes de perguntar:

          — Pra onde vamos agora?

          É, aquele seria um longo dia...