Episódio #01 - Surda, muda e cega.

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Natália estava surda para o mundo

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Natália estava surda para o mundo. Muda para todos que estavam à sua volta. E decididamente cega para a sociedade. Voltou as costas para tudo e todos. Não suportava mais o abafamento claustrofóbico da quarentena a que estavam todos mansamente se submetendo. E tomou de uma vez por todas as rédeas de sua vida. Não sabia ela que a cura já estava lentamente à caminho.

Dizia o provérbio, que o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã. E a luz estava invadindo o quarto dela, enchendo o precipício obscuro a que ela estava aprofundada toda a noite. E os objetos de seu dormitório iam surgindo em sua visão.

Ela observou tudo aquilo como fosse a primeira vez. Qual Adão, que ia nomeando cada animal e planta do jardim. Mas no caso de Natália não era um jardim. Via-se logo que era o seu aposento cotidiano. E os nomes de cada coisa no seu lugar eram conhecidos dela.

Começando pela penteadeira, seu lugar preferido no quarto. Passava horas antes de sair no mesmo gesto inútil. Entretanto, ela erguia-se naquele momento, sentou-se na cadeira, e começou, vagarosamente, o seu exercício de reconhecimento. Aquelas maquiagens. O pente. A pranchinha de alisar o cabelo. Aqueles objetos. enquanto ela ia olhando, veio na mente dela: "desde quando eu tinha aquilo tudo?

Olhava a sua bolsa, como se fosse a primeira olhada que dera na bolsa. Era tudo pela primeira vez. Foi a mãe dela, quem deu aqueles objetos para ela. De presente. Pelo menos a maioria das coisas. O lápis de olhos. O estojo de maquiagem. Tudo presente de aniversário. E lembrou-se de seu aniversário. Já estava chegando. E se a festa fosse igual ao do ano passado, seria top. Pensou ela. Redescobrindo-se...

 Redescobrindo-se

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