Calmaria - bnha | tddk

A tua calma me acalma

Era final de ano e a classe 1-A havia decidido que seria divertido se todos passassem a virada de ano juntos. Depois de tudo que tinham enfrentado neste ano, tantas turbulências e situações desagradáveis, mas que, felizmente, todos saíram vivos, aquilo havia ajudado a estreitar os laços entre eles. Suas famílias tinham concordado com a ideia. Até mesmo Enji, ainda que não tenha perdido a oportunidade de lançar um olhar de desaprovação para Shouto, que sabia muito bem a razão. Fuyumi ajudou a convencê-lo e ele não fez maiores objeções, claro. Muitos achavam que Shouto era o filho favorito da casa, mas isso não era verdade. Fuyumi sempre conseguia o que ela queria e bastava apenas um olhar decepcionado e algumas palavras doces, para que até mesmo o implacável Endeavor realizasse seus desejos.

Deviam estar faltando no máximo uns trinta minutos para a explosão de fogos de artifício e Shouto tinha se afastado do grupo, indo sentar-se bem longe de seus colegas. Muitos pensamentos na cabeça, frustrado por não conseguir abandoná-los, nem mesmo em um momento como este e ele estava começando a ficar melancólico. Para não estragar o momento, ele preferia simplesmente afastar-se, não queria incomodar ninguém. Talvez fosse um erro ter resolvido acompanhá-los, afinal de contas. Era a primeira vez que fazia uma coisa desse tipo, mas não podia deixar de sentir-se um pouco alienígena à todo o conceito de estar rodeado de pessoas.

Além disso, era nessa época do ano que Shouto mais sentia falta de sua mãe. Ele havia planejado passar essa data com Rei no hospital, mas ela insistiu que ele deveria estar com seus amigos. O hospital, mesmo no clima festivo de final de ano, ainda era um ambiente deprimente e ela não queria que seu filho tivesse que passar os últimos momentos de seu ano confinado naquele lugar.

Shouto discordava, é claro, mas ela não iria aceitar outra resposta, tão teimosa quanto ele próprio, tinha a quem puxar, então ele apenas assentiu e obedeceu às suas vontades, não querendo ser mais uma causa de estresse para a mulher e bagunçar com a sua recuperação. Ainda assim, Todoroki foi incisivo em passar no hospital antes de encontrar seus amigos, para dar um abraço em sua mãe e deixar alguns quitutes que Fuyumi e Natsuo tinham cozinhado para ela.

O garoto trouxe os joelhos perto do peito, abraçando-os e encarou o oceano imenso em sua frente, pequenas ondas beliscando vez ou outra seus pés. Shouto deixou um suspiro abandonar seus lábios e escondeu o rosto entre seus braços. Era impossível não pensar sobre sua família. Tanto ali naquele momento, na praia, quanto em cada dia que passava, era frequente se pegar perdido em sua própria mente.

Ao longe, alguém gritou seu nome, fazendo-o levantar a cabeça e olhar pra trás. Ele não queria que ninguém chegasse ali e o encontrasse, mesmo que isso soasse rude, as pessoas podiam pensar o que bem entendessem. Shouto só não queria ser incomodado, mas logo que viu o garoto que o chamara correndo em sua direção, com os cabelos esverdeados balançando com o vento conforme se movia, um sorriso bem pequeno surgiu nos lábios de Todoroki.

Apesar de não querer ser incomodado, não parecia tão ruim a ideia de ter Midoriya ali perto. Shouto sabia que ele se importava o bastante a ponto de vir procurá-lo. Era um pouco óbvio, esse aspirante a herói estava sempre preocupado com as pessoas ao seu redor, determinado a ajudá-las sempre que possível. Shouto realmente não deveria se sentir especial por isso, mas mesmo assim parecia incapaz de não sentir um certo calor dentro do peito apenas pela constatação de que seu amigo – talvez o primeiro melhor amigo que ele já teve – havia se dado conta de seu sumiço.

Midoriya sentou-se ao lado de Shouto de forma pouco graciosa, tombando um pouco para o lado e batendo com o cotovelo no braço de Todoroki. Ele murmurou um pedido de desculpas, afastando-se apenas alguns centímetros, ainda suficientemente próximo para que Shouto estivesse alerta de sua presença; a leve brisa da praia fazendo com que o cheiro do mar se espalhasse pelo ar, misturando-se com o cheiro de morangos e baunilha que sempre parecia acompanhar Midoriya. Shouto respirou um pouco mais fundo, só pra poder inalar a fragrância por um pouco mais de tempo.