Cap. 2 - Tá Decidido

5.1K 250 20
                                    

You're ripped at every edge but you're a masterpiece.

Você está rasgado em cada extremidade mas você é uma obra-prima.

- Colors - Halsey

Odeio isso. Odeio o rumo que minha vida tomou. Odeio ter que ir para a casa da minha tia para fazer o tratamento que não ira fazer efeito algum, é apenas uma perda de tempo e de esperanças depositadas em um lugar errado.

Não quero me tratar, não preciso disso. Eu aceitei que irei morrer, só falta eles aceitarem isso. Não quero lutar por uma causa perdida. Não quero morrer sabendo que todos os meus esforços, todas as falsas esperanças, não valeram de nada. Não quero ser um fardo. Esperanças sempre rodam esses tratamentos para câncer mas eu não tenho esperanças para mim sei que sou um caso perdido. 

A morte não deve ser tão ruim quanto esta sendo minha vida aqui, não sou capaz de fazer muitas coisas sozinha ou sequer sem ter alguém me vigiando com medo que eu passe mal ou algo do tipo, isso não é vida, viver sem poder ser livre.

Desde a morte de minha mãe, minha tia vem me oferecendo um lugar para morar falando que sempre serei bem vinda em sua casa, até porque ela sabe que meu pai passa mais tempo na empresa do que em casa. Não que eu o culpe, sei que é difícil para ele e também sei que ele me ama - mesmo eu sendo tão parecida com ela, mas sinto falta de como eramos antes do acidente!

Não contei a quase ninguém da minha família que estou com câncer, não quero mais olhares preocupados ou com pena. Já me basta os que me deram quando minha mãe morreu. Não preciso da falsa compreensão deles. Não preciso de nada que venha deles, e não estou sendo grossa ou insensível eles simplesmente não se preocupam comigo e tudo  uma encenação para que depois eles não fiquem com uma consciência tão pesada, alguns nem lembravam o meu nome ou o da minha mãe e estavam la chorando sobre o tumulo dela.

(...)

Ao desembarcar estou com um pouco de tontura mas nada fora do normal, efeito de passar muito tempo sem comer, vou ate uma das lojas que tem no saguão para comprar algo para beber, parece que eu tentei engolir lixas de tão seca que minha boca esta.

Quando já estou saindo do aeroporto meu telefone toca ate penso em atender quando vejo que é meu pai mas desisto, ele vai sofrer pelo menos ate eu chegar na casa da minha tia. Desligo o telefone antes que ele tente me ligar mais uma vez. Vou ate o ponto de táxi. Uma hora ou outra eu terei que falar com ele, mas quero adiar o máximo possível. 

Me assustei um pouco com a reação da minha tia ao me encontrar parada em sua porta, acho que ela não acreditou muito quando o porteiro do condomínio falou que era eu, acho que ela reagiria melhor a um assalto do que a me ver ali. Ela quase infartou!

Após escutar uma ladainha que parecia interminável sobre como eu era irresponsável e vários blá, ela finalmente me deixou ir para o quarto - não antes de me obrigar a comer alguma coisa, de acordo com ela estou muito magra. Assim que acabei de colocar algumas coisas no lugar tomei um banho e tentei dormi - ouviram bem? T-E-N-T-E-I! O lugar quente esse viu. Mas parece que minha tia e o Brasil tem uma relação de amor que ninguém mais entende.

(...)

Acho que não tem algo que eu odeie mais do que ser acordada. Ser incomodada por um ser enviado do satanás - também conhecido como Victor! Quem ele pensa que é para vir me acorda? Ele ta afim de morrer?!

- Vamos tratar de acorda Dona Eduarda que já esta tarde e temos coisas para fazer - ele diz enquanto abre as cortinas e em seguida vem puxar a minha coberta, ele realmente esta querendo morrer!

- Que coisas seu inútil eu acabei de chegar - reclamo puxando a coberta de novo.

- Vai, colabora comigo. Tenho que ti levar para você assinar uns papeis na escola e ainda vamos encontrar minha mãe no Hospital para vermos as coisas do seu tratamento... - não deixo que ele termine de falar.

- Pera um minutinho ai, mais divagar que eu acabei de acordar, contra a minha vontade, mas se eu escutei bem você falou sobre escola e tratamento ou eu estou ficando louca? - falo me sentando na cama.

- É você escutou bem, agora vamos logo que já vai dar meio-dia. Vamos se arruma logo - diz e sai do quarto me deixando ali com cara de tacho.

Parece que não vai ser tão fácil assim como eu achei que seria.

Belo DesastreOnde histórias criam vida. Descubra agora