Igor, meu amigo, sempre foi altruísta e idealista. Nos conhecemos na faculdade, nos tornamos grandes amigos, decidimos dividir um apartamento pra conseguir aguentar os custos de morar na capital, mas ele sempre arranjava uma encrenca para a cabeça.
Seis anos se passaram desde que terminamos a faculdade e nossos caminhos finalmente começaram a tomar rumos diferentes.
- Igor, você sabe que tá complicado meu emprego, a distância e tals...
- Eita cara, sei, o trânsito também não ajuda né?
- Pois é, então. Eu comprei um apartamento mais perto do meu serviço. Vou pra lá em breve.
Não queria magoá-lo, mas ele também me surpreendeu:
- Nossa, isso é algo que queria te falar também Polaco, eu vou junto com o pessoal da ONG ajudar as pessoas lá do Oriente Médio.
- Oi?
Novamente ele avoado e sonhador lançou-se rumo às suas vontades.
Conforme havíamos combinado, ficaria mais um ano no nosso apartamento alugado até que o meu já estivesse habitável e assim que ele voltasse eu partiria.
Igor tinha uma energia de vida incrível, ele estava sempre disposto a ajudar a tudo e a todos, talvez pela sua criação humilde, e guiado por uma namorada que teve, juntou-se a uma ONG que ajuda imigrantes e foi se aventurar no oeste da Ásia.
Nesse um ano, minha vida continuou como sempre tinha sido, de casa para o trabalho, do trabalho para casa, esperando os finais de semana para achar que vivia e me frustrar no domingo à noite por não ter feito nada do que planejara durante a semana. No entanto, meu emprego estava bem recompensador. Recebi algumas promoções e já me sentia com um serviço digno de encarar o início dos 30 anos.
Era o dia do retorno de Igor finalmente, fui buscá-lo no aeroporto. Não sei o quanto fiquei surpreso, pois dele poderia se esperar qualquer loucura, quando ele chegou acompanhado de um outro rapaz. Igor me abraçou feliz, eu retribuí. O cara junto com ele apenas estendeu a mão, me deu um "ôlá" estranho, e continuou boquiaberto observando tudo ao redor.
- Cara, deixa eu te contar, esse é o Ibrahim.
Resumidamente, eles se conheceram em meio a um conflito, Ibrahim ajudou Igor, eles ficaram grandes amigos e Igor deu um jeito de trazer ele para o Brasil para que em seguida ele conseguisse trazer sua noiva e pais para cá. Ibrahim por sua vez conhecia meia dúzia de palavras em português, tinha apenas uma mala de pertences com ele e ficaria no apartamento no meu lugar. Igor já havia arranjado um emprego para ele na antiga empresa que trabalhava falando com seus antigos chefes.
Por um lado achei que fosse mais uma loucura dele, mas por outro lado, não conseguia deixar de admirá-lo pela sua empatia e sua vontade de abraçar o mundo. No caminho de volta deixou Ibrahim vir na frente, mas cutucava o pobre rapaz a cada dois segundos para animadamente falar sobre algum ponto da cidade ou alguma coisa. Pouca coisa eu entendia, só podia ver pelo retrovisor o olhar embasbacado do libanês.
Chegamos ao apartamento, e eu lhes informei que ainda tinha muitas coisas minhas e que tiraria um pouco a cada final de semana, e assim também poderia checar como iam as coisas ali.
Um mês se passou, as pessoas da empresa de Ibrahim o haviam apelidado de Júnior porque ele era muito parecido com um dos gerentes da produção e o apelido pegou. Júnior conseguia se virar bem com o pouco mais que aprendeu do português e com o inglês que já sabia. Estava realmente muito empenhado em juntar dinheiro, pois se desdobrava pra usar somente as roupas que trouxe, dormia no mesmo colchão meio acabado que eu usava e não comprava nada para si para poder economizar.
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Seu Poder Sobre Mim
RomanceAlgumas coisas que acontecem na vida, ou no final dela, possuem um poder, um efeito impulsionante, que faz tudo se movimentar, mesmo que contra a vontade. Com "Polaco" foi assim, obrigado a seguir em frente, a se descobrir, a se aceitar, finalmente...