Capítulo II

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Três dias se passaram desde que Igor faleceu. Três dias cinzentos. Eu não estava preparado para o que tinha acontecido, era difícil lidar com a perda de praticamente minha única ligação com o país. O "Polaco" pediu licença do seu serviço e se manteve deitado na cama de seu amigo desidratando.

- Você precisar comer. - Disse preocupado com o jovem, levando-lhe um lanche e deixando no criado mudo, mas ele aparentava não ter forças. Eu não sabia como ajudá-lo pois eu também me encontrava perdido. - Vou trabalhar, voltar no almoço ver você, okay?

- Não precisa Júnior. Pode ficar tranquilo.

Eu não conseguia ficar tranquilo. Nesses três dias, era só ficar um momento sozinho que eu desabava, mas não queria piorar a situação, queria mostrar que era forte, apesar que agora sem a ajuda de Igor via frustrado meus planos de trazer meus pais e minha noiva para um lugar mais seguro.

- Ibrahim, você não precisa vir trabalhar essa semana.

- Preciso chefe.

- Não Ibrahim, eu vejo que você quer ser mais forte do que consegue, você tem que ter este tempo de luto. Eu conheci Igor, ele foi um funcionário bom, mas como pessoa ele era excelente. Eu sei de tudo que ele fez para te ajudar, e eu não quero e nem vou permitir que você continue trabalhando nessa situação.

- Mas chefe...

- Não Ibrahim. O Igor me explicou toda a situação quando pediu para você trabalhar aqui, e você está muito abalado ainda, todos nós estamos, ele era muito jovem, mas eu não quero que você distraído se acidente. Tire o resto dessa semana de folga e vamos ver como você estará segunda-feira. Você é um bom rapaz.

Não aguentei mais segurar as lágrimas e desabei na frente do meu chefe, no meio do pátio que conversávamos. Ele me acalmou e pediu um táxi.

Assim como tinha dito, cheguei na hora do almoço, fui para o quarto e parecia que o Polaco não tinha movimentado um dedo sequer. O lanche intocado, o lençol molhado, um pilha de papel higiênico ao lado da cama.

- Você não comer lanche. Precisar comer!

Era estranho ver um homem crescido como ele rendido daquele jeito. Vi que o loiro não iria comer mesmo, descartei a hipótese de oferecer um almoço. Sentei no chão e encostei na cama próximo de onde se encontrava.

- Igor me falar de você quando na Síria. - Seus olhos chorosos me fitavam, eu tinha sua atenção - Me dizer que morar com um grande amigo. Que vontade era de abrir loja de videogame com você pra jogar durante trabalho.

O jovem pela primeira vez teve uma reação, deu um sorriso cheio de lágrimas. Decidi continuar:

- E dizer que vender coxinhas também, porque coxinhas dele ser deliciosas. Me falar também que eu poder trabalhar junto e fazer esfirra. Igor gostar minha esfirra.

- Você fez esfirra pra ele? - Perguntou curioso.

Polaco assim que o assunto começou a se desenrolar, sentou-se ao meu lado encostado na cama me contando boas lembranças e planos doidos que os dois tinham juntos. O rapaz perdeu um irmão, era praticamente seu único familiar já que seus pais não falavam com ele.

- Amigo, Igor não querer que você triste assim. Tomar um banho, comer restaurante aqui perto.

Ele se animou moderadamente. Fomos ao restaurante, comemos pouco, falamos menos ainda. Parecia que tudo o que eu tinha conseguido animá-lo havia se dissipado. Como costumo comer rápido terminei primeiro e fiquei vendo ele brincar com a comida, até que em um estalo ele me olhou com os olhos brilhando.

Seu Poder Sobre MimWhere stories live. Discover now