Prólogo

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Era uma noite comum, sem nuvens e com muitas estrelas sobre o céu de Chrommadia. O Vento uivava forte, levando consigo uma brisa fresca de noite de outono que amenizava a temperatura das ruas — já vazias devido ao tarde horário — do reino. A cidade estava calma. Os pássaros descansavam em seus ninhos e as pessoas se preparavam para dormir e recuperar suas energias para o próximo dia que estava por vir.

Bem, era uma noite comum para a grande maioria da população do reino.
         No enorme castelo a noite era agitada. Algumas horas mais cedo a rainha de Chrommadia, Melian Helflon, havia entrado em trabalho de parto para dar luz aos seus dois primeiros bebês, os gêmeos Alexander e Ferdinand, e após o parto, todos no castelo cantavam felizes, bebendo e festejando o nascimento dos futuros reis. Todos exceto Victor, o comandante da Guarda Real de Chrommadia.

— Vamos Victor, relaxe um pouco! — disse Alan, um dos soldados mais velhos de Chrommadia, caminhando ao lado do general pelos corredores mal iluminados. A caneca de cerveja pendendo em sua mão. — Você leva seu trabalho muito a sério!

Victor vestia uma armadura diferente, inteira prateada com poucos detalhes em vermelho e uma capa negra nas costas que o ajudava a se proteger do vento. Possuía apenas trinta anos e tinha os cabelos castanhos curtos que se repartiam ao meio, olhos negros e uma pele clara. O nariz era arrebitado e a boca fina.

— É por isso que eu comando as tropas e você me obedece — retrucou Victor em tom de brincadeira. Então fechou a cara e continuou: — Você sabe que não posso, Alan. Alguém tem de estar preparado enquanto vocês festejam.

O velho soldado deu de ombros e bebeu um gole de sua caneca.

— Se não quiser beber, tudo bem, mas você sabe tanto quanto eu que nada vai acontecer aqui. Estamos protegidos.

— Eu sei que estamos, mas ainda assim prefiro continuar sóbrio.

— Está bem! Vou parar de insistir! Só quero que relaxe um pouco, meu amigo. Você está tenso desde que a bolsa da rainha estourou.

Claro que estou. Ela é praticamente uma mãe para mim.

— Tenho muito carinho por ela, não tem como não me preocupar.

— Eu te entendo. Você foi criado por Joseph e Melian desde que era um bebê. Lembro do dia que Joseph chegou à Chrommadia com você nos braços. Seus pais...

— ...haviam morrido, eu sei — interrompeu Victor. Já tinha ouvido aquela história antes. — Joseph me contou tudo. Mas não me importo, ele e Melian me criaram como um filho. Nunca senti falta de meus pais.

O velho Alan assentiu.

— Joseph é um bom rei. Você teve sorte dele ter te encontrado.

Muita sorte.

— Sim, eu tive.

Os dois passeavam pelo quarto andar do castelo, onde as janelas encontravam-se fechadas e o tapete vermelho mais parecia laranja debaixo das luzes incandescentes. Raramente outros soldados passavam por eles e Victor não gostava nem um pouco daquilo. Deviam trabalhar ao invés de beber.

— E como está sua mulher? — perguntou Victor, virando num corredor.

— Está bem. Minha filha começou a ajudá-la na padaria dias atrás! Você precisa experimentar o pão recheado que elas fazem.

O estômago de Victor roncou. Não comia nada desde a hora do almoço.

— Você sempre falou desse pão, mas nunca trouxe um para nós comermos.

Alexander Helflon: GenesisOnde histórias criam vida. Descubra agora