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A casa estava barulhenta. Todos corriam, atando nós em suas vestimentas e reforçando o falso rubor em suas bochechas. Jungkook estava lá, o mais novo entre os funcionários do prostíbulo. Passava os dedos entre os cabelos escuros, os penteando para trás como sabia que os clientes gostavam.

Como aquele cliente gostava.

A sombra do sorriso que surgiu em seus lábios com a lembrança da gentileza do belo rapaz logo sumiu com a presença de Jimin, que entrara no espaço com toda a glória de sua beleza. O mais caro entre eles. O mais requerido entre eles.

O escolhido de todas as noites por aquele cliente.

Enervou-se o suficiente para esquecer de respirar, e procurou não olhar para o rapaz, recordando de suas palavras.

- Fique longe do Sr. Kim.

A voz carregada de sotaque francês fora o que bastou para que Jungkook não mais se aproximasse do homem gentil que sempre frequentava o local. Sentia falta das palavras agradáveis e do perfume refrescante que ele carregava. Era incomum achar alguém tão doce num ambiente tão hostil.

Mas Jungkook achara. E já sentia falta dele.

Uma vez prontos, todos desceram para o bar. As damas em belos, porém baratos, vestidos. Os rapazes em finas blusas de seda falsa. Prontos para o trabalho.

E lá estava ele.

Sentado na mesma mesa, tirando a aliança do dedo e escondendo-a no bolso interno do casaco. Aguardando aquele que sempre o satisfazia. Aquele que não era Jungkook.

O garoto pensou em se aproximar. Gostava de conversar com Kim. Ele nunca lhe fora desrespeitoso, apesar do ofício de Jungkook carregar maus tratos como parte do contrato, e sempre falava sobre as viagens que fazia e o lugares que via. Permitia que Jungkook viajasse em suas palavras, nas ilusões que criava de um dia conhecer o mundo.

Olhou ao redor e não viu Jimin. Pensou que talvez ele ainda estivesse no andar de cima. Resolveu arriscar e se aproximar do homem, que sorriu lindamente quando o enxergou, fazendo o coração de Jungkook aquecer.

- Achei que não falaria comigo por mais uma noite – provocou Kim, batendo no espaço ao seu lado para que Jungkook sentasse com ele – Faz vários dias que não conversamos.

- Sinto muito – respondeu o garoto, com as bochechas ainda mais vermelhas – Estive... ocupado e não pude me aproximar.

- Tem certeza de que foi isso? Fiquei preocupada de ter ofendido você de algum modo. Espero não ter sido desrespeitoso...

- Não! – Jungkook notou a urgência com que respondeu e baixou os olhos – Não me ofendeu de modo algum, eu realmente apenas estava ocupado. Mas senti falta de nossas conversas.

Kim segurou a mão do garoto, o puxando para que chegasse mais perto, e abaixou a cabeça na direção dos olhos de Jungkook.

- E eu senti a sua falta. Não sabe o quão bem sua presença me faz.

- Sr. Kim...

- Espere, por favor. Eu estou no meio de um rompante de coragem e não quero perder a oportunidade – Jungkook respirou fundo, olhando com medo na direção de Kim, e sorria em meio ao nítido nervosismo – Estive pensando em tudo o que conversamos, em como somos parecidos. E em como quero que essas conversas durem para sempre, em como quero conhecer melhor você. E que você me conheça melhor também.

- O que está falando, Sr. Kim?

- Venha comigo, Jungkook. Em minha próxima viagem. Vamos descobrir um lugar novo juntos. E no fim, fique comigo. Não volte mais pra cá. Esteja ao meu lado pelo resto de meus dias para que possamos sempre planejar a próxima viagem, a próxima descoberta.

As mãos de Jungkook tremiam e sua garganta parecia inchada, o impossibilitando de respirar adequadamente. Não conseguia se mexer, assim como não sabia o que falar. Tantas coisas cruzavam seus pensamentos, tantas possibilidades e empecilhos.

- Você é casado, Sr. Kim. Nunca poderemos ficar juntos.

- Meu casamento é uma fachada e todos sabem.

- Se não há sua esposa, há Jimin – Kim franziu o cenho em confusão e Jungkook respirou fundo – Ele é quem sempre o satisfaz.

- Não há sentimentos entre Jimin e eu. Sabe disso, Jungkook.

- Mas você nunca me escolheu.

Mesmo que ele tentasse disfarçar, Kim conseguiu ouvir a mágoa em sua voz. E apenas sorriu – Ah, Jungkook. Como consegue ser tão doce? Eu jamais quero que pense que não o desejo.

- Como posso pensar que não se jamais escolheu a mim?

- Você merece ser mais que uma noite, Jungkook. Eu te quero para todas as noites. E dias.

- Sr. Kim, eu...

- Não responda agora. Pense. Eu conversarei com Jimin e o avisarei que não voltarei mais aqui.

- Mesmo que eu diga não?

- Mesmo que diga não. Mas se disser que sim, minha última visita a este lugar será para te buscar.

Kim levou uma das mãos a bochecha de Jungkook, acariciando com uma leveza que o garoto nunca sentira. Seus olhos ameaçaram derramar finas lágrimas, mas eles se esforçou para que elas não caíssem, fechando-os para que a sensação daquele afeto se ampliasse. Uma brisa rápida soprou em seu rosto e ele sentiu os lábios de Kim em seus olhos, limpando as lágrimas, e depois em seus lábios, apenas roçando. Um beijo suave e gentil, como todos os gestos de Kim para com Jungkook.

Quando se afastaram, Jungkook viu Kim levantar-se e andar na direção de Jimin, que apoiava o cotovelo no fim do corrimão da escada, na mão uma taça cheia. Jungkook sabia que ele vira tudo, mas não se importou. Confiava em Kim.

Apesar de mais uma noite, não ter sido escolhido por quem amava.

Olhos FechadosWhere stories live. Discover now