Meus Melhores (ou piores) Textos

Madrugada

Após tanto tempo, eu resolvi mandar uma mensagem. Carregada de tudo que nós não dissemos durante  todos esses anos, todas as emoções que não vivemos juntos, todas as lágrimas não derramadas por orgulho.
Sim, fui levada pelo álcool da terceira dose de uísque, me lembrando que você sempre dizia que eu era fraca para bebida, e eu nunca acreditava nessa afirmativa tão verdadeira. Depois da segunda mensagem, já colocando o coração onde devia reinar a mente, eu te liguei.
Sim, às três da manhã, te liguei bêbada, como se eu tivesse o direito de te incomodar depois de sumir da sua vida por tanto tempo.
Você me atendeu com aquela voz sonolenta, e como por encanto eu me apaixonei novamente por você. Sua voz fraca e assustada deixou meu coração batendo mais forte, fez surgir lágrimas de saudade em meus olhos.
Logo em seguida eu escuto uma voz feminina ao fundo, perguntando se estava tudo bem. Você respira fundo e diz que sim, mas que a ligação é importante. Ouço a janela do seu quarto abrir, e sei que você foi para o telhado, como a gente fazia antigamente. Você diz meu nome confuso, perguntando se está tudo bem, e eu só consigo dizer que sim, e pedir desculpas. Você acha que o pedido é por causa da ligação, mas o pedido carrega tudo o que eu fiz com você. Ir embora sem deixar rastros, parar de atender ligações, sumir e não responder mensagens, seguir minha vida longe de você. É por tudo isso que eu peço desculpas, mas você não percebe.
Após dizer que foi sem querer mais uma vez, escuto a voz novamente, perguntando se você ia demorar a voltar pra cama. Meu coração dói nesse momento, mas eu entendo que seguir a vida foi a maneira que você encontrou de se livrar da minha lembrança.
"Volta pra cama, eu não devia ter ligado.", eu não consigo falar nada além disso, e desligo, cheia de amargura e arrependimento.
Pego meu copo e me sirvo com mais uma dose. Afinal, a noite estrelada sem você vai ser difícil.