C2: " A calmaria antes da tempestade"

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- Você tem que entender a nossa situação, Ravy! - digo mais tarde tentando manter a tranquilidade pois o mesmo chega em casa cheirando a maconha, nos encontramos na cozinha apertada da nossa casa - suas atitudes ou melhor, seu vício está destruindo a família. Não percebe?

- Desculpa, Liz é que eu... eu não consigo parar. - Se explica deslizando as mãos pelos fios ruivos, Ravy é baixo assim herdando a altura da família, tem seus 27 anos e olhos verdes. Eu poderia dizer que ele já teve um corpo de causar inveja, mas agora o mesmo estava destruído, quase que com uma aparência esquelética.

Baixei minha guarda quando o vejo derramar lágrimas enquanto senta na cadeira e enterra as mãos no rosto. Me aproximo pondo as mãos em seus ombros caídos.

- Eu já disse, Ravy e vou repetir que a minha ajuda você já tem, porém o problema é que você a rejeita. Isso faz eu me sentir uma inútil.

- Desculpa. - sua voz sai trêmula me causando arrepios - o problema é que não me encaixo naquela grupo de apoio.

- Tenho certeza que o problema só está em você se adaptar porquê eles são ótimos.

- É que eles... - continua me olhando com o rosto vermelho, mas não mais que os olhos. - eles não são o tipo de grupo de apoio normal, eles só falam de Deus e tal, que Deus vai me ajudar nisso ou naquilo e serei verdadeiro... Isso não está funcionando.

- Então quer dizer que o seu problema é com Deus? - indaguei incrédula.

- Sim. Agora me diz Liz, já parou pra reparar na nossa situação? Onde está Deus vendo isso tudo? A Hadassa tem câncer, eu sou um viciado, o papai não encontrou um emprego, a mamãe só faz chorar e reclamar da vida e você   só ganha o suficiente pra garantir que não passemos fome, mas e quando a temporada de cruzeiros acabar em, o que vai ser de nós? Agora me diz onde está Deus?

- Não fala assim Ravy, se tem alguém que tem culpa por passarmos tanto sufoco esse alguém não é Deus. - sentei na mesa esticando a mão por cima da mesma até pegar suas mãos trêmulas. - Não o culpe. Nós não o entendemos, mas precisamos confiar nada acontece por acaso Ravy, um dia nós vamos entender e eu espero do fundo do coração que você dê uma chance para o grupo de apoio pode ser?

- Não sei não.

- Pela família? - insisti.

- Não prometo nada, mas vou tentar.

- Obrigada maninho, mas espero que esse vou tentar comece hoje pode ser?

- Sim eu vou tentar - diz contrariado.

Ergui uma sobrancelha.

- Sim. Hoje.

Abraço Ravy dando um beijo no seu rosto, mesmo com seus defeitos ele é um bom irmão. Apesar das dificuldades minha família sempre procura manter a união entre os membros da mesma. Corro até o quarto e me vesti para ir ajudar o pai da Beatriz no restaurante à noite, decidi ir cedo porque ainda temos que arruma-lo antes de abrir.

Tenho certeza que a Bia não está nem um pouco sóbria já que ficou para a farra final do tuor. Detesto ficar longe da minha família, mas nada é comparado a passar mais sete dias no mar do Pacífico e isso é o que vai acontecer amanhã cedo. Nós não temos folga a não ser entre contratos, mas o chefão nos deu um... quer dizer não é bem um dia já que isso vai acabar logo. Amanhã durante o cruzeiro no segundo dia de viagem será comemorado o aniversário de 15 anos da filha mais nova do patrão.

Desço as escadas com um vestido preto de mangas curtas, um tênis branco e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo. Dou um abraço em cada uma das pessoas que amo e vou rumo ao restaurante que não fica muito longe.

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