Nilton já andava à algumas horas sozinho, talvez 8 ou 9, desde que se levantou naquele dia.
Havia recém chegado a uma cidadezinha de interior, as ruas não eram asfaltadas, apenas paralelepípedos, e tanto a esteada como as calçadas eram cobertas de terra, e grama nascendo nas laterais da via onde aparentemente não passavam carros para poder matar o mato que nascia. Não havia nenhum prédio a vista, mas também não via o fim da cidade. Estava tudo calmo, só o barulho harmonioso da natureza, seus grilos e sapos fazendo um belo som de fundo para ele, como se cantando a sua chegada na cidade. Depois de percorrer algumas quadras, passando entre os destroços de carros batidos, janelas quadradas, objetos daqueles que saíram às pressas para fugir da onda que estava por vir, podia vir algumas roupas espalhadas, chinelos, fotos (como se na hora de sair o importante fora levado na mala e quando fossem sair da casa pegassem o que lembrasse algo do passado, geralmente fotografias da famílias), várias fotos e documentos na verdade. Um barulho foi ouvido do outro lado da rua, numa loja que parecia ser de mantimentos, supermercado talvez, mas muito pequeno, quase como uma quitanda. Nilton se escondeu atrás do lixeiro ao lado da rua e ficou espiando pela fresta entre ele e o poste. Nada conseguiu ver, mas o barulho continuava, parecia algo sendo revirado, como quando um guaxinim entra na sua lata de lixo seguindo seu olfato e fica revirando tudo em busca daquele pacote de pizza jogado fora no dia anterior. Depois de segundos observando e sem nenhum movimento visível, ele resolveu se aproximar, talvez fosse uma pessoa para ajudar, ou realmente um animal que pudesse matar sua fome logo a noite.
De trás da lixeira, correu agachado até um carro próximo, ainda em frente à loja, e depois mais dois, até chegar até o outro lado da rua. A única arma que possuía era um martelo que encontrara dentro de uma carro abandonado, tinha que servir. Pegou o martelo em mãos e correu abaixado até a vitrine, onde respirou fundo e olhou por sobre o ombro através do vidro. Bom sinal, nenhum movimento, mas o barulho continuava, sinal de que não havia sido visto. A porta da frente estava escancarada, mas não seria uma boa ideia entrar por ali, procurou então uma porta lateral ou nos fundos, seguindo pela lateral da loja. Havia uma porta na lateral, mas estava fechada, Nilton segurou a maçaneta e girou devagar, com o martelo firme na outra mão, até ver que o trinco da fechadura destrancar a porta, e começou empurrar devagar para abrir. Tudo normal ainda, o barulho continuava dentro da loja e a porta abria devagar sem ranger. Quando estava totalmente aberta o barulho parou, assim como Nilton, com a mão na maçaneta. Foi quando se arrependeu de ter ido pela lateral, bem no fim do dia, onde ao abrir a porta a luz do sol foi iluminando a loja, esse foi seu erro, agora tinha que esperar para ver o que aconteceria...
- Vai fechar a maldita porta Thomas, já disse para colocar algo na frente para não abrir sozinha, logo alguma coisa entra e vai nos pegar de surpresa.
Ao ouvir isso, Nilton deixou a porta como estava e saiu correndo para se esconder, ficou atrás de uma das lixeiras ao redor do beco que estava e esperou até a porta se fechar, e pode ouvir algo sendo arrastando lá dentro – aparentemente "Thomas" dessa vez fez o que o outro cara pediu. Quando os barulhos retomaram, Nilton se levantou e buscou alguma forma de olhar para dentro da loja, ver o que estas pessoas estavam fazendo. Caminhou abaixado até os fundos da loja onde avistou janelas mais altas, só que não conseguiria subir até lá, e não tinha nada ali que pudesse subir, até havia mas teria que arrastar, e ao fazer isso certamente todos dentro da loja – que até agora eram 2 homens – ouviriam. Descartou essa ideia e foi para o outro lado da loja, ali escondido atrás da parede dos fundos, viu que pela frente não havia acesso a este lado, pois tinha uma grade, e como do outro lado da loja, aqui também tinha uma porta e esta estava aberta, com um pedaço de madeira mantenho-a assim. Entre ele e a porta, havia uma bicicleta encostada na parede, não era velha e acabará de ser utilizada, pois os pneus estavam sujos de barro ainda molhado, talvez fossem das pessoas dentro da loja. Como o barulho continuou, Nilton foi se aproximando com cuidado da porta, agora com mais cuidado pois não tinha nenhuma lixeira nem qualquer coisa que poderia se esconder, se alguém aparecesse neste instante na porta, certamente o veria.
Enfim chegou mais à frente em silencio, e ficou atrás da porta, onde conseguiria ver pela fresta da porta aberta, infelizmente lá dentro era escuro e levou um tempo para seus olhos se acostumarem com a escuridão. Quando sua visão se adaptou pode ver um par de botas no chão, subindo para uma calça verde escuro um pouco larga demais, e de repente viu aquele pedaço de cano preto curto apontando em sua direção pela fresta, aí já era tarde demais quando ouviu uma voz:
- Hey Thomas, pegamos nosso coelho curioso, pode vir aqui.
Como Nilton não tinha percebido a armadilha desde o início? Do nada um barulho começa num local atrativo, que tem todo tipo de mantimentos, e só há uma entrada e uma saída, cenário perfeito para uma emboscada. Depois que caiu a ficha de que foi pego, se sentiu muito estupido, era uma situação tão lógica, e gravou na memória que seria a última vez que seria pego de uma maneira tão simples.
De trás da porta saiu o homem com a arma apontando para ele, com as botas e calças larga, sem camisa e segurando aquele .38, entre 30 e 35 anos, e em seguida apareceu um rapaz mais jovem, na casa dos 13 ou 14 anos, deveria ser Thomas, tinha roupas melhores, que deviam ter pego de alguma outra loja invadida.
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Salvando Pedro
Ficção CientíficaHistória paralela a "Nilton no caminho do herói coadjuvante".