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Mas o tempo passou, e a cada semana, eu tentava me obrigar a renovar as esperanças de que ela ligaria. Primeiro achei que estava abalada demais, depois que Thomas não cumprira a palavra, por último, pensei que havia morrido. Não era possível que ela ficasse distante todo esse tempo sem um motivo plausível.

Passou-se um mês, dois meses, três... quatro... um ano.

Passou-se um ano inteiro e ela não havia entrado em contato. Depois desse tempo, desisti de esperar. Mas não abandonei o amor que sentia por ela.

Nesse ano, construí uma boa amizade com meus pais, agora éramos mais unidos. Mamãe entendeu que eu era adulto, não podia passar a vida inteira sob sua tutela. Eventualmente ela interfiria, mas desistia depois de um tempo. Passei a estudar novamente, mesmo que por puro capricho, decidi aprender português. E logo depois me arrependi, era a língua mais complicada que eu já havia visto. Mas segui em frente.

Comecei a trabalhar, e devo admitir que ganhar meu próprio dinheiro e ter minha rotina era recompensador. Comprei meu próprio apartamento e comecei a me virar sozinho. Aprendi a fazer café.

Não posso mentir nesse ponto, eu me envolvi com algumas mulheres, mas acabava comparando-as com Carol. Mesmo depois desse um ano, eu me lembrava do cheiro dela, do seu beijo, dos cabelos e dos sorrisos. Todos os mil sorrisos e risadas, um para cada momento de sua vida ou estado de espírito. Carol era única, e era ela que eu queria.

Dois anos... três anos... quatro anos depois daquela primeira noite no pub eu estava solteiro. Eu desistira de Carol e segui em frente. Tinha noivado e quase casado, mas desmanchei quando percebi que Mellanie não era a mulher da minha vida. Mamãe quase enlouqueceu quando desisti depois dos convites já terem sido enviados, mas quando falei que eu jamais seria feliz, ela parou de esbravejar. Mellanie nunca mais falou comigo, e não posso culpá-la. Já papai sorriu, como se soubesse de algum segredo.

Houve uma noite, porém, que George me chamou para jantar, pois fazia quase um ano que não o via. Eu aceitei, sem maiores desconfianças, mas quando cheguei ao restaurante, vi que tinha mais um homem na mesa com ele.

- Phillip! – George me abraçou. – Quanto tempo! Este é Carl.

Eu cumprimentei o homem de meia idade educadamente. Agora estava curioso. Nos sentamos e fizemos nossos pedidos, começando uma conversa amena. Somente quando os pratos chegaram é que George introduziu o assunto a que fora chamado.

- Phillip, Carl é um detetive particular, e a pedido do seu pai, ele procurou Carol no Brasil. Ele a achou.

Fiquei sem ar. Depois de quatro anos, devo admitir que a memória enfraquecera. Eu não lembrava mais do rosto dela, nem de sua voz. Só quando ele tocou no nome dela, percebi que não lembrava mais de seus mil sorrisos. Eu me lembrava da presença dela, se ser feliz com ela, e ainda era profundamente agradecido por ter me ensinado a ver a vida, mas não me lembrava de quem ela era.

Foi um choque perceber que não havia guardado quase nada dela comigo. Quem eu era afinal de contas? O homem que jurara amor e desistira da procura. Quem eu era? Eu deixei a vida seguir, e não me importei de correr atrás.

E agora que essa consciência me atingiu, percebi que todo o tempo que passei por relacionamentos que não avançaram, foi por ainda estar preso à memória da mais importante mulher da minha vida. Eu ainda amava Carol, e só percebi isso quando seu nome foi tocado.

Meu peito apertou, e fiquei levemente sem ar. Parecia que tinha algo novo dentro de mim, uma vontade que me rasgava. Um sentimento avassalador, e extremamente dolorido.

Saudade.

Era saudade o que eu sentia. Eu estava sufocado de saudades.

Tomei toda a taça de vinho antes de conseguir falar.

Um Conto sobre o ImprovávelWhere stories live. Discover now